tag:blogger.com,1999:blog-7069545156414799962024-03-05T02:01:38.956-08:00O UnitaristaBlog do Rev. Gibson da Costa. Os objetivos deste blog são compartilhar uma perspectiva cristã comprometida com a graça extravagante, a inclusão radical, e a compaixão inflexível; abordar a fé cristã através das lentes da teologia liberal cristã, e num espírito ecumênico e questionador; e contribuir com a voz daqueles cristãos que rejeitam o dogmatismo cego e a intolerância religiosa em sua jornada espiritual e, consequentemente, em suas relações sociais. Unitarismo, Cristianismo Unitarista.Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.comBlogger334125tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-5381739693592705502020-12-23T21:11:00.000-08:002020-12-23T21:11:11.133-08:00Uma breve reflexão natalina<p>
</p><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Este foi um ano difícil para a imensa maioria do mundo. Se não
diretamente, ao menos indiretamente fomos todos afetados pelas
consequências da epidemia de COVID-19, especialmente os mais
desprivilegiados e vulneráveis do mundo. Especificamente no Brasil,
os privilegiados que viajam internacionalmente, tendo se contaminado
no exterior, voltaram ao país trazendo em seus corpos uma mortal
armadilha para uma imensa maioria de menos privilegiados vulneráveis.
Esses menos privilegiados acabaram se tornando as principais vítimas
das vantagens do capitalismo que outros usufruem.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">O
capitalismo, mais uma vez, mostrou a pior de suas contribuições
para o mundo. O mundo da globalização capitalista –
independentemente de ser o capitalismo dum Estado autoritário ou o
da ilusória iniciativa privada – não apenas ajudou a alastrar um
vírus, mas também a dificultar o acesso à cura tornando-a
exclusividade de poucos. O mundo da busca incessante pelo lucro, das
viagens turísticas internacionais, do consumo desenfreado, da
exibição das imagens de riqueza nas vitrines das chamadas redes
sociais é também o mundo no qual a vacina – construída, em
parte, com o dinheiro arrecadado pelos impostos pagos pelo povo, cuja
maioria vive em situação de menor privilégio – está disponível
a uns poucos países do mundo.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Sou
um otimista, mas não sou tolo. Apesar de – seguindo os mitos do
calendário – esperar o melhor para o ano que se inicia, sei que as
dificuldades ainda serão imensas para todos, especialmente para
aqueles mais vulneráveis entre nós – onde quer que estejamos. Num
mundo no qual alguns cidadãos dos países mais ricos do mundo já
têm acesso a uma vacina, outros cidadãos – frequentemente nesses
mesmos países – sequer têm o que comer ou um teto sobre suas
cabeças. Assim, meu otimismo deve ser controlado e crítico.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Mas
o que tudo isso tem a ver com o Natal?… Bem, para mim, tudo.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Se o
Natal ainda tem algum sentido religioso para os cristãos, então
deveria servir como um chamado ao serviço – e por “serviço”
me refiro ao que alguns chamariam de “ação política”. Como as
celebrações festivas de qualquer maneira estarão muito limitadas
este ano, deveriam dar lugar, então, ao contínuo cuidado daqueles
mais vulneráveis entre nós (os mais pobres, órfãos, doentes,
desabrigados, desenraizados etc), às manifestações de protesto
para com as autoridades políticas (e-mails, cartas etc), e ao
comprometimento com a [auto]proteção contra a contaminação. E
essas ações não podem ser limitadas a uma data festiva; devem ser
permanentes.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Resistir
à indiferença que se tornou característica do universo capitalista
– a cultura do “você tem o que merece” – e construir a
mudança (com o cuidado, com o voto, com os protestos, com a recusa
ao silêncio corrupto) é melhor do que celebrações festivas de
datas especiais com presentes acompanhados dum “Feliz Natal!”. O
Natal, afinal, celebra o nascimento dum personagem que teria
desafiado as regalias de grupos privilegiados que enriqueciam às
custas da exploração dos mais vulneráveis; um personagem que,
supostamente, ensinou um caminho de cuidado, perdão e cura. Como
poderíamos, então, celebrar o mito do nascimento desse personagem
ignorando o que o mesmo supostamente ensinou?</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Meu
otimismo, assim, é restaurado com um recompromisso para com minha
responsabilidade com o bem-estar de meu mundo, dos demais seres
humanos, dos meus “pequenos irmãos”. Esse recompromisso pode se
manifestar em ações como:</p>
<ul><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
exigir dos governantes eleitos que encontrem uma solução e
disponibilizem os meios essenciais para que todos os cidadãos e
cidadãs tenham acesso aos cuidados necessários;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
boicotar as empresas e organizações que criam obstáculos para que
os mais pobres e vulneráveis tenham acesso à saúde;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
afastar-se daqueles que colaboram com as redes de desinformação,
mentiras e ódio.</p>
</li></ul>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Essas,
em minha compreensão, são atitudes inseparáveis de minha visão
religiosa e política de mundo, e, assim, estão profundamente
ligadas ao sentido que dou ao Natal. Jesus de Nazaré, afinal, parece
ter sido um homem de ação e não apenas um recitador de orações.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Assim,
cuidando uns dos outros e resistindo aos poderes do desprezo pelo
valor da vida humana – a vida daquelas pessoas que vivem aqui e
agora, à nossa volta – estaremos, de fato, celebrando algo muito
mais importante do que uma data simbólica: tornaremos o mundo à
nossa volta um domínio divino, construindo o “Reino de Deus”
aqui e agora. É esse Natal que me interessa e é esse Natal que
desejo a todos – um Natal de recomeço, de reconstrução, dum
otimismo que leve à ação.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Que
a data na qual se celebra o nascimento dum profeta do “shalom”
divino nos inspire também a sermos construtores dum novo mundo, de
todas(os) e para todas(os)!</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Feliz
Natal!</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">+Gibson</p>
<p><style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }</style></p>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-10139483682097774922020-11-14T06:49:00.007-08:002020-11-14T07:02:28.680-08:00Religião e Política nas Eleições – Ou: Como nossa imaginação religiosa influencia nossas escolhas políticas
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Minha orientação religiosa secularista não é segredo para
absolutamente ninguém. Sou um convicto defensor da estrita separação
entre Igreja/religião e Estado. De igual maneira, defendo a estrita
separação entre a religião e os palanques eleitorais, e considero a
instrumentalização política da religião como algo inaceitável
num Estado laico. Minha visão religiosa, entretanto, apesar de
secularista – e, em minha própria compreensão, humanista –, não
deixa de influenciar a forma como compreendo o mundo social e,
consequentemente, minhas escolhas políticas.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">A
religião, para mim, não é divina nem é sobrenatural. É, sim, uma
construção humana, enraizada nas estruturas socioculturais e nos
contextos históricos nos quais nos encontremos. Nossa “imaginação
religiosa” – para apropriar-me, talvez indevidamente, dum
clássico neologismo sociológico de C. Wright Mills – tem muito a
dizer sobre nosso lugar social, da mesma forma como nossas visões
políticas, e tem, obviamente, um reflexo nas escolhas eleitorais.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Esse
elo filosófico entre o que se professa religiosamente e em quem se
vota pode, obviamente, passar muito próximo do limite ético daquele
conceito de <b>laicidade do Estado</b> – quando, por exemplo, se
utiliza a filiação/lealdade religiosa como moeda para o voto (é só
pensar nos incontáveis “Pastores/as”, “Missionários/as”,
“Irmãos/ãs”, “Padres”, etc, que se candidatam a cargos
eletivos!) –, mas todos nós, religiosos ou irreligiosos, somos
influenciados pela carga ideológica de nosso meio social, consciente
ou inconscientemente. Ou seja, independentemente de quem sejamos,
todos nós falamos, ouvimos e votamos a partir dum lugar social.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Em
se tratando do Unitarismo, nossa história oferece muitos exemplos
dessa relação entre religião e política. Os unitaristas, afinal,
sempre viram sua fé como uma fé politicamente orientada. Nossas
atitudes para com nosso próprio dogma do valor e dignidade humanos,
da liberdade absoluta de opinião, do desafio ao autoritarismo
político e religioso, do questionamento ilimitado de nossas próprias
crenças, tornam nossa tradição religiosa uma tradição
socialmente politizante – apesar de não necessariamente
partidária, considerando a relativa diversidade de filiações
políticas entre nós (de libertários a comunistas, e toda a
diversidade entre as duas).</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Quando
penso nos exemplos do diálogo positivo entre religião e política,
no contexto unitarista, não posso deixar de pensar no radicalismo
liberal anticonformista de <b>Joseph Priestley</b>, na Inglaterra do
século XVIII; na destemida defesa dos direitos das mulheres por
<b>Abigail Adams</b>, no período da Revolução Americana, no século
XVIII; no radicalismo antiescravagista de <b>Theodore Parker</b>, no
abolicionismo barulhento de <b>Samuel J. May</b> e nos esforços
antiescravistas de <b>John Quincy Adams</b>, nos EUA do século XIX;
no trabalho de <b>Susan Brownell Anthony</b> para que as mulheres
pudessem votar e participar da vida política, também nos EUA do
século XIX; na labuta de <b>Sandra Ferreira</b>, no Brasil do século
XX, pela proteção das mulheres contra a violência doméstica; no
imenso esforço de <b>Margaret Barr</b> para construir pontes de
diálogo entre diferentes culturas, na Índia do século XX; na
liderança de <b>Ethelred Brown</b> do movimento de Humanismo Negro
na Igreja Unitarista do Harlem, nos EUA do século XX.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>Todos
esses unitaristas materializaram suas perspectivas religiosas em suas
ações políticas no mundo, em favor de todas as pessoas e não de
si próprios ou de outros unitaristas apenas. É nesse sentido que a
relação entre religião e política pode ser positiva, mesmo num
contexto de separação entre religião e Estado.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Em
se tratando da relação entre religião e eleições, nem sempre é
fácil manter uma coerência absoluta entre o que professamos e o que
escolhemos eleitoralmente. Pessoalmente, me pergunto sempre como
escolher um/a candidato/a a qualquer cargo eletivo que defenda pelo
menos a maioria de minhas posições quando essas não são as
posições das/os candidatas/os disponíveis?</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Pessoalmente,
observo alguns aspectos relevantes:</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<ul><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quem é a/o candidata/o? Qual o seu histórico político e o de seu
partido? Quem faz parte de sua equipe?</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quem patrocina sua campanha? E, mais subjetivamente, que interesses
estariam por trás desse patrocínio?</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quais as suas propostas específicas?</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Qual o seu comportamento para com seus oponentes políticos? Como
desenvolveu sua campanha?</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O que diz e como a/o candidata/o lida com os temas que mais me
interessam:</p>
<ul><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
democracia e o Estado Democrático de Direito;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
honra e respeito ao valor e dignidade humanas;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
diversidade sociocultural;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
combate ao racismo, machismo/chauvinismo, xenofobia, homofobia;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
proteção das crianças e dos adolescentes;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
proteção do meio ambiente;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
educação pública, gratuita e democrática de qualidade para
todos;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
ciência;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
seguridade social;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
renda básica universal;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
internacionalismo;</p>
</li><li><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
paz.</p>
</li></ul>
</li></ul>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Esses
são alguns dos elementos que levo em consideração em minhas
escolhas eleitorais e que se relacionam mais diretamente com minhas
perspectivas filosóficas e religiosas. A crença ou descrença
religiosa da/o candidata/o, sua religiosidade ou irreligiosidade não
a/o faz melhor ou pior candidata/o – da mesma forma que sua cor,
sua orientação emociono-sexual ou sua identidade de gênero. Sua
história de atuação, suas relações com outros atores políticos,
suas propostas e as ideias que defende são o filtro que utilizo para
selecionar a/o candidata/o para um cargo eletivo.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>Votar
é se comprometer com o presente e o futuro de toda a nossa
sociedade, em toda a sua diversidade. Quando votamos, assumimos a
responsabilidade de decidir o que afetará as vidas de mulheres e
homens, jovens e velhos, de todas as cores, de todas as des/crenças,
de todas as sexualidades, de todas as classes/status sociais; além
do que afetará as nossas próprias vidas e as de nossas famílias e
amigos. Por esta razão, independentemente de nossas visões
políticas ou lealdades partidárias, é importante votar
conscientemente.</b></p><b>
</b><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b><br /></b>
</p><b>
</b><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>Vote
com segurança e responsabilidade cidadã neste difícil ano de 2020!
O futuro de sua comunidade depende de sua escolha!</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">+Gibson</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-5041726688950604982020-10-25T12:40:00.005-07:002020-10-25T12:43:57.072-07:00Sexualidade, orientação sexual, identidade e espiritualidade<p>
</p><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Nós, seres humanos, somos animais sociais e, ao mesmo tempo,
relativamente conscientes de nossa individualidade. Carregamos em nós
o peso do que herdamos biológica e socioculturalmente, e – graças
ao que aprendemos em nosso meio sociocultural – construímos
percepções individuais sobre a realidade da qual somos parte.
Assim, não somos nem plenamente resultado do meio, nem plenamente
autônomos. Somos seres complexos, resultantes duma combinação de
herança e de criatividade.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Por
conta dessa complexidade, individualmente, não somos “definíveis”
como apenas uma coisa. Somos várias coisas ao mesmo tempo: emotivos,
inteligentes, espirituais, sexuais etc. Assim, não penso que
possamos ser <b>definidos</b> – porque a definição implica uma
limitação/circunscrição – unicamente como heterossexuais,
homossexuais, bissexuais etc. Cada um de nós é muito mais do que
uma descrição de por quem nos sentimos emocional e sexualmente
atraídos ou com quem nos relacionamos.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Pessoalmente,
nunca gostei dessas adjetivações identitariamente sexualizadas, não
porque me envergonhe de mim mesmo, não porque alimente discriminação
contra a sexualidade alheia, mas, simplesmente, porque sou muito mais
do que apenas um ser sexual. <b>Minha sexualidade não me define</b>
– ela é apenas um dos vários elementos que constituem minha
personalidade.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Sempre
acreditei que, no caso das minorias – apesar de identidades serem
importantes para a construção de laços comunitários –, as
identidades impostas também servem como instrumentos de
discriminação opressora e, consequentemente, como instrumentos de
exclusão. <b>Assim, </b><b>pessoalmente, </b><b>ser </b><b>identificado</b><b>
</b><b>como mizrahi-sefardi, d</b><b>esi, </b><b>mestiço, gay</b><b>,
</b><b>ou sei lá mais o quê, diz mais sobre como outros me enxergam
do que como eu mesmo me compreendo.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Muitos
adolescentes e adultos jovens gays, quando passam pela experiência
de “sair do armário”, frequentemente encaram sua sexualidade
como o aspecto mais importante de sua personalidade. E isso ocorre,
dentre tantas razões, por conta de sua própria descoberta tanto da
sexualidade em si quanto da discriminação socialmente associada à
homossexualidade – assim como do senso de pertencimento que uma
identidade pode oferecer. À medida que se fica mais velho, e se tem
mais experiências na vida, aquele adolescente ou adulto jovem pode
perceber que aquela definição identitária sexualizada não é
suficiente para “definir” sua personalidade – se é que uma
personalidade pode ser definida.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>A
maturidade pode nos mostrar que, além de sexuais, somos seres
políticos, somos seres intelectuais, somos seres emotivos, somos
seres artísticos, somos seres que carregam todos esses elementos
como pequenos tijolos que dão forma ao edifício que é nossa pessoa
individual – pessoa esta que, apesar de individual, é moldada num
contexto social/coletivo. Isto é, somos únicos e ao mesmo tempo
multidão; e essa unidade-multidão também é moldada pela outra
“multidão” a partir da qual surgimos como seres humanos.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Minhas
atuações – como Ministro de religião ou como professor – têm
estado comprometidas com o dogma básico de minha religião, que é a
afirmação do valor e da dignidade de cada ser humano e de toda a
humanidade. Esse dogma é o meu padrão filosófico e político para
minhas relações sociais. O ser humano – enquanto multidão e
enquanto individualidade –, em toda a sua diversidade e
complexidade, tem um valor e uma dignidade que devem ser honrados e
respeitados. E esse valor e dignidade independem de cor, sexo,
gênero, orientação emotiva/sexual, aparência, classe/status
social, ocupação, ou qualquer coisa que o indivíduo/coletividade
tenha feito.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Minha
fé está firmemente enraizada nessa convicção. Não em deuses. Não
em entes sobrenaturais. Mas no ser humano – em seu valor e em sua
dignidade. É só nesse contexto que ouso utilizar a metáfora
“Deus”. Minha eticidade está enraizada na tradição filosófica
que afirma o ser humano como fim, não como meio.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Assim, não há lugar, em minha visão de mundo, para [auto-]ódio
baseado em orientação emotiva/sexual. Não há lugar para negar a
outro ser humano sua humanidade em nome dum fantasioso deus que
espelha nossos próprios preconceitos. Dessa forma, a ética sexual
tem a ver com a dignidade humana, não com as supostas maldições de
deuses. O respeito ao valor, à dignidade e à liberdade (na forma da
autonomia consciente) do ser humano e de cada indivíduo é o que, em
minha visão, deve guiar a forma como lido com a sexualidade, assim
como com qualquer outro tipo de relação entre seres humanos. Pouco
importa a cor da pele, a nacionalidade, a língua, a identidade de
gênero ou a orientação emociono/sexual.</p>
<p align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">+Gibson</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p><style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }</style></p>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-14758610495881792102020-09-29T15:55:00.005-07:002020-09-29T15:55:53.591-07:00Inauguração do novo espaço da Igreja Unitária do Rio de Janeiro<p>
</p><p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
A inauguração do novo espaço da <b>IGREJA UNITÁRIA DO RIO</b> –
Rua Carius, 241, Campo Grande, Rio de Janeiro, RJ – ocorrerá em 10
de outubro de 2020, sábado, com dois eventos:</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<b><br />
</b></p><b>
</b><ul><li><p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<b>16h às 17h30 – Workshop sobre Liberdade Religiosa;</b></p>
</li><li><p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;"><b>
18h às 19h30 – Celebração.</b></p>
</li></ul>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br />
</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Para mais informações, visite a página da igreja no Facebook:
<<a href="https://www.facebook.com/igrejaunitariadorio/">https://www.facebook.com/igrejaunitariadorio/</a>></p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br />
</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
ou seu website, em: <<a href="https://igrejaunitariadorio.org/">https://igrejaunitariadorio.org/</a>>.</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br />
</p>
<p align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br />
</p>
<p><style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.1in; line-height: 115%; background: transparent }
a:link { color: #000080; so-language: zxx; text-decoration: underline }</style> <br /></p>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-83580983604878637472020-07-31T18:36:00.002-07:002020-07-31T19:19:01.739-07:00Morte e o que vem depois: uma resposta às questões sobre uma suposta vida pós-mortal
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Já escrevi muito que minha fé/espiritualidade se centra neste mundo
e, por isso, chamo-a de “<b>materialista</b>”. Com isso quero
dizer que <b>a vida – e sua razão de ser – encontra-se neste
mundo</b>; ou seja, ter “fé”, em minha compreensão, significa
ver-me como parte integrante deste mundo físico, material, concreto:
assim, meu viver e agir é no físico/material/concreto, através do
físico/material/concreto, pelo físico/material/concreto.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Sei
o quanto dizer isso pode soar controverso para religiosos em geral, das mais
diferentes tradições. Para muitos, afinal, religião, fé e
espiritualidade referem-se ao sobrenatural, àquilo que está fora do
mundo: e isso é bem demonstrado naquelas figuras discursivas que
criam um conflito entre o que chamam de “material” e o que chamam
de “espiritual” – identificando o espiritual como oposto do
material.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Para
muitos, das mais diferentes tradições religiosas, haveria um
domínio invisível, habitado por entidades espirituais. Para essas
tradições, apenas o corpo morre, as pessoas possuiriam um espírito
– independentemente de ser esse o termo que utilizem ou outro
qualquer – que continuaria vivo naquele domínio invisível. E é
dessa crença num domínio espiritual invisível que advém a
preocupação cristã, por exemplo, com o tema da “<i><b>salvação</b></i>”.
“<i><b>Céu</b></i>” e “<i><b>inferno</b></i>” seriam como
que <b>duas localidades distintas nessa geografia da dimensão
espiritual</b>, e a chegada a um dos dois seria o resultado das
coordenadas seguidas pelo andarilho humano – a recompensa ou
punição dada pela rota percorrida na vida.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Uma
outra versão dessa preocupação com uma existência pós-mortal
compreende que o espírito humano passe por um processo de
purificação, de aprendizagem ou de expiação através de múltiplas
reencarnações, voltando ao mundo material com um outro corpo – ou
em alguma variação dessa ideia.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Eu,
como já deveriam saber a partir de tudo que falo e escrevo, penso
nisso tudo como uma narrativa metafórica. A linguagem metafórica
dum domínio invisível, de céu e inferno, de recompensas e punições
pós-mortais, entretanto, não faz nada relevante por mim. A
metáfora, a lenda, a promessa, que para muitos parece reconfortante,
não me torna uma pessoa melhor, não me ensina a viver, nem torna o
mundo melhor ou pior para mim – em outras palavras, é indiferente.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Não
se trata de acreditar ou desacreditar no mito dum mundo invisível e
na continuidade duma vida consciente noutra dimensão. Trata-se, sim,
de <b>uma absoluta não preocupação com esse tema, duma completa
irrelevância do mesmo para minha fé e práticas
espirituais/religiosas</b>. (<b>Espiritualidade, para mim, a
propósito, refere-se à maneira como escolho ver, compreender e
experienciar a existência, e não a alguma ligação com uma suposta
realidade imaterial.</b>)</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>A
verdade é que não sei o que acontece com as pessoas após a morte.
Não sei se, além do corpo e suas funções e fenômenos, possuímos
uma parte invisível que permanecerá viva após a morte. E não me
importo com isso.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>A
experiência no/do/pelo mundo concreto, aqui e agora, que é o que
chamo de experiência espiritual (fé/religião)</b>, é graciosa –
isto é, é vivificante no sentido mais amplo, porque é o que posso
conhecer da existência, a breve e terminal existência concreta. É
nesse mundo concreto, aqui e agora, que posso experienciar o todo de
tudo, que posso conhecer o Divino e o humano, o sacro e o profano, o
eterno e passageiro. É aqui e agora que posso amar alguém. É para
o aqui e agora que posso e devo fazer o que deve ser feito. Não num
suposto mundo pós-mortal.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b>Minha
fé, assim, toma a brevidade da vida humana – na verdade, a
brevidade da vida de todo o Universo, de acordo com cosmologia
científica moderna – como elemento indispensável à minha
espiritualidade</b>. Como a vida é breve, e como não espero
recompensas pós-mortais para como a vivo, vivê-la plenamente se
torna o ponto central. Assim, <b>divinizar a vida – trazer o Divino
à experiência da vida</b> – torna-se um exercício espiritual.
Esse “divinizar” se expressa, na linguagem cristã, por exemplo,
na busca pela justiça, pela misericórdia, pela paz, pelo cuidado
com o estrangeiro e o mais pobre, pela defesa do mais fraco etc. <b>É
isso que quero dizer com uma espiritualidade “materialista”.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Quando
penso naquelas pessoas que amava e que morreram, penso em como elas,
de alguma forma, impactaram minha vida e de outras pessoas. Não
sinto nenhuma necessidade de pensar que estejam numa outra dimensão.
Meu conforto está em saber que <b>[1]</b> elas marcaram as vidas de
outras pessoas e criaturas, e <b>[2]</b> seus corpos continuarão a
ser fonte para a origem de mais vida neste mundo e continuarão a ser
parte do ciclo de criação do Universo do qual somos parte. <b>Essa é
minha compreensão do que seja uma “vida pós-mortal”.</b></p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Essa
não é uma compreensão que funciona para todos, mas funciona para
mim. É uma compreensão coerente com minha teologia e com minha
forma de compreender o mundo. Admiti-la é ser intelectualmente
íntegro, e essa <b>integridade intelectual comigo mesmo</b> encontra suas
raízes em minha formação religiosa.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">+Gibson</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-68712593239859458982020-07-16T14:31:00.000-07:002020-07-16T15:16:29.193-07:00Religioso liberal secularista-humanista?<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É frequente a reação de espanto quando pessoas de fora de minha
tradição religiosa descobrem que sou um ministro religioso. Seu
espanto se dá por não entenderem como minha “visão de mundo”
se encaixa na ideia de “religião” que têm – e,
consequentemente, na ideia resultante do que seria tanto um
praticante quanto um “ministro” de religião.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É
para essas pessoas que escrevo agora.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Venho
duma formação religiosa liberal de persuasão
secularista-humanista. Sou um ministro unitarista, e fui
religiosamente educado nas culturas do Cristianismo e do Judaísmo
liberais. Questionar, duvidar, examinar criticamente e não aceitar
explicações sobrenaturais para fenômenos naturais foi parte dessa
educação religiosa que recebi. Assim, “religião” ou “fé”,
para mim, não possuem o sentido de sobrenaturalidade e dogmatismo
que frequentemente recebem no imaginário popular – mesmo entre
outros que receberam uma formação acadêmico-científica.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Os
termos “secularista” e “humanista”, em seu mais básico
sentido, se referem – de acordo com um dos teólogos que mais me
influenciaram, e que ficou equivocadamente conhecido como uma das
vozes da “teologia da morte de Deus”, <b>Gabriel Vahanian</b> –
à noção de que este mundo é o todo da realidade. Em outro
aspecto, referem-se, também, àquele velho anseio unitarista de
separação entre Igreja/religião e Estado; isto é, de instituições
estatais laicas – governo, justiça, escola etc.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isso
significa, dentre tantas outras coisas, que minha fé se centra neste
mundo e nas relações que possuo com os seres, coisas, processos e
percepções deste mundo. <b>Significa que não busco explicações no
sobrenatural para os fenômenos da vida. Significa que não acredito
que haja necessidade duma fé religiosa para que vivamos uma vida
ética. Significa que não me preocupo com uma suposta existência
fora deste mundo – isto é, com uma suposta continuidade da vida
após minha morte numa outra dimensão ou neste mundo como outra
pessoa.</b> Neste sentido, “secularista” e “humanista” tornam-se,
para mim, sinônimos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Abraçar
uma compreensão secularista e humanista, entretanto, não é o mesmo
que dizer que sou ateu. Talvez seja mais exato dizer que não sou um
“teísta do senso comum” – isto é, não acredito numa deidade
antropomorfa sobrenatural que controla o Universo e os destinos de
vivos e mortos a partir duma outra dimensão espácio-temporal. Não
acredito em seres sobrenaturais que povoem regiões invisíveis do
Cosmos, independentemente de como os chamem. E essa [des]crença, a
propósito, não foi causada por nenhuma tragédia, decepção ou
frustração pessoal: foi-me ensinada por minha própria religião.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Minha
não adesão ao que chamei de <i>teísmo </i><i>do senso comum</i>,
entretanto, não é sinônimo de <i>ateísmo</i><span style="font-style: normal;">
</span><span style="font-style: normal;">(seja do tipo afirmativo</span>
ou negativo).</b> Como já afirmei inúmeras vezes, em variadas ocasiões,
minha compreensão do Divino é, apenas, diferente daquelas abraçadas
pelos cristãos que abraçam uma compreensão dum Deus Pessoal – e
todas as consequências teológicas de tal compreensão.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Na
verdade, a [des]crença, em si, sequer chega a ser uma preocupação
para mim. E isso porque as crenças ou percepções
espirituais/religiosas, em minha compreensão, são moldadas por
nossas experiências no mundo. Assim, nossos relacionamentos, nossa
educação, nossa [i]maturidade, nossas experiências com as coisas
mais simples e/ou mais complexas, etc, podem nos oferecer
permanentemente novas perspectivas sobre nós mesmos, sobre o mundo e
sobre o que nos é desconhecido.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isto
é, não há compreensão que permaneça comigo ou com outros para
sempre. Mesmo que imperceptivelmente, estamos sempre alterando as
formas como compreendemos certas questões em nossa visão de mundo –
e, neste caso, na visão que tenhamos sobre Deus e/ou religião, por
exemplo. Assim, a forma como eu, pessoalmente, articulo minha
compreensão de minha “espiritualidade” não é permanente ou
imutável – e, novamente, por “espiritualidade” não me refiro
a uma suposta dimensão sobrenatural da realidade, mas, antes, à
maneira como experiencio a existência.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Identificar-me
como um religioso de persuasão humanista, ademais, significa dizer
que os únicos que podem estabelecer justiça e paz neste mundo somos
nós mesmos. Ninguém mais. Os únicos que podem resolver os
problemas que criamos no mundo social ou natural somos nós mesmos.
Ninguém mais. Violência, guerras, fome, pobreza, poluição e os
males que a acompanham, autoritarismo, analfabetismo, desemprego e
todos os problemas gerados no meio ambiente pelas ações antrópicas
só podem ser resolvidos por nós mesmos. Ninguém mais.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Sim,
é verdade que oro/rezo por paz, justiça e pelo bem do mundo. Mas
minhas orações são uma metáfora do desejo que deve nos levar ao
esforço de transformar o mundo através de nossos próprios esforços
coletivos e individuais. É um símbolo da esperança que move minha
ação no e pelo mundo, aqui e agora.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Chamo
isso de religião/espiritualidade adulta e responsável.</b> É o tipo de
religião na qual acredito e o tipo de espiritualidade que me esforço
para viver. Religião e espiritualidade, para mim, devem se
manifestar numa eticidade intelectualmente íntegra – mesmo que não
corresponda ao tipo de mito de “sobrenatural” ao qual outros
aderem.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Assim, minha compreensão do Cristianismo pode, sim, ser chamada de secularista e
humanista – ética e espiritual, sim, mas também profundamente
<b>materialista</b> (ao menos na forma como compreendo este termo).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }</style><br />
<br />Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-50338995407791928282020-04-17T14:22:00.000-07:002020-04-17T14:38:35.429-07:00Ciência e religião: uma breve resposta a Eduardo C., MJB e Solange<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Resolvi responder, hoje, às questões levantadas por três leitores
que, de alguma forma, se referem à relação entre ciência e
religião em minha experiência pessoal. Tentarei ser o mais direto e
breve possível para que não fiquem com a impressão – como
afirmou um daqueles leitores – de que esteja “tentando escapar
das perguntas”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Para
começar, poderia afirmar o óbvio: a ciência e a religião lidam
com aspectos distintos da realidade humana. Para mim, isso vai um
pouco além: a religião não me serve como resposta para “os
mistérios do Universo”, nem, muito menos, como “conforto” para
alguma coisa. Entretanto, porque minha religião está profundamente
entrelaçada à minha imaginação filosófica, ela se associa ao
conhecimento científico que adquiro para moldar minha visão de
mundo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Como
um unitarista, a religião, para mim, tem um sentido muito mais
<b>materialista</b> do que para pessoas de outras tradições
religiosas. Isto é, em minha vida pessoal, a religião tem muito
mais a ver com <b>práticas no mundo</b> – com base numa ética
religiosa – do que especificamente com crenças sobre <b>um suposto
porvir metafísico</b>. Tem a ver com <b>fazer</b> e não com
<b>acreditar</b> – especialmente se esse “acreditar” se referir
a abraçar ideias inquestionáveis.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Já
discuti, aqui, muito a questão de <b>se acredito na existência de
Deus</b>. Para responder de forma direta: penso que a própria
questão é/foi formulada de forma equivocada. <b>Não acredito na
</b><i><u><b>existência</b></u></i><b> de Deus porque </b><u><b>existência
implica materialidade, fisicalidade</b></u><b>; e não acredito numa
divindade material, física, nem pessoal</b>. Acredito, sim, na
<u><b>Realidade de Deus</b></u> – que se refere mais à relação
humana com a ideia de Deus do que com Deus propriamente.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<b>Deus,
para mim, é uma metáfora</b>. Ser uma metáfora implica na
multiplicidade de interpretações, já que metáforas apontam para
realidades/aspectos diferentes para pessoas diferentes. Obviamente, a
divindade foi retratada pelos hebreus e cristãos do passado como um
ser, uma entidade, com características de um soberano que habita um
reino em algum lugar no espaço e criou e controla o mundo habitado
pelos humanos. Esse é o deus produto da cultura de onde surgiram as
tradições jordânicas (judaísmos, cristianismos, islãs, babismos
etc). É o deus que criou tudo do nada, que causava os terremotos e
as chuvas, que destruía cidades com incêndios etc. É o mesmo deus
que se comportava como um humano amoroso e ciumento, perdoador e
vingativo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<b>Eu
nasci, cresci, fui educado </b><b>(inclusive em minha fé religiosa)</b><b>
e vivo num mundo </b><b>urbano</b><b> </b><b>onde existe uma ciência
desenvolvida – se comparado ao mundo rural palestino de dois
milênios atrás</b>. Naquele mundo, pessoas que nascessem com
diabetes, como eu, morreriam. No meu mundo, a insulina foi isolada e
passou a ser fabricada em massa na década de 1920. Naquele mundo
antigo, as nuvens eram o limite do Universo. No meu mundo, humanos –
graças ao conhecimento científico – já começam a explorar
outros planetas.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Ou
seja, uma pessoa educada na mesma cultura que eu não poderia
realmente esperar que eu fosse obrigado a abraçar a visão de mundo
– o que inclui a noção de Deus – que as pessoas daquela época
abraçavam. Não faria o mínimo sentido.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Assim,
<b>a Bíblia</b> – que em minha tradição não é sinônimo de
Cristianismo, já que os Cristianismos se baseiam em muito mais do
que apenas na Bíblia – <b>não constitui as lentes através das
quais enxergo o mundo. Os textos bíblicos, contraditórios e
incoerentes como são em sua historicidade, são apenas testemunhos
das experiências que os primeiros hebreus e os primeiros cristãos
tiveram em sua busca pelo Sagrado. A Bíblia não é um livro de
ciência, nem é um oráculo de onde se possa tirar respostas para
todas as questões possíveis. É, sim, para mim, um registro da
busca pela compreensão daquela metáfora chamada “Deus”,
construídos </b><b>e moldados </b><b>– tanto o registro quanto a
compreensão – </b><b>pelas culturas nas quais emergiram</b>.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Como
não é na Bíblia onde encontro respostas para minhas questões
sobre a origem do Universo e da humanidade, essas questões são
respondidas pela ciência. Meus estudos nos campos da Física e da
Geografia me ajudam a construir questões e a alcançar respostas
sobre a realidade objetiva. Meus estudos nos campos das Ciências
Sociais, da História e da Filosofia me ajudam a fazer o mesmo quanto
à vida social. A Bíblia, lida a partir de minha tradição, me
ajuda a construir uma compreensão ética sobre a humanidade e sobre
como me relacionar com outros seres humanos e com os demais seres
n/deste mundo – além de me ajudar a construir minha compreensão
sobre a Divindade (novamente, quando lida a partir de minha tradição
e de minhas fontes para a compreensão do mundo). Dela saem os
princípios que, lidos a partir de meu lugar sociocultural, moldam
minha consciência religiosa.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<b>Sobre
a ciência</b>, penso que <b>Marcelo Gleiser</b> consegue explicá-la
muito bem quando escreve que “<b>Ciência não é um sistema de
crenças, mas um sistema de conhecimento desenvolvido com o objetivo
de organizar a realidade à </b><b>nossa volta</b>” (2006, p. 336).
Assim, <i><u>crença</u></i>, num sentido dogmático de não poder
ser questionada, não tem muito a ver com ciência. Na verdade,
sequer tem necessariamente a ver com religião – já que nem todas
as tradições religiosas, incluindo o Unitarismo, mantêm-se em
torno de dogmas inquestionáveis, sendo até teologicamente muito
fluidas (os Judaísmos Reformista e Reconstrucionista, o Quakerismo,
além da própria tradição Unitarista, são exemplos dessa fluidez
teológica).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Tendo
escrito tudo isso, já deve ficar óbvio que aceito as descobertas
científicas. Assim, a <b>evolução</b> é a maneira como compreendo
a origem humana – enquanto entidade física. Essa compreensão
científica em nada contradiz minha fé, já que não abraço uma
crença religiosa que se baseie no teísmo sobrenaturalista de
algumas formas “ortodoxas” de Judaísmo ou Cristianismo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
Grande
abraço a todos!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0in;">
+Gibson</div>
<br />
<br />
<b>REFERÊNCIA</b><br />
<br />
GLEISER, Marcelo. <b>A Dança do Universo</b>: dos Mitos de Criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.<br />
<br />
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.1in; line-height: 115%; background: transparent }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-66312231195420013072019-06-15T10:51:00.000-07:002019-06-17T04:26:32.862-07:00Espiritualidade e Religião sem Deus? – Uma resposta a Eduardo<br />
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A bibliografia dum curso que ensino sobre história das religiões
inclui um texto que afirma categoricamente que a diferença entre a
religião e a ciência está no fato de a primeira exigir “fé
submissa” numa divindade e no sobrenatural. Apesar de eu discordar
daquela afirmação e de saber, por experiência própria, que há
religiões que não se focam numa suposta realidade sobrenatural e
que, assim, não exigem uma “fé submissa” numa divindade e no
sobrenatural, ainda incluo tal texto em minhas aulas para que meus
alunos possam refletir acerca da limitada compreensão que ainda
temos sobre a experiência espiritual/religiosa humana.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não sou um adepto do teísmo sobrenatural. Com isso quero dizer que,
em minha compreensão e experiência, a crença/fé em Deus – ou em
deuses – não é necessária para que experienciemos o
transcendental, o numinoso, o espiritual, o místico, ou seja lá que
outro termo utilizemos para nos referirmos àquela “dimensão
misteriosa” tradicionalmente tratada pelas religiões. Essa
“dimensão misteriosa” pode ser experienciada através das artes,
da ciência, dos esportes, da filosofia, do trabalho, da relação
com e do serviço aos outros seres deste mundo etc. Assim, se a
religião representa um processo de “religação” com algo, esse
“algo” pode ser a própria realidade palpável que experienciamos
em nosso dia a dia – sem absolutamente nenhuma necessidade de
crença no e devoção ao invisível. E, consequentemente, a própria
religião pode ser identificada em atividades que não correspondem
àquelas tradicionalmente realizadas em templos, igrejas ou outros
“lugares sagrados”.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Dizer que não sou adepto do “teísmo sobrenatural” (termo tão
usado pelo finado professor Marcus J. Borg) não significa dizer que
sou ateu; significa que compreendo “Deus” de formas diferentes
daquelas usualmente abraçadas por “teístas” tradicionais;
significa também que, para mim, o “sobrenatural” é indiferente,
que não é essencial para a forma como encaro o mundo e vivo minha
vida. Por exemplo, se e quando faço algo que julgo ser “bom” e
“certo”, não o faço porque temo a punição ou espero a
recompensa de Deus, faço-o porque – para mim – viver com
eticidade é como que o “cerne” da espiritualidade.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Nas culturas influenciadas pelas tradições jordânicas (ou, se
preferir, “<i>abraâmicas</i>” – <b>uso “jordânicas” como
uma referência geográfica à origem dessas tradições</b>) –
especialmente os Judaísmos, os Cristianismos e os Islamismos –,
pensar em religião equivale a pensar no(s) Deus(es) jordânico(s) –
ou seja, significa pensar no que as formas ortodoxas dessas religiões
jordânicas têm ensinado sobre Deus. Assim, as noções de
espiritualidade, religião e mesmo Divindade têm sido, em nossa
cultura, aprisionadas às compreensões ditas ortodoxas dos
Judaísmos, dos Cristianismos e dos Islamismos. Esse aprisionamento é
levado a cabo, infelizmente, inclusive pelo próprio discurso
acadêmico sobre religião.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Por conta disso, é importante, para mim, enfatizar que as concepções
ortodoxas de religião – e estou pensando especificamente nas
tradições jordânicas – não são as únicas formas
historicamente válidas de compreender Deus, fé, religião,
espiritualidade, o numinoso, o transcendental etc. Todas as formas
religiosas, ortodoxas ou heréticas – na verdade, todo o
conhecimento e práticas humanas – são produtos históricos,
condicionados às diferentes circunstâncias nas/das quais emergiram
e se desenvolveram. <b>O próprio Deus do teísmo sobrenatural –
assim como o do meu tipo de compreensão – é um produto cultural,
histórico, uma construção humana.</b></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Como posso ser um religioso e dizer isso? Como ouso me dizer
“cristão” e afirmar que Deus é uma construção humana, um
produto da cultura?</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isso, obviamente, tem a ver com minhas próprias circunstâncias, com
minha própria história e formação. Minha própria tradição
religiosa me ensina que duvidar e questionar é necessário para
construir uma fé relevante. Por isso, declarar crenças que não se
conciliem com tudo o que já sei ou que julgo saber sobre o Universo
representaria uma falta de integridade intelectual (=espiritual) de
minha parte. Essa é uma das razões básicas pelas quais compreender
o domínio numinoso de forma agnóstica, como o faço, não
representa um problema para mim.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Como já disse e <a href="https://cristianismoprogressista.blogspot.com/2017/09/minha-teontologia-ou-o-que-acredito.html">escrevi antes</a>, <b>creio na Realidade de Deus – apesar de não
acreditar na existência dum Deus pessoal que governe monarquicamente
o Universo a partir dum ponto específico do cosmos</b>. Deus
representa, para mim, uma Realidade com a qual me relaciono, mas que
não sei quem/o que é. Essa Realidade pode se fazer ou se faz
presente em meus relacionamentos com outras pessoas, em minha relação
com o mundo, em meu trabalho, no entretenimento, em minha vida
religiosa etc. Não finjo ser capaz de explicar de forma coerente
essa Realidade ou a forma como a experiencio. <b>Deus, assim, em
minha compreensão e experiência, é uma metáfora – </b><b>e não
uma entidade objetiva</b>.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Ora, metáforas são importantes para a construção do conhecimento,
para a interpretação do mundo. Não são, contudo, “essenciais”,
indispensáveis. Da mesma forma, se Deus é uma metáfora, e a
religião é uma forma de conhecimento, uma forma de interpretação
da experiência humana, então Deus não é essencial ou
indispensável para a experiência religiosa.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Mas isso, claro, depende de (a) quem, quando e onde perguntar. Essa é
minha perspectiva, até hoje pelo menos – a perspectiva dum cristão
agnóstico religioso. Se as mesmas questões sobre Deus,
espiritualidade e religião forem feitas a outra pessoa, você
certamente terá respostas bem diferentes das que lhe ofereço aqui.</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Grande abraço!</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" lang="pt-BR" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent none repeat scroll 0% 0%; }a:link { color: rgb(0, 0, 128); text-decoration: underline; }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-2343843760337801432018-12-22T07:44:00.000-08:002018-12-22T07:44:09.809-08:00Jesus, migração, refúgio: o espírito da celebração do Natal
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Nunca escondi que o Natal, mais do que qualquer outra data do
calendário cristão, me fascina. E isso porque, para mim, o Natal
carrega em si elementos que ecoam em minha memória elementos de
minha própria história pessoal, e porque, nesta celebração,
cristãos podem encontrar um aspecto em comum com pessoas das mais
diferentes tradições de fé, especialmente com seus irmãos judeus
e muçulmanos: a relação entre a narrativa natalina e a memória da
diáspora/migração.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
tradicional narrativa natalina, independentemente de sua possível
não factualidade, fala sobre uma família que foge de sua terra de
origem para um país estrangeiro – o Egito – em busca de
proteção. Seu filho, o recém-nascido Jesus, tem sua vida ameaçada
e seus pais buscam abrigo numa terra onde esta ameaça específica
não esteja presente. Assim, a família de Jesus, como tantas outras
famílias de todos os tempos e culturas, passa pelo desafio do
<b>desenraizamento</b> – de, metaforicamente, “arrancar suas
raízes” de sua terra de origem –, migrando em busca duma
situação mais favorável.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esse
elemento da narrativa cristã do Natal envolve toda a compreensão
que os seguidores posteriores de Jesus construirão a seu respeito.
Enquanto criança, Jesus – como Noé, Ló, Abraão, Jacó, José,
Moisés – é moldado pela experiência migratória. Quando adulto,
experienciará outra migração, saindo de sua Galileia de origem
para desempenhar sua missão profética na Judeia, passando pela
Samaria. Mais tarde, a maioria de seus seguidores não hebreus lhe
atribuirão uma identidade migratória mais “divina”, quando
começam a ensinar que ele era o filho de Deus que descera dos céus
para se encarnar entre os homens. Assim, Jesus experiencia, na
narrativa cristã, uma dupla migração: [I] <b>uma migração
divina</b>, descendo do domínio celestial para o terrestre; e [II]
<b>uma migração terrena</b>, buscando refúgio no Egito e,
posteriormente, saindo da Galileia rumo à Judeia.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É
uma grande pena que muitos cristãos tenham ignorado esse aspecto
humano da narrativa sobre Jesus. Num mundo cada vez mais marcado
pelas experiências de emigrantes/imigrantes e refugiados, aqueles
que se dizem seguidores do refugiado nazareno deveriam enxergá-lo
nas faces dos desenraizados de hoje.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
conexão entre a experiência migratória e a narrativa religiosa não
é exclusiva dos cristãos. Os patriarcas e profetas doa antigos
israelitas também foram moldados pelo exílio e pelo retorno.
Igualmente o foram o profeta do Islã e os primeiros muçulmanos. Nas
três grandes tradições, a própria existência humana na Terra e a
busca pelo divino têm uma relação com a experiência migratória:
por exemplo, nas ideias de que a vida humana na Terra seja um momento
transitório de preparação para uma futura eternidade num reino
divino, podemos encontrar traços dessa influência. Assim, migração,
exílio, desenraizamento e a busca pelo “lar” pavimentam, de
certa forma, o <i>ethos</i><span style="font-style: normal;"> das
tradições jordânicas (judaísmos, cristianismos, islãs, babismos
etc).</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">O
que é importante, para mim, é celebrar na narrativa natalina esse
lembrete de que aquele de quem me declaro ser discípulo – Jesus de
Nazaré – </span><span style="font-style: normal;">compartilhou</span><span style="font-style: normal;">
</span><span style="font-style: normal;">comigo e com</span><span style="font-style: normal;">
tantos outros a </span><span style="font-style: normal;">experiência
da </span><span style="font-style: normal;">migração, </span><span style="font-style: normal;">d</span><span style="font-style: normal;">a
diáspora (independentemente de eu estar mais interessado na
experiência humana do que em mitos celestiais, e de eu estar ciente
de que muito do que os evangelistas relataram provavelmente não ser
factual)</span><span style="font-style: normal;">. Assim, para seguir
seu caminho, </span><span style="font-style: normal;">me torno
obrigado a atentar para aquelas e aqueles que, como ele, foram
desenraizados e que buscam um lar numa “terra estrangeira” (que
pode, também, ter um sentido metafórico).</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">M</span><span style="font-style: normal;">inha
oração é que possamos enxergar nas faces dos imigrantes,
refugiados, estrangeiros, forasteiros – literal ou metaforicamente
–, a face do menino e do homem nazareno, e – por que não? – a
face do profeta ou do filho de Deus que vem morar entre os humanos.
Essa, para mim, é a missão da celebração natalina.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-style: normal;">Feliz
Natal a todas e todos!</span></b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">+Gibson</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent none repeat scroll 0% 0%; }a:link { color: rgb(0, 0, 128); text-decoration: underline; }a:visited { color: rgb(128, 0, 0); text-decoration: underline; }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-91848313431722710842018-10-29T03:58:00.000-07:002018-10-29T03:58:22.409-07:00Sobre a vitória de Jair Bolsonaro (2)
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Tendo
exposto minhas preocupações e desconforto com o modo como qual o
candidato se tornou Presidente eleito, resta-me apenas fazer algumas
sugestões àqueles que não votaram em Jair Bolsonaro.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É
importante, para mim, afirmar o óbvio: Jair Bolsonaro,
independentemente dos sentimentos que possamos ter a respeito de seu
comportamento e falas como Deputado e como candidato à Presidência
da República Federativa do Brasil, foi eleito Presidente pela
vontade da maioria dos votos válidos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Reconhecer
esse fato é reconhecer que aceitar o processo democrático
compreende aceitar os resultados que não nos agradam. No processo
eleitoral democrático sempre haverá vencedores e perdedores e,
desta vez, Jair Bolsonaro e as elites e massas por trás de sua
vitória ganharam o processo – mesmo que tenham demonstrado,
inúmeras vezes, que não apreciavam o sistema democrático. Ele é o
Presidente que assumirá as rédeas do Executivo Federal a partir de
1º de janeiro próximo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
glória da democracia é que ela permite vozes discordantes e, assim,
as cidadãs e os cidadãos, organizados em partidos políticos e em
movimentos sociais, podem exercer pressão sobre o Executivo e o
Legislativo, cobrando a proteção de seus direitos civis – que o
candidato Bolsonaro parecia ameaçar.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Também
é possível que o agora Presidente eleito seja, ele mesmo, amansado
pelo <i>establishment</i> político – como o foi o ex-Presidente
Lula da Silva, por exemplo. Seu comportamento anterior poderá ser
aos poucos “<i>plana</i><i>l</i><i>tizado</i>”, a partir de sua
posse, por aqueles com quem trabalhará. Essa é, ao menos, minha
esperança.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Seja
como for, numa democracia, as vozes minoritárias não podem ser
caladas pelas vozes da maioria – e vice-versa. Deve-se aceitar os
resultados das eleições – isto é, supondo que nenhum crime tenha
sido cometido ao longo da campanha (e estou agora pensando no caso
noticiado pela Folha de São Paulo e que, supostamente, ainda será
investigado pela Polícia Federal e pela Justiça Eleitoral) – e
isso implica aceitar a vitória de Bolsonaro. Mas a relação do
cidadão que nele não votou – especialmente daqueles que votaram
contra ele (há uma diferença clara entre ter votado em Haddad e ter
votado contra Bolsonaro) – não se encerra com a aceitação de sua
vitória.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Resta-nos,
agora mais do que nunca – especialmente daqueles na educação, na
comunicação e na Igreja/religião –, ajudar na construção duma
compreensão social ampla do que é a democracia e do que é um
Estado Democrático de Direito; a defesa da liberdade e dos direitos
de absolutamente todos, especialmente daqueles mais vulneráveis numa
sociedade que se dividiu insanamente; o esforço pela construção da
paz social, através do diálogo, de todas as formas possíveis.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
Brasil e as brasileiras e brasileiros, afinal de contas, são mais
importantes do que a pessoa e os grupos que os governam. Os cidadãos
podem e devem elevar suas vozes e trabalhar pela democracia e por
seus direitos civis se esses forem ameaçados.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-71248247970720326182018-10-28T15:47:00.000-07:002018-10-28T16:19:42.522-07:00Sobre a vitória de Jair Bolsonaro<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
As
eleições brasileiras de 2018, seguindo o modelo das eleições
presidenciais americanas de 2016, funcionaram como um laboratório
para o que serão as disputas eleitorais mundo afora a partir de
agora: divulgação descontrolada de notícias falsas, uso de robôs
para a manipulação da rede, violência simbólica e física contra
eleitores oponentes, etc – tudo apontando para um futuro no qual os
vencedores serão aqueles que conseguirão o domínio primeiramente
nas terras sem lei do mundo digital.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Em
grande parte, foi graças a isso que Jair Bolsonaro venceu as
eleições e se tornou, hoje, Presidente eleito.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Mas
não só por isso. Não foi apenas seu “<b>capital </b><b>digital</b>”
que o levou à Presidência. O desencanto e a desesperança de parte
das “<b>massas</b>” com aqueles que percebiam como sendo a “<b>elite
política</b>” e com sua ineficiência frente aos problemas
enfrentados pela sociedade foi o motor que levou um legislador
incompetente e irrelevante ao Planalto.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Gostaria
de enfatizar, novamente, o que vejo como o motor dessas eleições:
<b>foi o desencanto e a desesperança de parte das “massas” com
aqueles que percebiam como sendo a “elite política”</b>. As
“massas” não estavam desencantadas nem desesperançadas com a
política em si – como se pode verificar através de seu empenho
nas campanhas de seus candidatos –, mas com aqueles que essas
mesmas massas viam como a “elite política”. Por conta da
genialidade marqueteira do agora Presidente eleito, ele é descrito
por seus militantes como um “outsider” da política, apesar de
ser parte da <b>elite política</b> desde 1989. <b>Seus esforços
marqueteiros transformaram seu discurso populista e semifascista no
“encanto” e na “esperança” duma parte do eleitorado.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Mesmo
se Bolsonaro não vencesse a disputa eleitoral, já teria vencido um
processo de divisão da sociedade iniciado anos atrás pelo PSDB e
pelo PT – processo que reforçou a <b>estereotipização
demonizante</b> do lado oposto como inimigo real, e não apenas como
oponente político: o discurso do “nós” versus “eles” –
“nós”, as vítimas, versus “eles”, os corruptos/criminosos
(é bom lembrar que o PT fez uso desse discurso durante os governos
do PSDB, e o PSDB fez uso do mesmo durante os governos do PT). Essa
estereotipização demonizante levada ao extremo – através
principalmente da divulgação de notícias falsas (o que poderia
representar melhor um <b>modus operandi [semi]fascista</b>?) – foi
a marca das campanhas de 2018. E o agora Presidente eleito foi o
melhor representante do uso dessa arma em sua campanha. Dividir a
sociedade, jogando eleitores uns contra os outros em favor duma
candidatura, se tornou a chave para vencer a disputa eleitoral.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
estereotipização do outro sempre foi uma característica das
disputas partidárias (você, talvez, poderia até dizer que é
exatamente isso que estou fazendo aqui). Neste segundo turno, essa se
acirrou, em grande parte, por conta da ausência do debate de
propostas. O agora Presidente eleito, que já se mostrara deveras
incapaz de manter um diálogo construtivo com jornalistas,
escondeu-se atrás de sua recuperação pós-atentado – um fato
utilizado como maquiagem de medroso – para não ser derrotado por
sua incompetência em dialogar com alguém de quem discorda. Assim,
seus eleitores votaram “no escuro”, comprando um discurso
populista temperado com fortes elementos fascistóides, sem conhecer
exatamente as propostas(?) de seu candidato para administrar o país.
Esses eleitores depositaram sua confiança no processo eleitoral,
mesmo que seu candidato ridicularizasse o mesmo, e levaram seu
candidato à vitória.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que resta, agora, aos eleitores que se opuseram ao falso outsider, o
legislador que acumulou 29 anos como membro da elite política? O que
se pode esperar dum Presidente eleito que, mesmo antes de ser
candidato já desprezava o <b>Estado Democrático de Direito</b>? [É
sempre bom nos lembrarmos de que o Estado brasileiro é um Estado
“Democrático”, apesar de, enquanto Deputado, o agora Presidente
eleito desprezar o processo e o sistema democráticos.]</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-53800387231787070632018-10-10T12:38:00.000-07:002018-10-10T12:38:23.406-07:00A filosofia política liberal e o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Um
amigo me perguntou se eu votaria no candidato à Presidência que se
identifica como “liberal” (Jair Bolsonaro). A lógica por trás
de sua pergunta era a de que já que eu me identifico como um
“<b>liberal democrata</b>” (de persuasão “<b>social</b>”), e
como “<b>religioso liberal</b>”, provavelmente votaria num candidato
filiado a um partido com “social liberal” no nome e que diz
defender uma política econômica “liberal”. Esse é um equívoco
nominalista que gostaria de desfazer.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<b>Liberalismo</b>”
é um termo complexo. Refere-se a diferentes conceitos, a depender
dos contextos nos quais é utilizado. Há “liberalismos políticos”
e “liberalismos econômicos” – a variedade teórica é tão
grande que não se pode tratar desses como se fossem uma única forma
de abordar a política ou a economia (exatamente como ocorre com
conceitos como “<i>socialismo</i>” ou “<i>marxismo</i>”).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Politicamente,
o <b>liberalismo</b> possui pelo menos duas faces:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A)
<b>Como tradição intelectual</b> – enquanto filosofia moral e
política –, o liberalismo representa um conjunto de ideias que têm
se desenvolvido ao longo da modernidade. Encontra sua fundamentação
inicial no pensamento de Locke e Montesquieu, mas se solidifica como
uma filosofia específica apenas após a Revolução Francesa. Possui
uma interligação histórica com o Unitarismo e com sua teologia, apesar de isso não significar que todos os unitaristas sejam politicamente liberais.
Apresenta três princípios consensuais básicos, criticados por
perspectivas mais à direita e/ou à esquerda do espectro político:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
I.
<i>Ética individualista</i> – isto é, o indivíduo como personagem
central dos valores e direitos (por exemplo, a liberdade não é
apenas um direito do ser humano, é um direito de cada indivíduo);</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
II.
<i>Respeito equitativo por todos os seres humanos</i>, baseado na crença de
que todos são igualmente capazes de se autogovernarem;</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
III.
<i>Liberdade de pensamento e expressão</i>, baseada na confiança na
autonomia irrestrita da razão (=capacidade racional do indivíduo)
como única e suficiente fonte de verdade objetiva.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esses
princípios, obviamente, são criticados dentro da própria tradição
liberal, mas têm servido de guia filosófico para o liberalismo
enquanto filosofia moral e política.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
B)
<b>Como</b><b> </b><b>ordenamento</b><b> polític</b><b>o</b><b>-jurídico</b>,
o liberalismo têm se desenvolvido – para o bem ou para o mal –
ao redor de três princípios gerais:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
I.
<i>Liberdade equitativa para todos os cidadãos</i>, o que inclui a
liberdade de o indivíduo agir como escolher, desde que se sujeite às
leis que protegem os direitos iguais dos outros;</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
II.
<i>A proteção da liberdade de pensamento e expressão desse
pensamento</i>;</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
III.
<i>A organização desses princípios num sistema jurídico que garanta
a igualdade de cada cidadão perante a lei</i>.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Perceberam
que não incluí a noção de “<b>democracia</b>” nos princípios
acima? E não o fiz porque a participação democrática do cidadão
não esteve sempre presente na filosofia política liberal. É por
isso que quando identifiquei meu ideário político o chamei de
“liberal democrata” – para afirmar que a minha forma de
liberalismo é democrática. Essa junção de “democracia” ao
“liberalismo” é mais recente, tendo se desenvolvido apenas no
século XX. Os antigos teóricos liberais temiam, muitas vezes, que a
democracia irrestrita pudesse sabotar tanto os princípios
filosóficos liberais quanto o ordenamento jurídico proposto por
eles. [Essa preocupação fica mais clara se examinarem a chamada
“psicologia das massas” e a “teoria das elites”.]</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Há
uma questão importante, entretanto, no que concerne aos princípios
filosóficos que listei em [A] III – <i>a razão como única e
suficiente fonte de verdade objetiva</i>. Filosoficamente, muitos
liberais discordarão das implicações epistemológicas dessa
afirmação – especialmente aqueles que, como eu, foram/são
influenciados por uma perspectiva dita “<b>pós-moderna</b>”.
Esses aceitam o princípio da liberdade de pensamento e expressão,
mas podem rejeitar a epistemologia objetivista presente naquele
princípio.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que interessa aqui, entretanto, é refletir até que ponto o
candidato do partido chamado “Social Liberal” se encaixaria nos
princípios filosóficos que listei acima para o liberalismo [A]:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
I.
Até que ponto alguém que abertamente ataca indivíduos e/ou grupos
sociais dos quais discorda – por exemplo, os identificados como
LGBT+ ou como “esquerdistas” –, e cujo discurso cria todo um
ambiente de ameaça e amedrontamento, exibe respeito pelo princípio
de ética individualista (cada indivíduo tem valor e dignidade como
ela/ele é ou está)?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
II.
Consequentemente, até que ponto esse mesmo candidato se ajusta ao
princípio de que cada indivíduo, independentemente de quem seja,
deva ser respeitado da mesma forma que os demais. Como exemplo:
as(os) cidadã(o)s gays, feministas, comunistas, petistas, etc, não
devem ser respeitados e honrados da mesma forma como os
tradicionalistas, direitistas, cristãos, etc, o são?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
III.
Até que ponto alguém que apoia a aprovação de leis que
restringem, por exemplo, a liberdade de cátedra, a liberdade de
expressão de professores, representaria um ideário político
liberal?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Eu
poderia tratar aqui a respeito de, por exemplo, “<b>ética
distributiva</b><span style="font-weight: normal;">”</span> para
discutir a questão da <b>Previdência Social</b> ou do programa
<b>Bolsa Família</b>. Entretanto, não existe um consenso sobre ela
no liberalismo como um todo – existe esse consenso, entretanto, na
tradição chamada de “<b>liberalismo social</b>” (que ao menos
nomeadamente declara ser a tradição do partido do candidato, e é
minha tradição política de origem). Por isso, não importa
discuti-la aqui, até porque o candidato se apresenta como
economicamente liberal – o que, em outras palavras, significa que
ele seria um adepto daquilo que é comumente chamado de
“<b>neoliberalismo</b>”: ou seja, uma ideologia
político-econômica rígida que enfatiza o livre mercado, um estado
pequeno e forte, a iniciativa privada e a responsabilidade
individual.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Em
outras palavras, enquanto adepto da <b>filosofia política liberal</b>,
não posso encontrar razões para votar num candidato como Jair
Bolsonaro. Vejo, neste Segundo Turno, uma proximidade muito maior com
o candidato do PT – apesar das muitas discordâncias no que
concerne ao seu partido e ao seu Plano de Governo original.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Respondendo
àquele amigo, digo que meu ideário filosófico liberal democrata e
minhas perspectivas religiosas me motivam, de todos os lados, a votar
e torcer pela derrota dum candidato que, filosoficamente, representa
o contrário duma utopia liberal. Mas, obviamente, isso não
significa que espero que os meus leitores aceitem minha posição. Só
espero, francamente, que se acreditam naqueles valores que
representam nossa tradição religiosa, possam refletir antes do
voto, e se escolherem o candidato do PSL, exijam seu compromisso com
o respeito daqueles valores.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-16540760496286577142018-10-03T16:14:00.000-07:002018-10-03T16:45:01.500-07:00Bancada BBB: Os “falsos profetas” da Política cristianizada ou do Cristianismo politizado brasileiro<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="297" data-original-width="600" height="158" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuDYZnST7iX4ovuC2J2GnIbS7YU5KII1WAGCFiAMAxtI9hXGyrSl8jGtW-ifstxU5f2Qkm4VXas4_P7-0ZvttU83e1Yg63ZE5PXe9HftXk6kWzMq3NtjN5qPnmDhjnnw2AT393kIz1-Y4C/s320/bbb.jpg" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">*Imagem disponível em: http://paraibageral.com.br/wp-content/uploads/2017/12/bbb.jpg</span> </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Este
é mais um ano de eleições no Brasil. Na verdade, é um ano no qual
as disputas políticas se acirraram de maneira tal que ninguém mais
parece saber em quem confiar para ocupar um posto eletivo. Afinal, o
país se encontra no meio dum furacão político no nível federal,
cujos efeitos se fazem sentir nos cenários estaduais e municipais. E
toda essa convulsão política tem efeitos na vida moral da
sociedade, inclusive, infelizmente, nas compreensões teológicas que
se desenvolvem no seio das comunidades cristãs brasileiras.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Muitos
dos chamados “evangélicos” brasileiros – e devo enfatizar que,
em meu uso, “evangélico” e “protestante” não são
necessariamente sinônimos – importaram a teologia e a política
belicistas de certos grupos ligados à chamada “direita cristã”
dos Estados Unidos, querendo aplicar ao Brasil uma ideologia
desenvolvida para o cenário rural, racista e isolacionista do
chamado “cinturão da Bíblia” americano. Eles têm, no Congresso
Nacional brasileiro, até um nome autoritário para seu grupo
político (nome que se repete, com variações, nas Assembleias
Legislativas de alguns Estados e nas Câmaras de muitos municípios):
“<b>Frente Parlamentar Evangélica</b>” – e chamo de
“autoritário” porque se impõem, publicamente, como
representantes de todos os “evangélicos” brasileiros (algo que,
em si, já deveria tornar-se um motivo de indignação por parte das
comunidades evangélicas e protestantes Brasil afora).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esses
senhores e senhoras senadores, deputados e vereadores – muitos dos
quais são acusados e/ou processados por corrupção, entre outros
crimes – se vendem não apenas como representantes de seus
eleitores, mas como representantes de Deus, de Cristo e da família.
Seu charlatanismo chega a ser tão explícito que se apresentam como
“apóstolos”, “pastores” e “missionários”, e não como
simples representantes eleitos por uma parcela do “povo”. E isso
porque, assim, podem impor ao seu trabalho legislativo uma imagem de
santidade que não poderiam vender se fossem apenas senadores,
deputados ou vereadores – seriam representantes da Divindade nos
meios legislativos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
arma utilizada por esses grupos é antiga e bem conhecida: <b>a
instrumentalização do medo</b>. Assim, criam em seus eleitores, em
seus discípulos, em seus seguidores, em seus fieis o medo de tudo
aquilo que possa parecer diferente. O que é diferente é uma ameaça.
O que é uma ameaça é um inimigo. E o inimigo deve ser combatido
até que não haja mais ameaças. E como a ameaça só existe se
houver inimigo, então... bem, faça as contas e entenderá qual
seria a solução!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>O
que essas pessoas fazem vai muito além de apenas criar o medo em
seus eleitores para, assim, conseguirem seus votos em épocas
eleitorais. Eles deturpam o Evangelho de Cristo, violentam a
dignidade da fé e saqueiam a racionalidade teológica para
conseguirem o poder para si. Sua imoralidade é tamanha que conseguem
transformar, na mentalidade e prática de seus seguidores, o
“Príncipe da Paz” em “senhor da guerra”, o Jesus do amor e
perdão em defensor do “direito ao porte de armas”.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Pode
parecer injusto de minha parte, mas não me sinto nem um pouco
culpado ou envergonhado por chamar os membros desse movimento imoral
de “falsos profetas” e “enganadores”. Minha generalização
impiedosa é mais do que necessária. É muito mais vergonhoso que
qualquer pessoa que se identifique como discípulo de Jesus (seja
evangélico, protestante, católico ou adepto de qualquer outra forma
de Cristianismo) não se sinta nem um pouco incomodada em haver
grupos como esses se vendendo como seus representantes políticos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esses
representantes de si mesmos, em seu esforço para se tornarem
porta-vozes duma “Política cristianizada” – ou seria
“[Pseudo]Cristianismo politizado”? – identificam a mensagem de paz do
Evangelho, o ensinamento cristão do cuidado para com o mais fraco e
o faminto, a atenção para com a viúva e o órfão, etc, como
mensagem “comunista” ou “marxista”. Assim, esses iletrados na
religião cristã, mas também em filosofia política, promovem uma
política anti-Jesus em defesa de sua visão dum “novo” velho
mundo: um mundo no qual o homem-senhor reina sobre “sua mulher” e
filhos, com a Bíblia numa mão e a chibata na outra; um mundo no
qual armas são essenciais para a “paz”; um mundo no qual o
“cristianismo” é tão frágil que é ameaçado por qualquer
crença não “evangelical” (eles não sabem que o Cristianismo
não se limita ao Evangelicalismo!).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quão
patológico não é o falso “evangelho” anunciado por esses
“profetas” da política brasileira?! E o pior é que seus
discípulos, que, em sua maioria, são pessoas honestas e sinceras
que apenas caíram nas velhas redes do medo, não percebem isso! Se
percebessem, tenho certeza, pensariam dez vezes antes de votar
naqueles senhores ou senhoras.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Não,
esses falsos profetas no Congresso, nas Assembleias Legislativas
estaduais e nas Câmaras municipais não representam a maioria dos
evangélicos brasileiros. E por essa razão, não deveriam ser
eleitos como seus representantes e não deveriam ser retratados como
porta-vozes dos evangélicos ou dos protestantes do Brasil!</b></div>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<i><b>P.S.: Texto originalmente publicado, <a href="https://cristianismoprogressista.blogspot.com/2016/07/os-falsos-profetas-da-politica.html" target="_blank">aqui mesmo</a>, em 17 de julho de 2016. Infelizmente, nada mudou na política brasileira!</b></i><br />
<br />
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<br /></div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-35764142902005953672018-09-30T15:38:00.001-07:002018-09-30T15:39:20.926-07:00Entrevista concedida por e-mail a uma publicação estudantil<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
No
mês de agosto de 2018, estudantes do programa de pós-graduação em
Teologia duma instituição onde ensino publicaram em seu jornal uma
resenha de meu último trabalho e, juntamente com ela, uma página
com uma entrevista comigo, realizada através de e-mail. Abaixo,
incluo três das perguntas que me foram feitas e as respostas que
ofereci – já que essas perguntas estão aparentadas àquelas que
recorrentemente recebo através deste e de outros canais.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<b>Entendemos
que o senhor, além de ministro unitarista, é também ministro da
Igreja Unida e de outras igrejas protestantes. Como consegue lidar
com essa aparente contradição?”</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Bem,
não considero isso uma contradição. E não é contradição porque
não visto identidades religiosas conflitantes. As denominações das
quais participo não são “minha religião”: são, sim, minhas
comunidades – das quais herdo diferentes histórias e costumes
religiosos. Assim, não sou um unitarista; não sou um
episcopal/anglicano; não sou um luterano, etc – essas são
identidades institucionais. Se tivesse de conceituar minha identidade
religiosa, diria que sou, simplesmente, um seguidor de Jesus de
Nazaré que vivencia a experiência religiosa em comunidades
diferentes. Essas são as comunidades onde exerço o ministério
ordenado e com as quais vivencio experiências comunais do Divino.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Com
isso, obviamente, não quero dizer que as identidades denominacionais
não sejam importantes. Em muitos aspectos, elas são. Contudo, não
podem ser confundidas com o que é ser um “cristão” (se é que
essa palavra ainda possua algum sentido espiritual relevante). E isso
não deixa de ser reflexo da experiência pós-moderna da própria
Igreja: um foco menor no denominacionalismo construído em eras
anteriores. Francamente, como alguém envolvido profundamente com o
espírito ecumênico, estou mais preocupado em me identificar – em
palavras e ações – como um seguidor de Jesus de Nazaré do que
como adepto duma tradição cristã específica. E justamente porque
consigo fazer isso nessas diferentes comunidades, não há nenhuma
contradição, para mim ou para elas, nisso. As identidades
“paroquiais” dessas instituições específicas são, em minha
vida, apenas acessórias; não são “essenciais”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<b>Já
lemos textos seus nos quais se refere a crenças fundamentais cristãs
como se fossem “mitos” ou “metáforas”. Isso significa que
não aceita essas doutrinas cristãs como sendo verdades?”</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Tenho
um problema com o termo “fundamentais” em sua pergunta. O que
significa falar em “crenças fundamentais”? Eu não sou um
fundamentalista; e são os adeptos de compreensões fundamentalistas
os que, nos Cristianismos protestantes, se preocupam em defender
“crenças fundamentais”. Talvez devêssemos usar uma outra
expressão para discutir esse tema; assim, proponho que troquemos
“crenças fundamentais” em sua pergunta por “ideias
consensuais”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Estou
muito mais preocupado com “teologia” do que com “doutrinas”.
A diferença entre as duas – ao menos no contexto deste nosso
diálogo – é que as <b>doutrinas</b> parecem se referir a
declarações dogmáticas sobre problemas específicos, enquanto a
<b>teologia</b> abrange um conjunto de linguagem, atitudes, ideias,
narrativas e práticas que moldam uma tradição religiosa. De certa
forma, o conceito de “<b>doutrina</b>” parece estar
intrinsecamente associado àquela compreensão de que religião e
denominação (=instituição religiosa) sejam sinônimos. Assim,
para quem se preocupa com isso, uma denominação professa tais e
tais doutrinas – uma lista de teses – que devem ser aceitas e
defendidas por quem quiser ser membro de tal “religião” (que,
estritamente, não é uma “religião” propriamente dita, mas
apenas uma instituição/organização que se apresenta como
representante duma religião).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Já
a “<b>teologia</b>“ funciona de outra forma: não se limita a
teses específicas; antes, consiste numa base mais ampla através da
qual podemos construir (e alterar) visões de mundo. Dessa forma, as
compreensões religiosas – que você chamou de “doutrinas” –
não são imutáveis, escritas sobre diamante; são perspectivas que
se alteram ao longo da experiência histórica (que, no contexto
cristão, inclui a própria experiência do Divino).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Poderia
citar, por exemplo, o caso da escravidão. A cristandade ocidental
como um todo encontrou justificativas para a escravidão em suas
próprias fontes teológicas durante séculos. Assim, muitos cristãos
e muitas instituições eclesiásticas cristãs não viam nenhuma
contradição entre ser cristão e escravizar, possuir, comprar e
vender escravos. Até, obviamente, que suas ideias teológicas
começassem a mudar! Quando a experiência social e as ideias
filosóficas começaram a ser alteradas, a teologia também sofreu
alterações: a escravidão deixou de ser a vontade de Deus e passou
a ser vista como um erro repugnante dos humanos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Essas
alterações só demonstram, em minha compreensão, o quanto a
religião, em geral, é humana. Não há nada de essencialmente
divino na religião (enquanto sistema teológico: isto é, um
conjunto de linguagem, atitudes, ideias, narrativas e práticas) –
a religião é, sim, um reflexo de quem um determinado grupo humano é
(ou pensa ser) em sua inter-relação e em relação à sua
compreensão do Divino, mesmo que acreditem que sua religião seja um
produto Divino (e mesmo que Deus, como consequência, acabe se
tornando uma espécie de adepto dessa mesma religião).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É
justamente por a religião ser uma construção humana – ou melhor,
uma resposta humana ao mistério cósmico que a humanidade enfrenta
–, que o que esta ensina é verdadeiro. Aquelas “doutrinas”
cristãs são “verdades”, mas não são, necessariamente,
“factualidades”. Elas são verdades no contexto histórico de
certos grupos ou pessoas, em determinado momento – não o são,
necessariamente, para outros ou durante todo o tempo. Em parte, é a
confusão moderna entre “verdade” e “factualidade” que leva a
essas compreensões binárias de certo-errado, verdadeiro-falso –
que eu, de forma geral, rejeito.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quando,
ou se, penso em “verdade”, não estou pensando no contrário de
“mentira”. Estou pensando, antes, numa interpretação da
“realidade” (que nem sempre é objetiva/factual) que se altera ao
longo da experiência histórica, mesmo quando não se perceba essa
alteração. Os Cristianismos, e todas as demais tradições
religiosas do mundo, sofrem alterações em suas compreensões e
práticas, independentemente do quão dogmáticas sejam. Por exemplo,
o “Cristo” – ou a compreensão acerca de Cristo – do
Movimento de Jesus dos primeiros anos não é o mesmo “Cristo”
dos cristãos helênicos ou romanos do segundo século de nossa era,
nem é o mesmo “Cristo” dos diferentes grupos cristãos do
período medievo europeu, nem é o mesmo “Cristo” dos cristãos
assírios do Oriente do século XV, nem o mesmo “Cristo” dos
unitaristas do século XIX, nem o mesmo “Cristo” dos pentecostais
brasileiros do século XX, nem o mesmo “Cristo” dos católicos
romanos progressistas do século XXI. Cada um desses contextos
específicos conheceu variadas interpretações cristológicas –
isto é, de quem era Jesus Cristo – que eram, até certo ponto,
distintas de compreensões variadas de outros contextos históricos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que quero dizer é que nenhuma religião, incluindo os Cristianismos,
é um objeto estático no tempo. Sempre sofre variações. Assim, a
linguagem, as atitudes, as ideias, as narrativas e as práticas
cristãs estão sempre sofrendo mudanças, mesmo que essas sejam
operadas de forma muito sutil.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Essa
historicidade da fé faz com que uma compreensão
histórico-metafórica das narrativas religiosas funcione como
“verdade” para mim, mas que não funcionem como “verdade”
para outras pessoas que possuam, por exemplo, bases socioculturais
diferentes das minhas. Isso não torna (parte de) nossas perspectivas
“certas” ou “erradas”, em si, mas apenas diferentes. Como a
religião, de forma geral, não lida com fatos mensuráveis
(objetivos), mas, majoritariamente, com concepções da realidade,
rejeito a visão binária de certo-errado, verdadeiro-falso, quando
lido com a realidade religiosa.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
mito religioso – e “mito” não é sinônimo de “mentira” –,
para mim, é um instrumento pedagógico, uma ferramenta que nos ajuda
a construir uma compreensão daquilo que está além da explicação
binária. Assim, verdadeiro-falso não diz muito sobre o mito (isto
é, a narrativa que aponta para uma verdade além da factualidade,
que ultrapassa os limites do que é objetivo/quantificável) – essa
binaridade não funciona em minha compreensão da realidade religiosa
em geral, nem da cristã em particular.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<b>O
senhor acredita em Deus?”</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Penso
que já tratei tantas vezes sobre esse tema que me restaria pouco a
dizer. Há um ano, publiquei um texto no qual discuto a questão, e
ele ainda representa, em grande parte, minha compreensão sobre o
assunto
[<<b><a href="https://cristianismoprogressista.blogspot.com/2017/09/minha-teontologia-ou-o-que-acredito.html">https://cristianismoprogressista.blogspot.com/2017/09/minha-teontologia-ou-o-que-acredito.html</a></b>>].
Mas, resumidamente, o problema se refere ao fato de que tenho um
grande problema com o verbo “<b>acreditar</b>”, no sentido com o
qual é geralmente usado.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Se
tivesse de dar uma resposta direta, sem nenhuma explanação
filosófico-teológica complexa, diria que <b>CREIO em Deus –</b><b>
isto é, confio na e experiencio a realidade de Deus</b>. O verbo
“crer” parece guardar uma ligação mais explícita com o sentido
de “confiar” que, para mim, é mais importante do que afirmar um
assentimento intelectual. (Ou seja, <b>não sou um ateu</b> – se
esta é a pergunta.)</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Apesar
de a discussão dos verbos utilizados parecer irrelevante para um
leitor/ouvinte leigo, para um Ministro religioso, um teólogo, um
filósofo da religião, etc, os termos utilizados dizem muita coisa.
Por isso, quando falo sobre o Divino, reflito sobre a linguagem
utilizada. Essa reflexão é parte integrante de meu ofício, e
resulta, obviamente, de minha história pessoal. Minha educação
religiosa e intelectual me ensinou o questionamento. Questionar é
fazer perguntas – perguntas para algumas das quais nunca chegaremos
a uma resposta objetiva. E o questionamento, esse processo reflexivo
de fazer perguntas, é uma atividade essencialmente linguística. Daí
a preocupação com a demarcação das fronteiras de sentido para os
termos que utilizamos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
De
qualquer forma, naquele texto explico minha compreensão sobre Deus.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Paz a todas e todos! </div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+
Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-24703411573194258702018-09-26T12:18:00.000-07:002018-09-26T12:48:55.297-07:00Céu, inferno, vida após a morte?<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Um
dos problemas mais presentes na vida de qualquer ministro religioso e
professor de Teologia, como eu, é o problema da morte. Isso porque a
morte, mais até do que o nascimento, se faz presente na vida de
qualquer família, de qualquer comunidade, e a religião sempre
serviu como uma forma de lidar tanto com o mistério como com a dor
da morte.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Frequentemente
me perguntam se acredito em vida após a morte – se acredito em "<b>céu</b>"
e "<b>inferno</b>" –, e alguns dos que me questionam parecem se perturbar ou
surpreender com o fato de eu, mesmo sendo um ministro religioso,
dizer que o assunto me é indiferente. Hoje, gostaria de responder a
alguns questionamentos feitos por um leitor de São Paulo – que,
infelizmente, não assinou sua mensagem, mas indicou sua cidade.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Realmente,
não me importo com questões referentes a uma suposta vida após a
morte (o que inclui temas como “céu” e “inferno”). <b>Minha
tradição religiosa tende a se centrar numa ética [judaico]cristã,
e não em dogmas teológicos sobre temas específicos. Assim, minha
preocupação religiosa é com a vida, com as relações humanas e
com a Criação, relações através das quais encontro o Divino
(Deus). Meu Cristianismo está focado na prática duma eticidade
ensinada nas Escrituras: amor ao próximo – através do qual se
demonstra amor a Deus –, serviço, compaixão, perdão, a
construção do “shalom” de Deus aqui e agora.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Tendo
a encarar “céu” e “inferno” não como realidades objetivas,
mas, antes, como metáforas que apontam para esperanças e/ou
desesperos humanos. São parte duma linguagem teológica que reflete
uma visão de mundo que não se concilia com minha compreensão do
Universo. Por isso, são temas que não me interessam – com os
quais não gasto meu tempo (a não ser que seja para discutir a
história desses conceitos, como se desenvolveram e se tornaram parte
do repertório teológico cristão).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que ocorre após a morte não pode ser conhecido por nós – pode,
apenas, ser especulado. E, entre especular sobre algo que não pode
ser desvendado e saber como lidar com o conhecível, prefiro este
último. Quando nos centramos em reflexões teológicas acerca da
vida em sociedade, acerca de como nos relacionarmos com a Criação,
sobre como a prática religiosa pode contribuir para construir paz e
justiça no mundo agora, isso é saber lidar com o conhecível
(aquilo que temos a capacidade de conhecer).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Portanto,
se alguma vez eu falei/escrevi sobre “céu” ou “inferno” –
o que não me lembro de ter feito até hoje, a não ser em estudos
históricos –, o fiz unicamente em linguagem metafórica,
simbólica, provocadora, e não como uma realidade objetiva.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Alguém
poderia apontar trechos da Bíblia nos quais são feitas referências
ao “céu” ou “inferno”. É verdade, estão lá. Mas, para
minha tradição, <b>Bíblia e Cristianismo não são sinônimos. A
Bíblia é (apenas) uma das fontes teológicas do Cristianismo; além
dela, temos a Razão, a Tradição e a Experiência</b>. Quando analiso o
tema na Bíblia à luz das demais fontes teológicas, o considero
irrelevante.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Além
disso, é importante ressaltar que não há, no Novo Testamento
cristão, nenhuma visão coerente e amplamente compartilhada em todos
os escritos sobre “céu” ou “inferno”. O que podemos
encontrar são apenas pequenos fragmentos duma descrição do que
seriam esses dois; não há nenhuma passagem longa onde “céu” ou
“inferno” sejam descritos de forma clara e dogmática. A visão
cristã da vida pós-mortal se desenvolveu a partir do contato entre
o judaísmo rabínico, dos escritos canônicos cristãos, e da
cultura greco-romana – e é por isso que é mais ampla a
preocupação com o tema por parte dos Padres da Igreja do que dos
próprios escritos canônicos do Novo Testamento.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isso
explica porque há compreensões tão distintas sobre o que acontece
após a morte em cada uma das tradições cristãs do mundo. Cristãos
ortodoxos, católicos romanos, luteranos, reformados, anglicanos,
unitaristas, universalistas, restauracionistas, pentecostais, etc,
abraçam visões diferentes sobre o que acontece após a morte e
como. E essa variação de visões tem existido desde a origem do(s)
Cristianismo(s).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Por
essas e por outras razões, não posso afirmar absolutamente nada
sobre uma suposta vida pós-mortal. Pessoalmente, não me preocupo
com isso; não é um tema “essencial”. Isso não me torna uma
pessoa “sem esperança” ou “perdido”. Para mim, é suficiente
crer que a vida dos que morreram, de alguma forma, continua na terra.
É nesse sentido que a vida pós-mortal funciona como uma metáfora.
Acreditar que irei para o céu ou o inferno não influenciaria em
absolutamente nada a minha vida: minha compreensão de Deus, de
ética, da teologia cristã, da minha relação com os demais seres
humanos e com a Criação, da dignidade e valor humanos é o que guia
minhas ações – não uma [des]crença em punição ou recompensa
eternas.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Respeito
a opinião dos que aceitam esses aspectos especulativos da teologia
cristã, mas, para mim, eles não possuem nenhuma relevância para
minha relação com o Divino e/ou com o mundo social.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-41497702214525190502018-03-31T16:21:00.001-07:002018-03-31T16:21:12.403-07:00Feliz Páscoa: por uma fé viva em nossas ações
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Nós
somos um povo pascal. E isso, apesar de poder significar muitas
coisas diferentes para diferentes pessoas, para a maioria de nós
significa que estamos comprometidos com o espírito daquilo que
cremos ter sido ensinado e exemplificado nos relatos sobre Jesus que
lemos nas Escrituras cristãs.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Como
todos vocês sabem, a maioria de nós unitaristas não compreende
aqueles relatos da mesma forma que os cristãos que abraçam uma
compreensão dita “ortodoxa”. Eu, certamente, me encontro entre
esses. Como um unitarista, não compreendo a morte de Jesus de Nazaré
como um sacrifício em favor da humanidade – essa doutrina, a
propósito, é altamente ofensiva para mim, já que (entre outras
coisas), para aceitá-la, teria de acreditar numa divindade
moralmente antropomorfizada que não é capaz de perdoar sem exigir
um pagamento por isso (um pagamento de sangue feito por uma pessoa
inocente).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não
é isso que vejo e celebro na Páscoa.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Repetidamente,
ao longo do Novo Testamento cristão, aprendemos que ser seguidor de
Jesus é uma questão de ação no mundo. O autor do <b>Evangelho de
Mateus</b>, por exemplo, atribui a Jesus as seguintes palavras:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<i>Tudo
o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês
também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas</i>”
(7:12).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
E
ainda:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“…
‘<i>eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com
sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua
casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e
cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar’.
Então lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te
vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te
vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te
visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês:
todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus
irmãos, foi a mim que o fizeram’.</i>” (7:35-40)</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Em
outro livro do Novo Testamento, encontramos:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<i>Se
alguém pensa que é religioso e não sabe controlar a língua, está
enganando a si mesmo, e sua religião não vale nada. Religião pura
e sem mancha diante de Deus, nosso pai, é esta: socorrer os órfãos
e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo</i>”
(Tiago 1:26-27).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
E
mais adiante:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<i>Assim
também é a fé: sem as obras, ela está completamente morta</i>”
(Tiago 2:17).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Em
outras palavras, é nas nossas relações com outras pessoas no dia a
dia que vivemos nossa fé. É seguindo aquelas admoestações e
mandamentos de amar e servir e cuidar que demonstramos nosso
compromisso como seguidores e discípulos de Jesus. Não importa que
perspectivas teológicas abracemos sobre quem é Jesus: o que
realmente importa é se estamos realmente praticando aqueles
ensinamentos que os autores das Escrituras atribuíram a ele.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Minha
oração é que todos possamos “divinizar” nossas relações com
as pessoas com as quais compartilhamos este planeta, e possamos
encarnar em nossas ações o poder vivificante do testemunho pascoal.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Desejo
a todos uma Feliz Páscoa, compartilhando aquelas conhecidas palavras
de nossa oração de despedida da liturgia da Comunhão:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<i>Cristo
nasce em nós quando abrimos nossos corações à inocência e ao
amor. Cristo vive em nós quando caminhamos a senda do perdão,
reconciliação e compaixão. Cristo morre em nós quando nos
rendemos à nossa própria arrogância, egoísmo e ódio. Cristo
ressuscita em nós quando nossas almas se despertam da morte
espiritual para se unirem à comunidade de amor, para entrar no reino
divino aqui mesmo neste mundo. Saiamos em paz. Amém.</i>”</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-41100632530338184042018-03-18T18:33:00.002-07:002018-03-18T18:33:54.260-07:00Uma fé política?!
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esta
semana, recebi um e-mail dum leitor furioso do <i>Chronicle</i>, que –
dentre palavras que não ousaria repetir aqui – me “acusava” de
ser um “esquerdista” que pregava o que ele chamou de “evangelho
de Marx”, e não o de Jesus! Seus comentários pouco compassivos
obviamente emergiram em decorrência do que eu escrevera sobre o
brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista
Anderson Gomes, no Brasil, e do ativismo de estudantes pelo controle
de acesso às armas de fogo, nos Estados Unidos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que escrevi, anteriormente, mantenho aqui. Nossas autoridades
políticas e policiais falharam com Marielle e Anderson, e falham com
a sociedade. E agora, mais do que nunca, deveríamos demiti-los. Isso
porque não têm cumprido com suas obrigações enquanto agentes do
Estado. Igualmente, somos todos culpados por seus crimes, já que
deles não cobramos suficientemente por suas faltas e erros. Assim,
temos nossas mãos sujas com o sangue de todos os que morrem em nossa
sociedade: ou porque escolhemos erroneamente nossos governantes, ou
porque não exigimos que façam o trabalho para o qual foram eleitos
e pelo qual pagamos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Foram
essas as ideias que compartilhei e que levaram aquele leitor a fazer
certas acusações contra mim. E, por educação, farei alguns
esclarecimentos:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
1.
POLITICAMENTE: “Esquerdista”, para mim, não é um termo
pejorativo; logo, chamar-me de tal não chega a ser uma ofensa. Na
verdade, só evidencia que talvez aquele leitor devesse pesquisar um
pouco mais o sentido do termo na teoria política. Politicamente, a
propósito, sempre me identifiquei com um ideário “liberal
democrata”; sempre fui um ardente partidário das liberdades civis,
da separação entre Estado e Igreja, da resistência não violenta,
da paz, dos direitos humanos, do respeito à vida de toda a Criação,
da proteção àqueles que são agredidos pelos poderes deste mundo –
e isso, sim, realmente me localizaria à esquerda no espectro
político retilíneo (que, de qualquer forma, não é a maneira como
retrato o mundo político ao meu redor). Essas ideias e escolhas que
abraço, a propósito, não têm origem nos escritos de Marx – por
cujo pensamento “positivista” sempre tive pouquíssima simpatia
–; sua origem está em minha teologia política cristã,
unitarista, não conformista (deveras “liberal burguesa” para ser
caracterizada como “marxista”).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
2.
TEOLOGICAMENTE: Aquelas características de meu ideário político
não advêm dos escritos de Marx ou de cartilhas políticas de
partidos de “esquerda”. Elas são provenientes de minha teologia.
Elas são a forma como aprendi a interpretar os ensinamentos tanto de
minha herança judaica reformista quanto de minha fé cristã
liberal. Não são invenção de Marx – apesar de poder encontrar
muita proximidade com algumas de suas ideias –, e não são apenas
ideários de partidos políticos. São, antes, a soma de séculos de
reflexão por parte de pensadores religiosos e políticos, artistas,
mães e pais, poetas, professores e tantos outros, cujas palavras e
ações influenciaram a forma como compreendo o mundo. São ideias
que estão presentes nos escritos sagrados e textos litúrgicos de
minhas tradições religiosas, filtrados pelas lentes de meu meio
sociocultural.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Os
esclarecimentos acima não são uma justificativa para me afastar da
visão que compartilho com meus irmãos e irmãs “esquerdistas”
(para usar a linguagem daquele interlocutor). São, antes, uma
tentativa de ensiná-lo e a outros que o mundo não é uma tela em
preto e branco, mas sim uma mistura de diferentes cores em múltiplas
tonalidades. Na verdade, fico muitíssimo feliz de encontrar pontos
de concórdia com pessoas que, em outros assuntos, possivelmente
discordariam de mim – e vice-versa. Fico feliz em misturar minhas
cores às delas. Estarei sempre disposto a caminhar ao lado daqueles
que buscam um mundo de concórdia, de paz, de compreensão, de
compaixão, de vida – independentemente de sua localização em
qualquer espectro político ou religioso.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que realmente importa, em minha compreensão, não é a etiqueta que
prendemos às nossas crenças e/ou descrenças. O que importa, o que
realmente importa, é o que fazemos no dia a dia, é a forma como
tratamos aqueles que compartilham este mundo conosco. Se não
encontrarmos um meio de viver com a diferença, acabaremos nos
matando uns aos outros e destruindo o que restou deste planeta. E
isso seria a derrota definitiva de nossa “humanidade”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Finalizo
esta, compartilhando um trecho da Bíblia cristã que está sempre
diante de mim, em meu escritório, para me lembrar de minhas
promessas batismais e das promessas que fiz quando de minha
ordenação:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“<b>Há
um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por
meio de todos e está presente em todos.</b>” (Efésios 4:6)</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
É,
enfim, cuidando das pessoas que estão ao nosso redor que podemos
encontrar o Divino. Esta é a única maneira de vivificar nossa fé e
curar – ou, se preferir, “salvar” – o mundo!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<br />
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-25271674153736235972017-12-21T13:39:00.001-08:002017-12-21T13:39:37.716-08:00Natal: Jesus, refúgio e a hospitalidade
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Todos
os anos, durante o período do Advento (as quatro semanas que
antecedem o Natal, no calendário cristão), preparo-me para celebrar
a data na qual comemoramos o nascimento de Jesus de Nazaré –
aquele que a maioria dos cristãos prefere chamar de “Cristo”, e
cujo nascimento celebra como aquele dum membro duma família real,
com cânticos, árvores iluminadas com luzes coloridas, estrelas que
simbolizam sua grandeza cósmica, jantares caros e trocas de
presentes.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Apesar
de eu gostar muito das tradições natalinas – especialmente das
celebrações litúrgicas e das cantatas às quais estou acostumado
–, o Natal, para mim, não é a celebração do nascimento dum
membro da realeza celestial (ou terrestre). A data é, em minha vida,
um memorial à experiência da busca de refúgio – um lembrete da
experiência do “êxodo”, que, metaforicamente, pode tornar-se a
experiência de toda a humanidade.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Se
tivermos de entender a narrativa do “<b>êxodo</b>” de Jesus – em
<b>Mateus 2:13-23</b> – como factual, então a vida do menino começa
como a vida dum refugiado em terra estrangeira. Não como a dum
príncipe ou rei. <b>É se refugiando em outra terra, para escapar
daqueles que o perseguem, que Jesus inicia sua vida.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isso
pode parecer irrelevante para muitos, mas, para mim, é o que há de
mais importante na narrativa natalina. E não importa o quão pouco
factual seja a narrativa do êxodo de Jesus – considerando que a
mesma pode ter sido construída apenas para transformar a figura de
Jesus na dum novo Moisés –; o que realmente importa é que ela o
proclama como igual às crianças, mulheres e homens que deixam seus
lares em busca de segurança e de vida, nas mais diferentes regiões
do mundo, sob os mais diversos contextos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
Jesus que aguardo no Advento, e que celebro no Natal, é um Jesus que
sofre e busca refúgio e que, assim, é dependente da hospitalidade e
compaixão dos humanos. É o Jesus que diz que quando alimentamos,
damos de beber, vestimos, visitamos, somos hospitaleiros com os
estrangeiros, é a ele que fazemos essas coisas (<b>Mateus 25:35-45</b>).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esse
é o Jesus que aprendi a celebrar. É o Jesus com a face de <b><i>Ada,
Concepción, Ibrahim, Mahmood, Moji, Alejandro</i></b> e tantos outros. Para
mim, o Natal só é comemorado para que eu me lembre que era deles e
delas que Jesus falava, que era eles e elas que deveriam ser
“celebrados” em minha vida, nesta data. Só assim eu poderia
realmente viver o que Jesus ensinou.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>O
Natal, para mim, é uma celebração do refúgio – do refúgio que
os seres humanos devem encontrar nos braços, corações e casas de
seus irmãos e irmãs.</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Minha
oração é que possamos estar abertos e prontos para receber esse
Jesus – esse Jesus que se manifesta nas faces dos seres humanos –
neste Natal.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Vem,
Mestre galileu!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Feliz
Natal!</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-77466393549793823482017-09-23T20:54:00.000-07:002017-09-23T21:18:28.409-07:00Minha teontologia – ou, o que acredito sobre “Deus”<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="right" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson
da Costa</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 3.9cm; page-break-before: auto;">
“<b>[…] Ele não está longe de cada um de nós, pois nele
vivemos, nos movemos e existimos […]” (Atos 17:27b-28a)</b></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
“Deus”
frequentemente tem sido o assunto sobre o qual me escrevem de forma
pouco compassiva. Enquanto, pessoalmente, me preocupo muito mais com
o viver aquilo que chamo de “fé”, muitos de meus interlocutores
se preocupam muito com declarações de crença que se encaixem em
sua <b>ortodoxia</b> – seu conjunto de “crenças corretas” –,
por isso, sempre me pedem que “defina” o que acredito sobre Deus,
por exemplo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Uma
de minhas mais recorrentes provocações – e a mais atacada por
leitores de outras tradições cristãs – é a de dizer que “não
<b>acredito</b> em Deus”. Tenho repetidamente explicado que o verbo
<b>acreditar</b><span style="font-weight: normal;"> é muito limitado,
pois coisifica Deus, </span><span style="font-weight: normal;">tornando
a Divindade um tipo de entidade pessoal que depende de meu esforço
intelectual (a crença) para que seja “real”. Pessoalmente,
também rejeito a noção de </span><i><span style="font-weight: normal;">existência</span></i><span style="font-weight: normal;">
de Deus. Em minha experiência e compreensão, Deus não existe
porque a </span><i><span style="font-weight: normal;">existência</span></i><span style="font-weight: normal;">
é uma qualidade de objetos/entidades físic</span><span style="font-weight: normal;">o-espaciais</span><span style="font-weight: normal;">.
</span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">P</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">refiro
falar em minha confiança em Deus, em vez de falar em crença em Deus
– </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">e
mesmo “confiança”, assim como o próprio nome “Deus”,
apresenta(m) limitações</span></span><span style="font-weight: normal;">.</span></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">N</span><span style="font-weight: normal;">ão
tenho absolutamente nenhum desejo em criar uma declaração
teontológica própria. Minha compreensão sobre o Mistério Eterno é
limitadíssima </span><span style="font-weight: normal;">para que eu
seja capaz de articular “definições” metafísicas a seu
respeito</span><span style="font-weight: normal;">. Deus, para mim, é
inqualificável, já que “está” além de minhas limitações
cognitivas e linguísticas. Toda e qualquer linguagem que use para
referir-me à Divindade é apenas metafórica, simbólica,
figurativa. E é assim que o que escrevo abaixo deve ser entendido:</span></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<ul>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">C</span><span style="font-weight: normal;">ompreendo
Deus como </span><span style="font-weight: normal;">uma Unidade
Absoluta. Por “Unidade”, refiro-me a um Mistério que está
metaforicamente acima de tudo e de todos, </span><span style="font-weight: normal;">para
</span><span style="font-weight: normal;">além de toda divisão, de
toda compreensão, de toda classificação, de toda nomeação.</span></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">Compreendo Deus como absolutamente
simples, sem nenhuma propriedade – incluindo personalidade,
bondade, onipotência etc, – já que propriedades são atributos
de seres </span><span style="font-weight: normal;">espácio-temporais</span><span style="font-weight: normal;">.</span></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">Compreendo Deus como absolutamente
</span><span style="font-weight: normal;">para </span><span style="font-weight: normal;">além
do tempo e do espaço </span><span style="font-weight: normal;">e,
como consequência, </span><span style="font-weight: normal;">para
</span><span style="font-weight: normal;">além da própria
existência</span><span style="font-weight: normal;">.</span></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">Compreendo Deus como </span><span style="font-weight: normal;">para
</span><span style="font-weight: normal;">além de causas e efeitos.</span></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">Compreendo Deus como </span><span style="font-weight: normal;">para
</span><span style="font-weight: normal;">além de toda compreensão
e imaginação humanas.</span></div>
</li>
</ul>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-weight: normal;">Assim,
se e quando utilizo expressões como “Deus é amor”, “Deus é
</span><span style="font-weight: normal;">p</span><span style="font-weight: normal;">az”,
por exemplo, as tomo como uma linguagem metafórica, uma figura capaz
de ser captada pela imaginação, e não como uma declaração </span><span style="font-weight: normal;">que
deva ser compreendida de forma </span><span style="font-weight: normal;">literal.</span></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não tenho fé num Deus-Pessoa que espelha minhas próprias
limitações humanas. Tenho esperança e interesse pelo Divino como
“para além” do compreensível ao mesmo tempo em que “se
manifesta” no comum. Os termos “para além” e “se manifesta”
são a chave aqui: a preposição “para” indica um movimento; o
termo “além” aponta para uma não-limitação; e “se
manifesta” aponta para uma relação entre o Divino e o humano.
Usá-los, ao falar da Divindade, é uma referência à
“<b>transcendência</b>” e à “<b>imanência</b>” divinas:
respectivamente, a alteridade e a proximidade desse Mistério que
chamo de “Deus”.</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não tenho absolutamente nenhuma necessidade de caracterizar esse
Mistério como uma entidade antropomorfa – isto é, não preciso
acreditar num Deus com características humanas. Compreendo a
linguagem tradicional do Deus abraâmico – nas tradições
judaicas, cristãs, muçulmanas, babistas etc – como um Deus
pessoal apenas como uma metáfora. Usamos essas metáforas porque
nossa imaginação é limitada, e não porque a Divindade assim seja
– para mim, como disse, a Divindade sequer “é”, já que “ser”
é uma característica de seres ou coisas físico-espaciais e, logo,
limitadas.</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Acredito que mais importante do que me preocupar com definições
acerca de Deus é me preocupar com o ser humano. Como Deus está além
de minha compreensão, e como, ao mesmo tempo, se manifesta no mundo
na face das pessoas que me cercam, é amando-as e servindo-as que
posso amar e servir a Deus. E conseguir fazer isso já representa um
desafio suficientemente grande para mim!</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-63950804592369714072017-09-19T17:35:00.000-07:002017-09-19T17:35:30.106-07:00Todas as pessoas
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Ao
longo de meu trabalho pastoral entre migrantes paralegais, desenvolvi
um carinho especial pelas palavras das promessas que fazemos na
<b>Aliança Batismal</b>. É verdade que aquelas palavras sempre
foram muito importantes para minha espiritualidade, mas a convivência
com a desumanidade da “fronteira” (um termo que uso com um
sentido metafórico especial) as reveste dum significado renovado.
Penso especialmente nas seguintes palavras:</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm; page-break-before: auto;">
<span style="font-size: x-small;">[…]</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Você buscará e servirá a
Cristo em todas as pessoas, amando o seu próximo como a si mesmo?</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Sim, com a ajuda de Deus.</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Você trabalhará pela
justiça e pela paz entre todas as pessoas, e respeitará a dignidade
de todo ser humano?</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Sim, com a ajuda de Deus.</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Essas
palavras exercem um poder convocatório sem igual. E, por serem parte
da Aliança Batismal, carregam em si um senso de obrigatoriedade mais
potente do que qualquer outra palavra sagrada em minha vida
espiritual. Elas exigem, de mim, uma reflexão profunda sobre “todas
as pessoas”, e sobre o que significa “servir”, “amar”,
“trabalhar” e “respeitar” – os verbos que rezamos naquela
Aliança.
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que fazemos daquelas palavras quando nos deparamos com os pecados
etnocêntricos do tribalismo, do nacionalismo e do patriotismo? O que
fazemos com aquelas promessas se e/ou quando decidimos fazer com que
todos os povos se tornem discípulos de Cristo – o problemático
convite feito pelo Cristo do Evangelho de Mateus 28:19-20? Até que
ponto respeitamos “a dignidade de todo ser humano” quando
esperamos que todos sejam como nós – ou quando supomos que Deus
seja propriedade de nossa tradição religiosa?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Ou o
que fazemos daquelas palavras quando nos calamos diante da injustiça
e assistimos silenciosa e passivamente à violência perpetrada
contra outros seres humanos, como o que ocorre contra grupos étnicos
minoritários, refugiados e migrantes mundo afora? Ou quando nos
calamos e não agimos quando atacam – em nome de qualquer Deus,
homem ou nação – pessoas que abracem outras crenças religiosas,
crença religiosa nenhuma ou certa ideologia política? Ou quando
permitimos que, em nome de Deus ou da “nação”, pessoas tenham
sua dignidade humana desrespeitada por qualquer motivo?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
que fazemos daquelas palavras quando sabemos que outras pessoas estão
com fome na rua, e pensamos que não há nada de errado em comermos
num restaurante caro, pois, afinal, isso é uma “questão de
mérito”? Ou, ainda, o que fazemos daquelas palavras quando
continuamos a votar em políticos corruptos que atentarão contra a
“dignidade” humana dos demais membros de nossa sociedade ou de
qualquer outra sociedade?</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
verdade é que aquelas promessas são o maior desafio que nos podem
ser feitos em nossa jornada espiritual. Elas são um testemunho de
que a “fé cristã” exige ação no mundo: não ação para
convencer ou converter pessoas, mas ação para curar e vivificar a
vida humana.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-3297484917849130882017-08-26T08:37:00.003-07:002017-08-26T12:50:36.646-07:00Não à "tolerância"!<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm; page-break-before: auto;">
<span style="font-size: x-small;">Você defenderá a justiça e
a paz para todas as pessoas, e respeitará a dignidade de cada ser
humano?</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;">Sim, com a ajuda de Deus.</span></div>
<div align="right" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;">(Trecho da Aliança Batismal)</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Como
bem nos lembram as promessas que reafirmamos quando recitamos a
Aliança Batismal, somos religiosamente educados para honrar a
dignidade humana. O ser humano, nas tradições jordânicas – os
judaísmos, os cristianismos, os islãs, os babismos etc –, é
compreendido como tendo sido criado à “imagem de Deus”. Assim,
respeitá-lo como uma criação divina e honrar sua dignidade e valor
é indissociável das compreensões que nossas tradições têm do
Divino.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Essa
preocupação com o valor e a dignidade humana é, às vezes,
rearticulado através daquela palavra tão repetida: “tolerância”.
Assim, frequentemente, fala-se em “tolerar” outras pessoas,
“tolerar” os que pensam diferentemente de nós, “tolerar” as
outras tradições de fé (religiões), “tolerar”, “tolerar”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Pessoalmente,
tenho um enorme desconforto com a palavra “tolerância” e todos
os verbos e adjetivos com os quais se relaciona. Mesmo compreendendo
o sentido que muitos entre nós dão a esses termos, “tolerância”,
“tolerar” e “tolerante” parecem ser exatamente o contrário
do espírito que nossas tradições – e, mais especificamente, os
cristianismos – nos convidam a materializar em nossas ações.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Afirmarmo-nos
como “tolerantes”, para mim, seria o ápice da arrogância
espiritual. Ora, ter “tolerância” por alguém é afirmar que me
encontro numa posição mais elevada, mais avantajada do que ela, e
que ofereço-a minha “misericórdia”. É dizer que sei mais do
que ela e que, por isso, demonstro-lhe minha “piedade” para com
seu estado de ignorância.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Isso,
certamente, não é o que prometemos quando rezamos em comunidade
nossa Aliança Batismal nas liturgias de Batismo e de Confirmação.
O que prometemos é enxergar e servir a Deus uns nos outros e em
todos os demais seres humanos, independentemente de quem sejam, de
onde estejam em sua jornada espiritual e do que tenham feito na vida.
E aquela promessa não nos exige “tolerância”: exige <b>respeito</b>,
exige <b>reconhecimento</b>, exige <b>apreciação</b>, exige
<b>serviço</b>, exige <b>amor</b> – não “tolerância”.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Respeitar,
reconhecer, apreciar, servir, amar não equivalem a abandonarmos
nossas crenças e princípios, a concordarmos com tudo o que os
outros pensam. Equivale, sim, a aceitar que da mesma forma como temos
o direito de buscar, de crer, de descrer, de ser, outras pessoas –
especialmente aquelas de quem discordamos – também têm. E fazê-lo
é reconhecer que nossa compreensão do Divino e de nós mesmos é
limitada, e que Deus não é nossa propriedade. Demonstrar
“tolerância”, por outro lado, é negar essa limitação à qual
todos estamos sujeitos(as).</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não à "tolerância"! Deus
nos livre da “tolerância”!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-51415167585914154282017-07-29T21:22:00.002-07:002017-12-23T06:08:36.376-08:00Um cristão agnóstico?: Uma resposta às provocações de Soraya Pontes<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
[Sobre
o texto “<a href="https://cristianismoprogressista.blogspot.com.br/2010/09/um-cristao-agnostico.html"><span style="text-decoration: none;"><b>Um
cristão agnóstico?</b></span></a>”, de minha autoria –
publicado neste blog em 8 de setembro de 2010.]</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Escrevi
aquele texto há cerca de sete (7) anos. Ao longo desse tempo,
obviamente, mudei intelectual e espiritualmente. Reformulei algumas
de minhas compreensões. Tive novas experiências de vida que me
fizeram compreender a Realidade que chamo “Deus” a partir de
outras perspectivas. Mas continuo a rejeitar o dogmatismo quando
penso, falo ou escrevo sobre Deus.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Deus
é Real. Mas não é uma coisa ou uma entidade. Assim, não uso o
verbo “existir” para me referir a Deus. Não posso quantificar
Deus como o faria ao ar, à água, ao computador diante do qual me
sento agora ou a mim mesmo. Essa é uma questão muito mais profunda
do que você imagina. Compreendo a razão pela qual isso lhe
parece uma “ignorância”, Soraya: para você é assim porque você
lê o mundo com lentes diferentes daquelas que uso; assim, não
consegue compreender a relevância da linguagem para discussões
teológicas. Isso não a torna menos certa do que eu – apenas torna
sua perspectiva diferente da minha; e vice-versa.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Tenho
a impressão de que você não tenha compreendido que aquele texto é
uma provocação. O uso do termo “agnóstico” é proposital.
Acaso não percebeu o uso duma interrogação ao fim do título? O
próprio texto pode esclarecer, para qualquer leitor atento, o que
quis dizer com aquelas palavras.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Deus,
para mim, é uma Realidade que está além de qualquer formulação
dogmática de qualquer tradição religiosa. Assim, Deus não é
judeu, não é cristão, não é muçulmano, não é budista, não é
xintoísta, não é hindu, nem mesmo ateu. Deus não é propriedade
de qualquer religião, filosofia, credo, ou grupo exclusivista. Deus
é o nome que muitos de nós damos àquela Realidade que está além
de nossa compreensão. Porque não a compreendemos, utilizamos
figuras metafóricas próximas às nossas experiências culturais
para nos referirmos a ela. Assim, muitos chamam essa Realidade de
Deus, de Pai, de Mãe, de Grande Espírito, de Poder, de Hashem, de
Allah, ou de qualquer outro nome que possa exprimir – mesmo que
imperfeitamente – aquilo que sentem.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Atribuir
um nome a essa Realidade, contudo, não significa necessariamente
abraçar uma noção dogmática sobre quem ou o quê seja “Deus”
– isto é, não significa pensar que possamos saber, humanos como
somos, tudo o que se possa saber sobre “aquele” que já foi
chamado de “Mistério”. Foi isso que quis dizer com aquele texto
provocativo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Se
aquelas palavras me tornam um “ignorante” ou menos “cristão”
que você... bem, não me preocupo. Em minha tradição religiosa,
questionar, perguntar, duvidar é sempre um caminho para construir
pontes de compreensão, sempre um caminho para se chegar a Deus. Não
tenho interesse algum pelo conforto do dogma inquestionável e
petrificado – prefiro o caos do serviço e do discipulado, que é
onde encontro a Deus.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Que
bom que você já está tão além de minha compreensão sobre Deus e
já consegue compreender o Mistério Divino com tamanha segurança, a
ponto de não questionar os verbos, substantivos e adjetivos que
utiliza. Eu ainda não cheguei a este ponto – na verdade, como
escrevi antes, não tenho, hoje, interesse em fazê-lo. Mas fico
feliz que você possa fazê-lo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Paz!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-89354774575324641502017-07-04T12:32:00.004-07:002017-07-04T12:33:32.217-07:00Por que não faço vídeos para este blog?<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Alguns
dos leitores deste blog já me pediram, várias vezes – e por motivos
variados –, que eu fizesse vídeos para postar aqui, em vez de
escrever textos (que, na opinião de alguns, são frequentemente
“muito longos”). Hoje, gostaria de responder às suas provocações
e enumerar algumas razões pelas quais tenho me recusado, até aqui,
a fazer vídeos para este espaço.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<ol>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não quero me tornar um vlogueiro. Não tenho talento para isso, nem
tenho interesse em me preocupar com aparência e voz, com iluminação
e cenário, etc. Prefiro que meu tempo “livre” seja gasto com o
pensar sobre aquilo acerca do qual escrevo – escrever, afinal,
exige a reflexão da parte de quem escreve. Escrevendo, eu mesmo
aprendo muito mais do que seria capaz de “ensinar” a quem quer
que seja.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Apesar de não ser inimigo da tecnologia – o que se evidencia pelo
meu uso deste espaço –, tenho uma imensa antipatia pelas
respostas fáceis e irrefletidas. Os vídeos online tendem a levar a
esse tipo de comportamento – considerando que o ouvinte, e muitas
vezes o próprio vlogueiro, não têm tempo suficiente para parar e
refletir sobre o que ouviram/disseram, como teriam se estivessem
lendo/escrevendo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Quando escrevo, o faço para um “público” específico. O que
espero desse “público” é que, pelo menos, esteja disposto a
ler – disposto a parar diante da tela ou do papel e ler o que
escrevi, independentemente de sua reação ao texto. Assim, o
simples fato de produzir textos escritos (ou seriam “digitados”?)
funciona como um processo de filtragem de interesses para ambos os
lados: eu seleciono com quem dialogo, e os meus leitores decidem se
o que tenho a dizer lhes interessa ou não.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não estou aqui para me promover como a uma mercadoria. Explico-me:
Quando escrevo, o faço para compartilhar ou discutir ideias, para
provocar outras pessoas de forma respeitável, e não para me
oferecer como “a resposta”. Não sou um candidato a cargo
eletivo. Não sou um artista. Não estou oferecendo, aqui,
absolutamente nada em troca de dinheiro ou ganhos materiais.
(Percebeu que não há anúncios de produtos neste blog?! Eu poderia
adicioná-los aqui se quisesse ganhar dinheiro.) Meu interesse é
com o conteúdo e com as pessoas que o receberão: o conteúdo duma
perspectiva da fé cristã e aquelas pessoas que queiram refletir
sobre a fé de forma aberta. Para isso, você não precisa de minha
voz ou de minha imagem – além daquela que pode encontrar no
perfil desta página.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</li>
<li>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A decisão de não utilizar as linguagens audiovisuais, aqui, não é
definitiva; é, antes, utilitária: por enquanto, atende aos meus
anseios e necessidades e àqueles da maioria, talvez, de meus
leitores. Se, no futuro, perceber que seria mais proveitoso
utilizá-las, poderei fazê-lo. Por enquanto, contudo, não tenho
essa intenção.</div>
</li>
</ol>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Paz a todas e todos!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-50991086825382290832017-05-21T09:14:00.000-07:002017-05-21T09:14:33.009-07:00E o Império do czar Putin persegue mais um grupo: as Testemunhas de Jeová na Rússia
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Em
20 de abril último, a Suprema Corte da Rússia decidiu
favoravelmente à ação aberta pelo Ministério da Justiça contra a
organização das <b>Testemunhas de Jeová</b> no país. Desde então,
a denominação é considerada um “grupo extremista” no país, o
que tem piorado e legitimado a perseguição que o grupo já sofria
na Federação Russa. De acordo com relatos da própria <b>Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados da Pensilvânia</b> (a
principal organização das Testemunhas de Jeová no mundo), membros
da denominação têm sido atacados na rua, suas contas bancárias
têm sido bloqueadas e seus salões de culto têm sido
dessacralizados.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
A
acusação contra as Testemunhas de Jeová é a de que quebraram uma
lei de 2002, frequentemente usada contra grupos que o governo encara
como inimigos. A lei proíbe que grupos religiosos – com exceção
da Igreja Ortodoxa Russa – afirmem pregar a única verdade (o que
fazem as testemunhas de Jeová, e muitos outros). Além disso, o
pacifismo e não envolvimento com a vida eleitoral ensinados pelo
grupo é a razão para que seja classificado como “extremista”.
Assim, as testemunhas de Jeová estão na mesma classificação da
al-Qa'ida e do Estado Islâmico, por exemplo!</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não
sou um Testemunha de Jeová e, pessoalmente, não tenho nenhuma
simpatia por suas crenças, mas seria inaceitável me calar diante de
tamanha violação aos seus direitos humanos básicos. A acusação e
a pena contra as Testemunhas de Jeová na Rússia é uma afronta à
humanidade de todos nós – assim como o é a perseguição sofrida
por todos os grupos religiosos dissidentes na Rússia e em todas as
outras partes do mundo, apenas por suas práticas pacíficas e de não
participação com a vida “secular” serem percebidas como um
desafio ao cetro do poder estabelecido.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
O
direito humano de acreditar no que quer e de expressar essa crença
de forma não violenta é mais importante do que qualquer lei que o
subtraia. Essa é a base de minha fé religiosa e de meu credo
político. E realmente não importa o quanto eu discorde das ideias
defendidas pelos demais: se eles têm seu direito violado, o meu
próprio se foi com eles. É uma vergonha que isso ocorra em pleno
século XXI.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-706954515641479996.post-14110102826874393442017-04-30T08:02:00.000-07:002018-07-06T06:31:21.439-07:00Continuemos como “shalomistas”!<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>O jejum que eu quero é
este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir
a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem
abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua
própria gente. (Isaías 58:6-7)</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Não
nos considero pacifistas, mas “shalomistas”. E isso porque a paz
não se limita apenas à renúncia da guerra e da violência, mas,
antes, compreende a promoção e a associação àquilo que fomenta
um mundo construído sobre aquilo que nossa tradição de fé chama
de “shalom” divina: o domínio de honra ao valor e dignidade da
humanidade e de toda a Criação.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Esse
“shalom” implica comida para os famintos, água para os sedentos,
lar para os desabrigados, vestimenta para o desnudo, companhia para
os solitários, alívio para os que sofrem, ajuda para os mais
fracos, perdão para os que erraram, justiça para os desprotegidos.
Implica ação consciente contra aquilo que se opõe ao valor e
dignidade do ser humano e da Criação. Implica desafiar os Impérios
deste mundo, o ódio, a violência, a guerra, as armas, a corrupção.
Exige uma mudança em nós mesmos.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Nossa
objeção consciente à guerra, à violência, às armas e à
colaboração com a guerra, com a violência e com as armas é uma
forma de nos abstermos da participação nos Impérios deste mundo, e
de nos juntarmos ao “domínio de Deus”. Nossa tradição
religiosa nos ensina que quando matamos ou destruímos outros seres
humanos, estamos matando e destruindo um reflexo de Deus. E nossa
escolha do caminho de “shalom” se baseia nisso.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Essa
é uma escolha impopular neste mundo. No mundo dos jogos violentos,
no mundo dos filmes de “ação”, no mundo das armas, no mundo
onde ser homem é se divertir machucando outros homens, no mundo onde
odiar outras pessoas por conta de suas visões políticas ou
religiosas é a norma, renunciar o caminho da violência para se
relacionar com Deus e com outros seres humanos é estupidez ou sinal de
fraqueza. E por isso, talvez, escolher o “shalom” seja o caminho
menos popular, mesmo entre muitas pessoas religiosas. Mas este é o
único caminho que nos salvará da conformidade com os Impérios do
mundo.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Pretender
ser um “shalomista” é difícil porque é radical. Às vezes, é
deveras solitário, porque é impopular. E, mais do que
frequentemente, é um desafio porque, aparentemente, não é natural
– isto é, exige esforço, exige humildade, exige reconhecimento de
minhas próprias incoerências. Mas é possível porque tantas outras
pessoas o fizeram – Jesus o fez, e tantas e tantos de seus
seguidores o fizeram.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
Assim,
conscientemente escolhamos continuar a seguir este caminho de
“shalom”, o “shalom de Deus”. Com certeza, continuaremos a
tropeçar inúmeras vezes, mas com a ajuda de outras e outros
“shalomistas”, poderemos nos reerguer e voltar ao caminho.</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
+Gibson</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Gibson Da Costahttp://www.blogger.com/profile/09454351536802531876noreply@blogger.com0