Este
é mais um ano de eleições no Brasil. Na verdade, é um ano no qual
as disputas políticas se acirraram de maneira tal que ninguém mais
parece saber em quem confiar para ocupar um posto eletivo. Afinal, o
país se encontra no meio dum furacão político no nível federal,
cujos efeitos se fazem sentir nos cenários estaduais e municipais. E
toda essa convulsão política tem efeitos na vida moral da
sociedade, inclusive, infelizmente, nas compreensões teológicas que
se desenvolvem no seio das comunidades cristãs brasileiras.
Muitos
dos chamados “evangélicos” brasileiros – e devo enfatizar que,
em meu uso, “evangélico” e “protestante” não são
necessariamente sinônimos – importaram a teologia e a política
belicistas de certos grupos ligados à chamada “direita cristã”
dos Estados Unidos, querendo aplicar ao Brasil uma ideologia
desenvolvida para o cenário rural, racista e isolacionista do
chamado “cinturão da Bíblia” americano. Eles têm, no Congresso
Nacional brasileiro, até um nome autoritário para seu grupo
político (nome que se repete, com variações, nas Assembleias
Legislativas de alguns Estados e nas Câmaras de muitos municípios):
“Frente Parlamentar Evangélica” – e chamo de
“autoritário” porque se impõem, publicamente, como
representantes de todos os “evangélicos” brasileiros (algo que,
em si, já deveria tornar-se um motivo de indignação por parte das
comunidades evangélicas e protestantes Brasil afora).
Esses
senhores e senhoras senadores, deputados e vereadores – muitos dos
quais são acusados e/ou processados por corrupção, entre outros
crimes – se vendem não apenas como representantes de seus
eleitores, mas como representantes de Deus, de Cristo e da família.
Seu charlatanismo chega a ser tão explícito que se apresentam como
“apóstolos”, “pastores” e “missionários”, e não como
simples representantes eleitos por uma parcela do “povo”. E isso
porque, assim, podem impor ao seu trabalho legislativo uma imagem de
santidade que não poderiam vender se fossem apenas senadores,
deputados ou vereadores – seriam representantes da Divindade nos
meios legislativos.
A
arma utilizada por esses grupos é antiga e bem conhecida: a
instrumentalização do medo. Assim, criam em seus eleitores, em
seus discípulos, em seus seguidores, em seus fieis o medo de tudo
aquilo que possa parecer diferente. O que é diferente é uma ameaça.
O que é uma ameaça é um inimigo. E o inimigo deve ser combatido
até que não haja mais ameaças. E como a ameaça só existe se
houver inimigo, então... bem, faça as contas e entenderá qual
seria a solução!
O
que essas pessoas fazem vai muito além de apenas criar o medo em
seus eleitores para, assim, conseguirem seus votos em épocas
eleitorais. Eles deturpam o Evangelho de Cristo, violentam a
dignidade da fé e saqueiam a racionalidade teológica para
conseguirem o poder para si. Sua imoralidade é tamanha que conseguem
transformar, na mentalidade e prática de seus seguidores, o
“Príncipe da Paz” em “senhor da guerra”, o Jesus do amor e
perdão em defensor do “direito ao porte de armas”.
Pode
parecer injusto de minha parte, mas não me sinto nem um pouco
culpado ou envergonhado por chamar os membros desse movimento imoral
de “falsos profetas” e “enganadores”. Minha generalização
impiedosa é mais do que necessária. É muito mais vergonhoso que
qualquer pessoa que se identifique como discípulo de Jesus (seja
evangélico, protestante, católico ou adepto de qualquer outra forma
de Cristianismo) não se sinta nem um pouco incomodada em haver
grupos como esses se vendendo como seus representantes políticos.
Esses
representantes de si mesmos, em seu esforço para se tornarem
porta-vozes duma “Política cristianizada” – ou seria
“Cristianismo politizado”? – identificam a mensagem de paz do
Evangelho, o ensinamento cristão do cuidado para com o mais fraco e
o faminto, a atenção para com a viúva e o órfão, etc, como
mensagem “comunista” ou “marxista”. Assim, esses iletrados na
religião cristã, mas também em filosofia política, promovem uma
política anti-Jesus em defesa de sua visão dum “novo” velho
mundo: um mundo no qual o homem-senhor reina sobre “sua mulher” e
filhos, com a Bíblia numa mão e a chibata na outra; um mundo no
qual armas são essenciais para a “paz”; um mundo no qual o
“cristianismo” é tão frágil que é ameaçado por qualquer
crença não “evangelical” (eles não sabem que o Cristianismo
não se limita ao Evangelicalismo!).
Quão
patológico não é o falso “evangelho” anunciado por esses
“profetas” da política brasileira?! E o pior é que seus
discípulos, que, em sua maioria, são pessoas honestas e sinceras
que apenas caíram nas velhas redes do medo, não percebem isso! Se
percebessem, tenho certeza, pensariam dez vezes antes de votar
naqueles senhores ou senhoras.
Não,
esses falsos profetas no Congresso, nas Assembleias Legislativas
estaduais e nas Câmaras municipais não representam a maioria dos
evangélicos brasileiros. E por essa razão, não deveriam ser
eleitos como seus representantes e não deveriam ser retratados como
porta-vozes dos evangélicos ou dos protestantes do Brasil!
+Gibson
Nenhum comentário:
Postar um comentário