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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Sobre a vitória de Jair Bolsonaro (2)

Tendo exposto minhas preocupações e desconforto com o modo como qual o candidato se tornou Presidente eleito, resta-me apenas fazer algumas sugestões àqueles que não votaram em Jair Bolsonaro.

É importante, para mim, afirmar o óbvio: Jair Bolsonaro, independentemente dos sentimentos que possamos ter a respeito de seu comportamento e falas como Deputado e como candidato à Presidência da República Federativa do Brasil, foi eleito Presidente pela vontade da maioria dos votos válidos.

Reconhecer esse fato é reconhecer que aceitar o processo democrático compreende aceitar os resultados que não nos agradam. No processo eleitoral democrático sempre haverá vencedores e perdedores e, desta vez, Jair Bolsonaro e as elites e massas por trás de sua vitória ganharam o processo – mesmo que tenham demonstrado, inúmeras vezes, que não apreciavam o sistema democrático. Ele é o Presidente que assumirá as rédeas do Executivo Federal a partir de 1º de janeiro próximo.

A glória da democracia é que ela permite vozes discordantes e, assim, as cidadãs e os cidadãos, organizados em partidos políticos e em movimentos sociais, podem exercer pressão sobre o Executivo e o Legislativo, cobrando a proteção de seus direitos civis – que o candidato Bolsonaro parecia ameaçar.

Também é possível que o agora Presidente eleito seja, ele mesmo, amansado pelo establishment político – como o foi o ex-Presidente Lula da Silva, por exemplo. Seu comportamento anterior poderá ser aos poucos “planaltizado”, a partir de sua posse, por aqueles com quem trabalhará. Essa é, ao menos, minha esperança.

Seja como for, numa democracia, as vozes minoritárias não podem ser caladas pelas vozes da maioria – e vice-versa. Deve-se aceitar os resultados das eleições – isto é, supondo que nenhum crime tenha sido cometido ao longo da campanha (e estou agora pensando no caso noticiado pela Folha de São Paulo e que, supostamente, ainda será investigado pela Polícia Federal e pela Justiça Eleitoral) – e isso implica aceitar a vitória de Bolsonaro. Mas a relação do cidadão que nele não votou – especialmente daqueles que votaram contra ele (há uma diferença clara entre ter votado em Haddad e ter votado contra Bolsonaro) – não se encerra com a aceitação de sua vitória.

Resta-nos, agora mais do que nunca – especialmente daqueles na educação, na comunicação e na Igreja/religião –, ajudar na construção duma compreensão social ampla do que é a democracia e do que é um Estado Democrático de Direito; a defesa da liberdade e dos direitos de absolutamente todos, especialmente daqueles mais vulneráveis numa sociedade que se dividiu insanamente; o esforço pela construção da paz social, através do diálogo, de todas as formas possíveis.

O Brasil e as brasileiras e brasileiros, afinal de contas, são mais importantes do que a pessoa e os grupos que os governam. Os cidadãos podem e devem elevar suas vozes e trabalhar pela democracia e por seus direitos civis se esses forem ameaçados.

+Gibson


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