Mais
uma vez, me perguntam se creio em Deus. Mais uma vez, lhes digo que
não sei o que querem dizer. O que significa dizer “Creio em Deus”?
Quando alguém diz que crê em Deus, não me diz nada sobre a
Realidade Divina, me diz apenas sobre si próprio(a). Ele(a) me diz
sobre o que faz, e não sobre a Realidade na qual “crê”.
Ultimamente
têm me perguntado em que “Deus” creio: se meu “Deus” era o
mesmo da Bíblia; se o meu “Deus” era o mesmo de Joseph Smith; se
o meu “Deus” era o mesmo do Corão; ou se era ateu. A verdade é
que alguns leitores parecem ter uma obsessão com minha “falta de
claridade em definir” minha crença. E eu que sempre imaginei que o
que escrevo aqui e que a forma como discuto minha fé – aqui, no
púlpito ou em outros espaços – fossem suficientemente claros ou,
pelo menos, sugestivos de minha visão teológica (e teontológica)!
Como
já escrevi inúmeras vezes, a forma como encaramos questões sobre
aquilo que chamo de “aspecto misterioso” da realidade é
condicionada pela forma como compreendemos o resto da realidade. Se
alguém se preocupa tanto em querer uma definição objetiva sobre
quem ou o quê seja o Divino, ao menos em minha visão, é porque tem
uma compreensão de “verdade” diferente daquela que abraço.
Para
que eu fosse capaz de definir Deus nos termos utilizados por alguns
daqueles que me fazem aquele tipo de pergunta, teria de compreender a
Divindade como uma entidade objetiva, mensurável, antropomorfa.
Essa, entretanto, não é a forma como compreendo “Deus”; é a
forma como compreendo você e eu, mas não a Divindade. Logo, aquela
pergunta não faz sentido pleno para mim.
Mas
se querem tanto saber quem é Deus, para mim, posso lhes garantir que
somos relativamente próximos. Na verdade, nos sentamos esta manhã à
bancada dum quiosque no calçadão da praia e tomamos uma água de
coco gelada, enquanto falávamos sobre sua vida. Como ele estava
cansado, ofereci-me para acompanhá-lo até seu edifício, dois
quarteirões dali. Ele está, afinal, com quase oitenta anos!...
Naquele momento, Deus era, para mim, um homem idoso que me contou
suas memórias sobre a exploração imobiliária em seu bairro, e
sobre como sua vida estava após a morte de sua esposa (com quem fora
casado por cinquenta anos). Conversar com aquele homem foi sentir
Aquela Presença que chamo de Deus.
Essa
é uma das formas como compreendo “Deus”. Minha fé exige que eu
enxergue o Divino em outras pessoas, e que aja para com elas como se
elas fossem o “próprio Deus” – algo que parece bem mais
difícil do que “acreditar” numa ideia específica do que ou quem
seja Deus.
Como
a metáfora bíblica do homem ter sido criado “à imagem e
semelhança” de Deus é essencial para minha compreensão
teológica, amar o ser humano é amar a Deus, e ser violento para com
o ser humano é negar o próprio Divino. Assim, para mim, nossa fé
em Deus define-se, na verdade, através da forma como nos
relacionamos com “sua imagem e semelhança” entre nós: o que
inclui as outras pessoas e nós mesmos, além do resto da Criação.
Há
variadas formas de compreender o Divino, e todas elas podem ser úteis
em diferentes contextos. Mas, na maioria das vezes, Divindade,
Presença e Realidade são minhas metáforas favoritas para falar
acerca de [daquela outra metáfora] “Deus”.
+Gibson