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terça-feira, 9 de agosto de 2011

A ciência não explica a origem da vida e do Universo?

(A seguinte é minha resposta à provocação de um participante num grupo de discussões sobre religião onde afirmou que a ciência não explica a origem da vida e do Universo.)

Tanto a ciência quanto a religião foram, e têm sido, muito bem sucedidas em explicar a origem da vida e do Universo. Tudo depende da pergunta que é feita. Há perguntas acerca de nossa origem que só podem ser respondidas pela ciência; por outro lado, há outras que só podem ser respondidas pela linguagem metafórica do mito religioso.

As respostas científicas podem parecer frustrantes para alguns porque elas nos deslocam do solo seguro dos mitos nos quais estamos todos culturalmente envoltos. A ciência nos diz que houve um princípio que pode ser localizado no tempo – nisso ela não se distingue tanto assim das narrativas religiosas, especialmente das tradições jordânicas (o judaísmo, o cristianismo, o islã etc). Ela nos diz, entretanto, que o que chamamos de “criação” ainda não está acabada. A criação continua, já que a vida está evoluindo e o próprio Universo está evoluindo por meio de sua expansão, por meio da morte e surgimento de outros astros.

Sim, é verdade que a ciência pode ainda não ter conseguido “detectar” algumas de suas suposições, mas você não pode esquecer que a ciência trabalha com um outro conceito de “verdade”, bem diferente daquele aceito por algumas tradições religiosas (não todas!). A verdade científica – a teoria científica – dura até que haja evidência contraditória, não importando quanto tempo leve para que essa evidência venha à tona; e além disso, a verdade científica está sempre aberta a ser questionada.

Uma sugestão que posso fazer é que você leia os seguintes livros para entender um pouco mais sobre a origem do Universo de acordo com as teorias científicas, juntamente com discussões sobre o papel das narrativas religiosas na construção de nossos entendimentos cosmológicos contemporâneos:

ABRAMS, Nancy Ellen; PRIMACK, Joel R. Panorama Visto do Centro do Universo: a descoberta de nosso extraordinário lugar no cosmos. Tradução Maria Guimarães. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

GLEISER, Marcelo. A Dança do Universo: dos mitos de criação ao Big Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

________________. Criação Imperfeita: cosmo, vida e o código oculto da natureza. Rio de Janeiro: Record, 2010.

POTTER, Christopher. Você Está Aqui: Uma história portátil do Universo. Tradução Cláudia Carina. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

domingo, 7 de agosto de 2011

Leituras de Hoje - Lecionário Comum Revisado


Próprio 14 (19) – 7 de agosto de 2011
  • Primeira Leitura e Salmo:
    • Gênesis 37:1-4, 12-28
    • Salmo 105: 1-6, 16-22, 45b
  • Ou:
    • 1 Reis 19:9-18
    • Salmo 85:8-13

  • Segunda Leitura:
    • Romanos 10:5-15

  • Evangelho:
    • Mateus 14:22-33

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Os unitaristas em Recife


O Unitarismo iniciou sua história no Brasil ainda no século XIX, com os primeiros unitaristas tendo chegado à cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império, na década de 1820. Os primeiros unitaristas aqui estavam ligados a igrejas congregacionais, e reuniam-se em casas sem identificação exterior de local de culto.

Desde fins do século XIX, seis famílias unitaristas americanas viviam na cidade do Recife, onde, em suas casas, se reuniam semanalmente para adoração sob a liderança do missionário Rev. Hill.

A primeira igreja identificada como unitarista foi fundada em Recife em 6 de abril de 1933, pelo Rev. George Phelps - a Igreja Unitarista do Recife -, sendo composta por doze famílias unitaristas americanas e um grupo de quacres hicksitas. A Igreja Unitarista do Recife desenvolveu uma mistura muito particular de unitarismo anglicano (como é conhecida nossa tradição litúrgica high church) influenciado pelo pensamento quacre hicksita, que continua a ser a tradição da maior parte dos membros da Congregação Unitarista de Pernambuco até hoje.

O unitarismo altamente litúrgico e racionalista, tão característico da região de onde vieram os pais fundadores de nossa congregação, mesclou-se acidentalmente com o quaquerismo  livre dos hicksitas, tão característico da região de onde vieram os quacres que se juntaram a eles, e dessa junção surgiu a comunidade unitarista recifense - que, como sua igreja-mãe em Boston, afirmava ser “cristã unitarista em sua teologia, anglicana em sua liturgia, e congregacional em seu governo”, e adicionava a isso, “quacre em seu testemunho de paz”.

Os cristãos unitaristas formam um número ínfimo no Brasil, mas nos esforçamos para continuarmos fiéis àquele espírito esposado pelos fundadores de nossa comunidade.

As traduções dos textos de Priestley e Channing

Tenho me esforçado grandemente para terminar as traduções que prometi aos meus alunos no IRWEC e aos leitores deste blog. Os textos aos quais tenho me dedicado são a literatura teológica clássica unitarista, especialmente os escritos de Joseph Priestley e William Ellery Channing – cuja leitura exijo de meus alunos nas disciplinas de história do Unitarismo.

Quero que saibam que, mesmo com toda a demora, ainda tenho me dedicado a esse trabalho de tradução. Com todas as responsabilidades em minha vida pessoal – ministério, trabalho e estudos, além da própria vida social (ei, sou humano!) – tem sobrado muito pouco tempo para fazer outras coisas. Tenho dormido cerca de duas horas por noite para ter tempo de terminar tudo o mais rápido possível, mas não é fácil.

Agradeço a ajuda que tenho recebido de alguns membros da comunidade na seleção e revisão de textos, especialmente meus irmãos da Ordem Unitarista – que muitas vezes têm digitado traduções que faço manualmente.

Essa falta de tempo é a razão pela qual tenho escrito tão pouco ultimamente.

Além disso, estou preparando um livreto de introdução ao Unitarismo que publicarei por conta própria, podendo o mesmo ser adquirido online. Em breve, darei maiores detalhes aqui.

Um abraço a todos os amigos leitores e aos meus alunos do IRWEC.

Paz a todos!

+Gibson

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

As crenças unitaristas e a linguagem litúrgica


Algumas perguntas me foram feitas acerca da liturgia na Congregação Unitarista de Pernambuco, e as respostas que dei àquelas perguntas me parecem apropriadas para uma discussão mais ampla acerca da compreensão litúrgica do Cristianismo Liberal como um todo.

Expliquei à pessoa que me questionara que nossa liturgia – assim como a liturgia de toda comunidade de fé – baseia-se em nossas compreensões teológicas (e filosóficas). A compreensão mais amplamente aceita em nossa comunidade é a de integridade. Nossas palavras e ações litúrgicas devem ser um reflexo da integridade de nossas crenças – que, em nosso caso, como teologicamente liberais, não estão acorrentadas ao dogma nem à tradição; nossas crenças são abertas à mudança.

Podemos pensar em, pelo menos, quatro princípios que nos guiam em nossas práticas litúrgicas:

1 – Nosso foco é um modus vivendi compassivo, e não crenças dogmáticas. A compaixão, que, para nós unitaristas, é a verdadeira religião (Miqueias 6:8; Tiago 1:27), faz-nos afirmar o valor e a dignidade de todos os seres humanos (Mateus 7:1-2; 25:37-40). A integridade que afirmamos exige que essa compaixão – esse amor, essa caritas – se expresse em nossas palavras e ações não apenas em nosso dia a dia, mas também em nossa liturgia na igreja. Logo, linguagens sexistas, racistas, homofóbicas, tribalistas, nacionalistas, violentas etc, não podem ser parte de nossa liturgia. É por esta razão que recusamos ler em nossas liturgias mesmo trechos das Escrituras que entendamos como exibindo tal tipo de linguagem.

2 – A maioria de nós unitaristas não compreende Deus como um ser sobrenatural que intervem na história humana. Há alguns de nós que certamente entendem Deus da maneira dita “tradicional”, mas a maioria de nós entendemos a Divindade como uma metáfora para os mais profundos valores humanos. A integridade que buscamos exige que sejamos cuidadosos e inclusivos para com todos em nossa liturgia; logo, nossa linguagem litúrgica tem de ser sensível às compreensões de todos os que fazem parte desta comunidade e que oram conosco.

3 – Para a maioria de nós unitaristas, Jesus é um mestre e um exemplo, e não um salvador sobrenatural enviado por Deus. Jesus “salva-nos” por meio de seus ensinamentos, e não por meio de uma morte para pagar por nossos “pecados”. Por causa disso, não fazemos uso dos tradicionais hinos cantados por outras igrejas cristãs – já que os mesmos estão moldados pela teologia da redenção; somos forçados por nosso anseio pela integridade a encontrar outras vozes para a nossa fé. Essa é a razão para a grande diferença musical em nossa comunidade – quando comparada a outras igrejas cristãs.

4 – Para nós unitaristas, o cristianismo não é o único caminho aceitável e autêntico para se chegar ao Divino ou para encontrar sentido na vida. A integridade que buscamos força-nos a honrar os caminhos que para outras pessoas são tão verdadeiros quanto o nosso é para nós próprios. Isso, mais uma vez, faz-nos rejeitar hinos ou afirmações que insinuem uma superioridade cristã em relação a outras pessoas, por exemplo.

O que nós unitaristas cremos, em essência, é que – mesmo fazendo uso de linguagem metafórica, muitas vezes – nossa linguagem litúrgica, que se expressa em palavras e atos, deve refletir nossas crenças; e essas crenças, em nosso caso, incluem a crença no valor e dignidade inerente de todos os seres humanos (homens, mulheres, de todos os gêneros e identidades de gênero, e de todas as orientações emociono-sexuais), uma crença na paz, na liberdade de pensamento, no exemplo deixado pelas palavras e ações atribuídos a Jesus de Nazaré – nosso mestre e modelo.