[Sobre
o texto “Um
cristão agnóstico?”, de minha autoria –
publicado neste blog em 8 de setembro de 2010.]
Escrevi
aquele texto há cerca de sete (7) anos. Ao longo desse tempo,
obviamente, mudei intelectual e espiritualmente. Reformulei algumas
de minhas compreensões. Tive novas experiências de vida que me
fizeram compreender a Realidade que chamo “Deus” a partir de
outras perspectivas. Mas continuo a rejeitar o dogmatismo quando
penso, falo ou escrevo sobre Deus.
Deus
é Real. Mas não é uma coisa ou uma entidade. Assim, não uso o
verbo “existir” para me referir a Deus. Não posso quantificar
Deus como o faria ao ar, à água, ao computador diante do qual me
sento agora ou a mim mesmo. Essa é uma questão muito mais profunda
do que você imagina. Compreendo a razão pela qual isso lhe
parece uma “ignorância”, Soraya: para você é assim porque você
lê o mundo com lentes diferentes daquelas que uso; assim, não
consegue compreender a relevância da linguagem para discussões
teológicas. Isso não a torna menos certa do que eu – apenas torna
sua perspectiva diferente da minha; e vice-versa.
Tenho
a impressão de que você não tenha compreendido que aquele texto é
uma provocação. O uso do termo “agnóstico” é proposital.
Acaso não percebeu o uso duma interrogação ao fim do título? O
próprio texto pode esclarecer, para qualquer leitor atento, o que
quis dizer com aquelas palavras.
Deus,
para mim, é uma Realidade que está além de qualquer formulação
dogmática de qualquer tradição religiosa. Assim, Deus não é
judeu, não é cristão, não é muçulmano, não é budista, não é
xintoísta, não é hindu, nem mesmo ateu. Deus não é propriedade
de qualquer religião, filosofia, credo, ou grupo exclusivista. Deus
é o nome que muitos de nós damos àquela Realidade que está além
de nossa compreensão. Porque não a compreendemos, utilizamos
figuras metafóricas próximas às nossas experiências culturais
para nos referirmos a ela. Assim, muitos chamam essa Realidade de
Deus, de Pai, de Mãe, de Grande Espírito, de Poder, de Hashem, de
Allah, ou de qualquer outro nome que possa exprimir – mesmo que
imperfeitamente – aquilo que sentem.
Atribuir
um nome a essa Realidade, contudo, não significa necessariamente
abraçar uma noção dogmática sobre quem ou o quê seja “Deus”
– isto é, não significa pensar que possamos saber, humanos como
somos, tudo o que se possa saber sobre “aquele” que já foi
chamado de “Mistério”. Foi isso que quis dizer com aquele texto
provocativo.
Se
aquelas palavras me tornam um “ignorante” ou menos “cristão”
que você... bem, não me preocupo. Em minha tradição religiosa,
questionar, perguntar, duvidar é sempre um caminho para construir
pontes de compreensão, sempre um caminho para se chegar a Deus. Não
tenho interesse algum pelo conforto do dogma inquestionável e
petrificado – prefiro o caos do serviço e do discipulado, que é
onde encontro a Deus.
Que
bom que você já está tão além de minha compreensão sobre Deus e
já consegue compreender o Mistério Divino com tamanha segurança, a
ponto de não questionar os verbos, substantivos e adjetivos que
utiliza. Eu ainda não cheguei a este ponto – na verdade, como
escrevi antes, não tenho, hoje, interesse em fazê-lo. Mas fico
feliz que você possa fazê-lo.
Paz!
+Gibson