Você defenderá a justiça e
a paz para todas as pessoas, e respeitará a dignidade de cada ser
humano?
Sim, com a ajuda de Deus.
(Trecho da Aliança Batismal)
Como
bem nos lembram as promessas que reafirmamos quando recitamos a
Aliança Batismal, somos religiosamente educados para honrar a
dignidade humana. O ser humano, nas tradições jordânicas – os
judaísmos, os cristianismos, os islãs, os babismos etc –, é
compreendido como tendo sido criado à “imagem de Deus”. Assim,
respeitá-lo como uma criação divina e honrar sua dignidade e valor
é indissociável das compreensões que nossas tradições têm do
Divino.
Essa
preocupação com o valor e a dignidade humana é, às vezes,
rearticulado através daquela palavra tão repetida: “tolerância”.
Assim, frequentemente, fala-se em “tolerar” outras pessoas,
“tolerar” os que pensam diferentemente de nós, “tolerar” as
outras tradições de fé (religiões), “tolerar”, “tolerar”.
Pessoalmente,
tenho um enorme desconforto com a palavra “tolerância” e todos
os verbos e adjetivos com os quais se relaciona. Mesmo compreendendo
o sentido que muitos entre nós dão a esses termos, “tolerância”,
“tolerar” e “tolerante” parecem ser exatamente o contrário
do espírito que nossas tradições – e, mais especificamente, os
cristianismos – nos convidam a materializar em nossas ações.
Afirmarmo-nos
como “tolerantes”, para mim, seria o ápice da arrogância
espiritual. Ora, ter “tolerância” por alguém é afirmar que me
encontro numa posição mais elevada, mais avantajada do que ela, e
que ofereço-a minha “misericórdia”. É dizer que sei mais do
que ela e que, por isso, demonstro-lhe minha “piedade” para com
seu estado de ignorância.
Isso,
certamente, não é o que prometemos quando rezamos em comunidade
nossa Aliança Batismal nas liturgias de Batismo e de Confirmação.
O que prometemos é enxergar e servir a Deus uns nos outros e em
todos os demais seres humanos, independentemente de quem sejam, de
onde estejam em sua jornada espiritual e do que tenham feito na vida.
E aquela promessa não nos exige “tolerância”: exige respeito,
exige reconhecimento, exige apreciação, exige
serviço, exige amor – não “tolerância”.
Respeitar,
reconhecer, apreciar, servir, amar não equivalem a abandonarmos
nossas crenças e princípios, a concordarmos com tudo o que os
outros pensam. Equivale, sim, a aceitar que da mesma forma como temos
o direito de buscar, de crer, de descrer, de ser, outras pessoas –
especialmente aquelas de quem discordamos – também têm. E fazê-lo
é reconhecer que nossa compreensão do Divino e de nós mesmos é
limitada, e que Deus não é nossa propriedade. Demonstrar
“tolerância”, por outro lado, é negar essa limitação à qual
todos estamos sujeitos(as).
Não à "tolerância"! Deus
nos livre da “tolerância”!
+Gibson