Todos
os anos, durante o período do Advento (as quatro semanas que
antecedem o Natal, no calendário cristão), preparo-me para celebrar
a data na qual comemoramos o nascimento de Jesus de Nazaré –
aquele que a maioria dos cristãos prefere chamar de “Cristo”, e
cujo nascimento celebra como aquele dum membro duma família real,
com cânticos, árvores iluminadas com luzes coloridas, estrelas que
simbolizam sua grandeza cósmica, jantares caros e trocas de
presentes.
Apesar
de eu gostar muito das tradições natalinas – especialmente das
celebrações litúrgicas e das cantatas às quais estou acostumado
–, o Natal, para mim, não é a celebração do nascimento dum
membro da realeza celestial (ou terrestre). A data é, em minha vida,
um memorial à experiência da busca de refúgio – um lembrete da
experiência do “êxodo”, que, metaforicamente, pode tornar-se a
experiência de toda a humanidade.
Se
tivermos de entender a narrativa do “êxodo” de Jesus – em
Mateus 2:13-23 – como factual, então a vida do menino começa
como a vida dum refugiado em terra estrangeira. Não como a dum
príncipe ou rei. É se refugiando em outra terra, para escapar
daqueles que o perseguem, que Jesus inicia sua vida.
Isso
pode parecer irrelevante para muitos, mas, para mim, é o que há de
mais importante na narrativa natalina. E não importa o quão pouco
factual seja a narrativa do êxodo de Jesus – considerando que a
mesma pode ter sido construída apenas para transformar a figura de
Jesus na dum novo Moisés –; o que realmente importa é que ela o
proclama como igual às crianças, mulheres e homens que deixam seus
lares em busca de segurança e de vida, nas mais diferentes regiões
do mundo, sob os mais diversos contextos.
O
Jesus que aguardo no Advento, e que celebro no Natal, é um Jesus que
sofre e busca refúgio e que, assim, é dependente da hospitalidade e
compaixão dos humanos. É o Jesus que diz que quando alimentamos,
damos de beber, vestimos, visitamos, somos hospitaleiros com os
estrangeiros, é a ele que fazemos essas coisas (Mateus 25:35-45).
Esse
é o Jesus que aprendi a celebrar. É o Jesus com a face de Ada,
Concepción, Ibrahim, Mahmood, Moji, Alejandro e tantos outros. Para
mim, o Natal só é comemorado para que eu me lembre que era deles e
delas que Jesus falava, que era eles e elas que deveriam ser
“celebrados” em minha vida, nesta data. Só assim eu poderia
realmente viver o que Jesus ensinou.
O
Natal, para mim, é uma celebração do refúgio – do refúgio que
os seres humanos devem encontrar nos braços, corações e casas de
seus irmãos e irmãs.
Minha
oração é que possamos estar abertos e prontos para receber esse
Jesus – esse Jesus que se manifesta nas faces dos seres humanos –
neste Natal.
Vem,
Mestre galileu!
Feliz
Natal!
+Gibson