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Uma resposta à Maria C.
Querida Maria C.,
Você falou em duas de suas mensagens a respeito da obrigação que os cristãos têm de “amar a Deus”, e disse que isso se demonstra através de nossa obediência aos mandamentos do mesmo Deus. Você ainda deixou claro que fazia aqueles comentários por pensar que cristãos como eu, que reinterpretam a tradição cristã, rejeitam, de alguma maneira, os mandamentos de Deus e, dessa forma, demonstram que não o amam.
“E ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força.” (Marcos 12:30)
De acordo com o Evangelho, Jesus reafirmou isso aos seus compatriotas e seguidores. Ele reafirmou algo que era ensinado há séculos e séculos em sua tradição religiosa, o judaísmo. E a tradição cristã tem dado voz a esse ensinamento durante toda a sua história, apesar de nem sempre ser com os melhores exemplos práticos.
A minha pergunta é: Afinal de contas, o que significa “amar a Deus”? Como você acha que demonstramos nosso amor a Deus?... Aparentemente, a sua resposta é simples: obedecer aos mandamentos de Deus. Mas que mandamentos são esses?
Eu gosto da resposta dada por Jesus nessa mesma passagem de Marcos (leia Marcos 12:28-31), quando ele reafirma que os dois maiores mandamentos são o amor a Deus e o amor ao próximo. Para mim, fica claro que “amar a Deus” é simplesmente amar aquilo que Deus ama, é se importar com aquilo com o qual Deus se importa, é cuidar daquilo que Deus criou e cultiva. Por que “amar ao próximo” é tão importante quanto “amar a Deus”? Porque é simplesmente impossível “amar a Deus” sem amar aquelas pessoas que são, isso é, que existem, por causa de Deus (independentemente de nossa compreensão do nome “Deus”), que carregam em seu próprio ser as marcas de Deus. Se a mensagem cristã afirma que “Deus é amor”, não se pode conhecer – e, consequentemente, amar a Deus, sem que se “pratique” Deus (isto é, sem exercer o amor!).
No espírito da mensagem cristã encontro quatro afirmações básicas a respeito da humanidade: 1) ela foi criada por Deus; 2) os homens e mulheres são filhos e filhas de Deus; 3) a humanidade é amada por Deus; e 4) a humanidade é aceita por Deus.
Como cristão, quando olho para as outras pessoas é isso que eu vejo. Eu vejo indivíduos que têm uma origem divina, já que sua origem está naquela mesma Realidade que é o centro de minha visão religiosa. Por esses indivíduos terem sua origem em Deus, também reconheço o fato de Deus – essa Realidade que não me atrevo a tentar definir – ser o Pai ou a Mãe dessas pessoas, e que por essa razão, Deus os ama e os aceita plenamente.
Só que a criação de Deus não é expressa apenas pela humanidade. Como cristão, afirmo que o próprio universo é criação de Deus. Se o universo é criação daquela Realidade, é também seu filho, e meu cuidado, atenção, e amor, deve se estender ele. Se eu destruo, desnecessariamente, uma parte da vida deste planeta para construir um parque aquático, eu estou demonstrado que não amo aquilo que Deus ama. Se eu saio para fazer caçadas, pelo simples prazer de me divertir com a morte de criaturinhas indefesas, não estou demonstrando amor para com o objeto do afeto de Deus. Se apoio a ideologia da violência e da guerra, da exploração de seres humanos, da destruição do meio ambiente, se viro as costas àqueles que são pisados e humilhados, se me calo quando deveria abrir minha boca contra os barões deste mundo, eu estou demonstrando minha falta de atenção, cuidado, e amor para com aquilo que representa o objeto do afeto de Deus (para usar uma linguagem um tanto poética).
É muito simples falar em amor a Deus como sendo uma renúncia às coisas deste mundo, criando-se listas daquilo que representariam essas coisas. Você se junta a um grupo cristão, e de repente te dão uma lista de “pecados” aos quais se deve renunciar para que você seja capaz de demonstrar seu amor a Deus. Mas amar alguém (ou alguma coisa) não é apenas um “não fazer”, constitui também “um fazer” - ao menos, em minha visão de “amor”. Nos preocupamos tanto com listas de “não fazer” por ser mais conveniente do que nos preocuparmos com a lista de “fazer” - na realidade, quando se trata de relacionamentos, e não seria diferente com Deus, não há uma lista do “fazer”, mas uma lista do “se envolver”. É mais fácil abrir mão de um hábito social do que se engajar de corpo e alma no cuidado a alguém ou alguma coisa – e esse engajamento de corpo e alma com as coisas que são importantes para Deus (de acordo com o que foi proclamado pela tradição bíblica) é a maior e melhor demonstração do que seja “amar a Deus” em minha visão de mundo.
Paz!
+Gibson
Pastor Gibbson,foi um prazer falar consigo ao telefone mas eu queria saber um pouco mais de detalhes sobre a segunda vinda,juizo final e inferno.Voçé acredita que Jesus está sentado á direita de seu Pai para depois vir julgar os vivos e os mortos?Voçé acredita que seremos castigados depois da morete ao inferno de fogo?Diga-me com franqueza Pastor Gibson,Deus se for assim é um deus sádico,não concorda comigo?PAZ
ResponderExcluirCaro amigo,
ResponderExcluirFoi também um prazer falar contigo, espero que tudo esteja bem!
Esse tipo de questão não me perturba muito, por inúmeras razões. Uma delas é o fato de eu não estar muito preocupado com uma suposta existência após esta vida. Em geral, creio que a vida como a conhecemos se encerre após a morte física, e se vivemos, o fazemos na memória daqueles que tocamos, que amamos, que cuidamos... logo, é nossa memória que sobrevive (e talvez possamos chamar esta memória de "espírito"). Se há factualmente uma vida em outra esfera após nossa morte física, não sei, e sou levado a não crer nisso, e mesmo se houver, isso não é relevante para mim.
Logo, levando em consideração que (geralmente) não acredito em uma existência factual após a morte física, não acredito numa "segunda vinda de Jesus" física, como "tradicionalmente" ensinado pelo cristianismo, nem em nenhuma das crenças atreladas a essa. Não digo que estas coisas sejam mentira, não o são - são, sim, metáforas para uma realidade que não entendemos plenamente, e por essa razão, usamos símbolos para representá-la.
O julgamento pode ser entendido como um símbolo daquele julgamento pelo qual passamos diariamente por nossas ações. Somos julgados pelo que nossa consciência individual e colectiva nos faz sentir ou perceber não ser o "verdadeiro caminho" para "Deus" (com um sentido mais amplo do que simplesmente a noção de uma pessoa). Os ensinamentos que ouvimos, as regras sociais, nossa percepção humana, nossa compreensão da Divindade... tudo isso nos "julga" e nos "condena". E quando essa condenação nos transforma de alguma maneira, então efetua-se a mudança ou "salvação" (foi, à propósito, neste sentido que disse acreditar que até mesmo Hitler seria salvo.
Bem, o tema é bem mais complexo, e infelizmente não tenho tempo agora para continuar, depois continuamos nossa conversa.
+Gibson
cara em resposta a Tiago Soares em qual parte da bíblia você crê?Não havendo vida apos a morte significa que dizer que Cristo não ressuscitou ou no mínimo que ele não existiu e não morreu
ResponderExcluirGesiel Rodrigues Silva,
ResponderExcluirA questão é como encaramos questões semânticas. O que você quer dizer com termos como "vida", "morte" e "acreditar"?
Um grande problema teológico se cria quando as pessoas tentam atribuir sentidos objetivos a expressões metafóricas. Um exemplo: quando falamos num Deus pessoal, será que nos referimos a um Deus de carne e ossos? Eu, pessoalmente, não acredito num Deus antropomorfo; logo, para mim, falar em Deus como sendo uma "pessoa" é apenas um recurso linguístico. O mesmo se aplica à questão que você levanta.
O próprio verbo "acreditar" é problemático, quando você usa da forma como aparentemente usou.
Mas, o mais sério, é referir-se à Bíblia como sendo um livro único. Para você, quando lê uma tradução das Escrituras para o português, talvez a Bíblia seja "um livro"; mas, originalmente, era um conjunto de diferentes tipos de textos, escritos em diferentes épocas, por diferentes autores. Logo, sua pergunta "em qual parte da Bíblia você acredita?" não faz nenhum sentido para mim.
Minha fé centra-se em Jesus Cristo, a Palavra de Deus, e não numa noção específica do que seja a Bíblia.
Grande abraço!
+Gibson