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Caro “Defesa316” (http://www.blogger.com/profile/12676289456748173614),
Aqui ofereço uma reflexão a respeito de seus comentários na seguinte postagem: http://cristianismoprogressista.blogspot.com/2010/06/compromisso-cristao-brasileiro.html
Os questionamentos que você levanta são válidos e, aqui, são recorrentes. Por essas mesmas questões já haverem sido tratadas aqui muitas vezes, posso garantir que você encontrará minhas perspectivas a respeito desses temas em outras partes deste blog. Prefiro que possamos alargar um pouco mais a discussão.
Não sei a partir de qual base teológica cristã, ou de qual tradição, você molda a janela através da qual enxerga o mundo e interpreta o cristianismo. Seja ela qual for, parece-me que uma das palavras-chave nesta nossa discussão é “verdade”.
O que é verdade? A religião e o conhecimento teológico podem oferecer verdade? E se podem, que tipo de verdade e até que ponto?... Compreender essas questões é essencial para compreender a razão pela qual entendemos o cristianismo de formas tão diferentes – assim como é essencial, também, para compreender a fé de pessoas que abraçam outras religiões. Não posso garantir, entretanto, que alguns não prefiram se esconder numa bolha protetora, não tendo o desejo de pensar a respeito disso, de não encarar questões como essas sem se esconder atrás da muralha do dogmatismo defensivo.
Para que minha posição fique muito clara, é importantíssimo que eu afirme meu ponto de partida: verdade, no que se refere a religião e teologia, não é sinônimo de factualidade. Factual é aquilo que se baseia em fatos que podem ser verificados, ou seja, é algo empiricamente objetivo. A verdade religiosa é majoritariamente subjetiva, ou, quando objetiva, é um tipo de objetividade que requer a presença da subjetividade, já que a grande maioria de suas afirmações não podem ser objetivamente verificadas. Entretanto, apesar de a verdade religiosa não ser factual (=empiricamente objetiva), ela não deixa de ser verdadeira.
Falar sobre verdade religiosa é falar sobre mitos. E antes que você pense que esteja utilizando o termo da mesma forma que usualmente o empregamos (ou seja, para me referir a algo falso, que não mereça ser levado a sério), deixe-me explicá-lo: mitos são narrativas metafóricas a respeito da relação entre este mundo e o sagrado. Por serem metafóricos e por utilizarem uma linguagem não-literal, os mitos não podem ser vistos como se narrassem fatos. Apesar disso, em se tratando de religião, mito e verdade andam de mãos dadas, com o mito sendo a linguagem utilizada para se falar a respeito da verdade. Os mitos são verdadeiros, mesmo que não sejam factualmente (=literalmente) verdadeiros.
Em minha visão, as narrativas bíblicas a respeito de Jesus, por exemplo, são mitos (compreendendo-se “mito” aqui da maneiro como expliquei anteriormente). Como cristão, é indiferente, para mim, a factualidade ou não do que se escreveu a respeito da vida de Jesus. Mesmo que tudo o que se escreveu a seu respeito fosse “mentira” (que não é o mesmo que “mito”), isso não afetaria minha fé, já que minha compreensão da Bíblia não é a de vê-la como um manual de História, mas a de compreendê-la como uma narrativa metafórica (=mitológica) da relação de duas comunidades – os antigos hebreus e os primeiros seguidores de Jesus e dos apóstolos – com seu Deus e com sua tradição religiosa.
Por outro lado, compreender as mesmas narrativas bíblicas a respeito de Jesus como relatos factuais seria um desastre para qualquer cristão pensante contemporâneo, já que muitos daqueles relatos são contraditórios, inverificáveis, claramente falsificados e empiricamente impossíveis – tornando sua “veracidade” (se compreendida como sinônimo de factualidade) simplesmente impossível. Por essa razão, em minha visão cristã liberal, as narrativas bíblicas são relatos verdadeiros, mesmo sabendo que nem sempre são factuais e que sua veracidade não depende de sua factualidade. Leio a Bíblia como uma combinação de história e metáfora, fazendo uso da crítica histórico-textual para compreender os antigos sentidos dos textos bíblicos, colocando-os em seu contexto histórico.
Com isso em mente, você pode exercitar sua capacidade interpretativa e tentar imaginar uma possível resposta minha aos seus questionamentos.
Paz!
+Gibson da Costa
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