Gosto das palavras de Santo Agostinho, em suas Confissões, quando discute a questão do tempo:
“O que é então o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei. No entanto, posso dizer com segurança que não existiria um tempo passado, se nada passasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse vir; e não haveria o tempo presente se nada existisse. De que modo existem esses dois tempos – passado e futuro –, uma vez que o passado não mais existe e o futuro ainda não existe? E quanto ao presente, se permanecesse sempre presente e não se tornasse passado, não seria mais tempo, mas eternidade. Portanto, se o presente, para ser tempo, deve tornar-se passado, como poderemos dizer que existe, uma vez que a sua razão de ser é a mesma pela qual deixará de existir? Daí não podemos falar verdadeiramente da existência do tempo, senão enquanto tende a não existir.” (Confissões, Livro XI, Capítulo XIV)
Para Santo Agostinho, o tempo é essa corrente relacional que depende da localização do observador. Duma certa forma, não deixa de ser a resposta dada pela cosmologia moderna que nos ensina, por exemplo, que o passado depende de onde estejamos. No presente, olhamos para os céus e tudo o que vemos é passado, já que as luzes que brilham nas alturas foram lançadas há muito tempo. Quando vemos o Sol, não estamos vendo o Sol como ele é agora, mas apenas o brilho emitido por ele há oito minutos. E isso se repete todas as vezes que pensamos ver uma estrela qualquer no céu – o que vemos não é uma estrela como ela agora é; na verdade, ela talvez nem mais seja, já que o que vemos é apenas um rastro de sua história no passado.
Isso tudo pode parecer irrelevante, mas é fascinante – especialmente quando pensamos em nossa existência e no sentido que a ela queremos dar. Também somos um rastro do nosso próprio passado. Quando vemos nosso reflexo no espelho, não nos damos conta que o que vemos já é passado, pois, entre tantas outras coisas, há um atraso para o processamento da informação visual pelo nosso cérebro, por exemplo.
E onde está Deus nisso tudo? Dentro do tempo? Fora do tempo? Acima do tempo? Abaixo do tempo? Além do tempo? Apesar do tempo? Ou seria Deus o próprio tempo – e como não entendemos o tempo, também somos incapazes de entender Deus?
+Gibson
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