Uma das
partes mais interessantes da narrativa natalina parece ser sempre
esquecida por todos nós. Sempre nos lembramos da manjedoura, da
estrela, dos reis magos, dos animais, dos presentes, dos anjos, mas,
por alguma razão, nos esquecemos da falta de alojamento!
Na
narrativa do Natal, no Evangelho de Lucas 2:6-7, o detalhe de os pais
de Jesus não terem encontrado abrigo numa hospedaria é tão
importante – ou, talvez, até mais – quanto os demais detalhes
narrativos. Jesus nasce numa manjedoura por seus pais não terem
encontrado abrigo dentro da hospedaria.
Uma
mulher grávida, em trabalho de parto, é deixada do lado de fora, no
abrigo dos animais, e lá dá luz a seu filho. A gravidade disso, na
lei judaica, é incompreensível para a maioria dos cristãos. A
Bíblia hebraica, e, mais tarde, a literatura rabínica, apontam o
comportamento esperado de alguém que recebe um hóspede: mesmo antes
de obter quaisquer informações sobre seu hóspede, como o seu nome,
por exemplo, o anfitrião deveria cuidar das necessidades daquele –
como descarregar sua bagagem, alimentar e dar de beber a seus
animais, oferecer água para que o hóspede e seus criados lavassem
os pés, e alimentá-los (Gênesis 18:2-5; 19:2-3; 24:31-33); durante
a estadia, o anfitrião deveria se sentir pessoalmente responsável
por qualquer mal que ocorresse a seu hóspede (Gênesis 19:8); na
despedida, outro banquete deveria ser servido (Gênesis 26:30; Juízes
19:3-5); o hóspede e o anfitrião poderiam fazer uma aliança
(Gênesis 26:31), e o anfitrião deveria acompanhar o hóspede para a
despedida (Gênesis 18:16); por sua vez, o hóspede deveria abençoar
seu anfitrião antes de partir (Gênesis 18:10), e deveria
perguntar-lhe se ele (o anfitrião) precisava de algo (2 Reis 4:13);
se o hóspede quisesse permanecer com o clã ou na localidade,
era-lhe permitido escolher uma moradia (Gênesis 20:15). Essa era a
prática da hospitalidade como estabelecida na cultura do povo de
Jesus.
Curiosamente,
e, na verdade, essa parece ser a intenção da narrativa – pelas
mais variadas razões –, aqueles que deram abrigo à “sagrada
família” não seguiram esse ritual da hospitalidade. A recepção
– ou seria despedida? – hospitaleira é recebida dos pastores que
vão visitar o “messias” recém-nascido, após serem avisados por
anjos!
Tantas
pessoas se importam com os detalhes miraculosos desse relato
evangélico, enfatizando os adereços narrativos, e se esquecem
daquilo que parece-me ser o mais importante: não havia abrigo para
aquela mãe prestes a dar à luz! Seu bebê nasceu dentre os animais,
porque seus anfitriões não cumpriram o mandamento de serem
hospitaleiros! E fico me perguntado se eu mesmo, tão preocupado com
meus compromissos festivos – nesta data na qual celebramos o
nascimento daquele bebê –, não ignoro a hospitalidade para com
aqueles para os quais deveria ser um anfitrião.
É minha
sincera oração que possamos, antes de mais nada, desenvolver o
sentimento de hospitalidade – abrindo nossos corações, mentes e
braços para nossos semelhantes.
Feliz
Natal!!!
+Gibson