“O Espírito de Cristo,
que nos conduz a toda Verdade, nunca nos moverá a lutar ou guerrear
contra qualquer homem com armas exteriores, nem pelo reino de Cristo,
nem pelos reinos deste mundo.” (George Fox, em 1661).
As
vozes que se erguem ao nosso redor frequentemente nos chamam à
“luta”. Assim, quando referem-se ao trabalho, por exemplo, falam
da “luta” diária, e não do “esforço”. É uma linguagem à
qual todos se acostumam desde cedo, em muitas línguas, e que espelha
noções equivocadamente limitadas acerca das possibilidades nas
relações humanas. Pode-se pensar que isso seja insignificante, mas,
para mim, não é e não deve ser.
Tornou-se
“normal” falar em sair às ruas para “lutar” por “direitos”.
A suposta demanda política assumiu, há muito, uma máscara belicosa
que cobre a vida civil com um manto de animalidade insana. Desta
forma, em se tratando dos cidadãos comuns, incendiar, depredar,
vandalizar, brigar tornam-se aceitáveis se, com isso, supostamente
estejam “lutando” por seus direitos. E os agentes do opressor
Estado, quando atacam, espancam, agridem, como se tivessem o direito
e a obrigação de fazê-lo, o fazem supostamente em nome daquela
cidadania que agridem – a mesma cidadania frequentemente abandonada
por manifestantes que “lutam” nas ruas.
Por
isso rejeito o uso do verbo “lutar” e do substantivo “luta”.
Esses tornaram-se uma afronta à minha sensibilidade teológica,
filosófica, política e linguística; tornaram-se uma afronta à
noção que abraço da humanidade e do Divino. Não posso “lutar”
porque rejeito a violência, especialmente se tratar-se dum ataque.
Rejeito a força como linguagem política, logo, não apoio ações
belicosas como forma de demanda política por quem quer que seja.
Acredito na linguagem verbal como instrumento político primário.
Acredito no processo democrático que se realiza por meio do debate e
do voto.
A
linguagem belicosa foi tão naturalizada ao longo da história humana
que até mesmo para falar no Divino – que tantas tradições
adjetivam como sinônimo de paz – utiliza-se a metáfora da
“guerra”, da “luta”, da “batalha”: assim, o Divino
torna-se o “general”, o “capitão”, o “Senhor dos
Exércitos”, e a busca por Deus torna-se uma “batalha
espiritual”, uma “guerra pela alma”. Um conjunto de metáforas
que naturalizam a violência e associam a maior das metáforas
humanas (Deus) àquilo que há de pior em nossa mentalidade.
Nossos
noticiários estampam a “luta” como aperitivo com o qual se
deliciar durante os intervalos do dia. Os brinquedos e jogos
eletrônicos que divertem nossas crianças e jovens normalizam e
naturalizam as “lutas” e “batalhas” como sinônimo de
sagacidade, força e masculinidade. Os filmes exibidos nos cinemas e
na televisão entorpecem nossas mentes com “lutas” e “batalhas”,
subtraindo de nossos corações o senso de indignação que a
retratação gratuita da violência como aceitável deveria causar.
Não!
Não! Não! Essa é a resposta que ofereço àqueles que convocam-me
à “luta”. Não me interesso por “lutas” ou “batalhas”;
interesso-me pelo diálogo, pela negociação, pela diplomacia, pelo
trabalho, pelo serviço, pela humanização, pela paz. A violência
não pode encerrar a violência – ao menos, é isso que se aprende
com a experiência humana.
Os
pregadores que falam de um deus guerreiro não podem estar falando
sobre um Deus de paz. Os políticos que falam em liberdade para o
cidadão utilizar armas indiscriminadamente não podem estar
preocupados com a paz. Os manifestantes que saem às ruas prontos
para quebrar, incendiar e atacar não podem estar em busca de paz. Os
agentes do Estado que atacam, espancam e atiram não podem ser
defensores da paz.
Nossa
linguagem está doente. Nossas noções estão doentes. Nossas ações
estão doentes. Nossa sociedade precisa de cura.
Injetemos
paz em nossas mentes e ações. Rejeitemos a violência.
Este
é meu testemunho e convocação a quem me ouve.
+Gibson