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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Malditas as metáforas de "lutas" e "batalhas"!



O Espírito de Cristo, que nos conduz a toda Verdade, nunca nos moverá a lutar ou guerrear contra qualquer homem com armas exteriores, nem pelo reino de Cristo, nem pelos reinos deste mundo.” (George Fox, em 1661).

As vozes que se erguem ao nosso redor frequentemente nos chamam à “luta”. Assim, quando referem-se ao trabalho, por exemplo, falam da “luta” diária, e não do “esforço”. É uma linguagem à qual todos se acostumam desde cedo, em muitas línguas, e que espelha noções equivocadamente limitadas acerca das possibilidades nas relações humanas. Pode-se pensar que isso seja insignificante, mas, para mim, não é e não deve ser.

Tornou-se “normal” falar em sair às ruas para “lutar” por “direitos”. A suposta demanda política assumiu, há muito, uma máscara belicosa que cobre a vida civil com um manto de animalidade insana. Desta forma, em se tratando dos cidadãos comuns, incendiar, depredar, vandalizar, brigar tornam-se aceitáveis se, com isso, supostamente estejam “lutando” por seus direitos. E os agentes do opressor Estado, quando atacam, espancam, agridem, como se tivessem o direito e a obrigação de fazê-lo, o fazem supostamente em nome daquela cidadania que agridem – a mesma cidadania frequentemente abandonada por manifestantes que “lutam” nas ruas.

Por isso rejeito o uso do verbo “lutar” e do substantivo “luta”. Esses tornaram-se uma afronta à minha sensibilidade teológica, filosófica, política e linguística; tornaram-se uma afronta à noção que abraço da humanidade e do Divino. Não posso “lutar” porque rejeito a violência, especialmente se tratar-se dum ataque. Rejeito a força como linguagem política, logo, não apoio ações belicosas como forma de demanda política por quem quer que seja. Acredito na linguagem verbal como instrumento político primário. Acredito no processo democrático que se realiza por meio do debate e do voto.

A linguagem belicosa foi tão naturalizada ao longo da história humana que até mesmo para falar no Divino – que tantas tradições adjetivam como sinônimo de paz – utiliza-se a metáfora da “guerra”, da “luta”, da “batalha”: assim, o Divino torna-se o “general”, o “capitão”, o “Senhor dos Exércitos”, e a busca por Deus torna-se uma “batalha espiritual”, uma “guerra pela alma”. Um conjunto de metáforas que naturalizam a violência e associam a maior das metáforas humanas (Deus) àquilo que há de pior em nossa mentalidade.

Nossos noticiários estampam a “luta” como aperitivo com o qual se deliciar durante os intervalos do dia. Os brinquedos e jogos eletrônicos que divertem nossas crianças e jovens normalizam e naturalizam as “lutas” e “batalhas” como sinônimo de sagacidade, força e masculinidade. Os filmes exibidos nos cinemas e na televisão entorpecem nossas mentes com “lutas” e “batalhas”, subtraindo de nossos corações o senso de indignação que a retratação gratuita da violência como aceitável deveria causar.

Não! Não! Não! Essa é a resposta que ofereço àqueles que convocam-me à “luta”. Não me interesso por “lutas” ou “batalhas”; interesso-me pelo diálogo, pela negociação, pela diplomacia, pelo trabalho, pelo serviço, pela humanização, pela paz. A violência não pode encerrar a violência – ao menos, é isso que se aprende com a experiência humana.

Os pregadores que falam de um deus guerreiro não podem estar falando sobre um Deus de paz. Os políticos que falam em liberdade para o cidadão utilizar armas indiscriminadamente não podem estar preocupados com a paz. Os manifestantes que saem às ruas prontos para quebrar, incendiar e atacar não podem estar em busca de paz. Os agentes do Estado que atacam, espancam e atiram não podem ser defensores da paz.

Nossa linguagem está doente. Nossas noções estão doentes. Nossas ações estão doentes. Nossa sociedade precisa de cura.

Injetemos paz em nossas mentes e ações. Rejeitemos a violência.

Este é meu testemunho e convocação a quem me ouve.

+Gibson

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