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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Teologia do Processo 2

Um Deus de Processo
Iniciamos com uma experiência de pensamento: Quando você pensa em Deus, que imagens vêm à sua mente?

Como imaginamos Deus é importante. Se Deus é a realidade última, então a meta da vida espiritual é se tornar como o Deus que você adora. Como vemos Deus molda a maneira como pensamos a respeito do poder, saúde e doença, da natureza da verdade, e dos amigos e inimigos.

Falar a respeito de Deus é sempre um desafio. O teólogo Karl Barth certa vez falou da reflexão teológica a respeito de Deus como sendo semelhante a pintar um pássaro voando. Outra imagem de nosso conhecimento de Deus fala a respeito de deficientes visuais e elefantes. Cada pessoa pensa que a parte do elefante que ela toca é a verdadeira natureza do elefante. Essa imagem ajuda em termos de nosso conhecimento de Deus, exceto pelo fato de que um elefante vivo – e também um Deus vivo – está constantemente em movimento. Temos que correr em velocidade máxima para mantermos contato com o elefante. Nenhuma descrição pode limitar um elefante vivo, ou um Deus vivo.

Teólogos e guias espirituais descrevem Deus em termos da polaridade apofática e catafática, ou seja, por um lado, nenhuma linguagem pode descrever Deus (Deus está além da linguagem e transcende nossa experiência) e, por outro lado, tudo aponta para Deus (todas as palavras e experiências revelam algo sagrado).

O Pensamento do Processo descreve Deus em termos de relação dinâmica. Deus é o ser relacional último – Deus molda toda experiência, possibilitando a cada experiência do momento uma riqueza de possibilidades, levando cada momento à plenitude e beleza. Deus também recebe cada experiência e é moldado pelo universo evolutivo.

Tradicionalmente, as palavras onipresença, onisciência, e onipotência têm sido usadas para descrever a relação de Deus com o mundo. Apesar de esses termos virem da influência da tradição filosófica grega e não das tradições bíblicas, elas expressam a insuperabilidade, soberania, e imparidade de Deus. A Teologia do Processo oferece novas maneiras de descrever a experiência e poder divinos de formas a preservar os discernimentos mais profundos da tradição teológica cristã. A Teologia do Processo convida os cristãos a explorarem o significado de palavras como “eterno” e “imutável” a partir de novas perspectivas.

Onisciência tem a ver com a experiência que Deus tem do mundo. A Teologia do Processo leva a onisciência à sério. Deus verdadeiramente experiencia o mundo. Experienciar é ser moldado pelo que experienciamos. Sendo onisciente, Deus é moldado por todas as coisas. Tudo realmente faz uma diferença para Deus. Por exemplo, quando rezamos, nossas orações fazem uma diferença para Deus e traz algo “novo” à experiência de Deus. Deus tece nossas orações com os eventos do mundo para trazer as melhores possibilidades. Sem nossas orações e bons pensamentos, Deus não pode ser plenamente ativo em nosso mundo. Não locais em natureza, nossas orações criam um campo de ressonância, um ambiente positivo em torno daqueles por quem oramos, que abre a porta para maiores revelações da presença e poder de Deus.

Falando a respeito do conhecimento divino, o conhecimento de Deus não cria o futuro, e Deus não conhece o futuro de antemão. Deus conhece todas as possibilidades como possíveis, e todas as realidades como reais. O conhecimento de Deus é eterno – tudo que fazemos é entesourado por Deus. Nós realmente podemos fazer algo belo por Deus.

A experiência que Deus tem do mundo está constantemente mudando e crescendo. Nossas vidas são nossos presentes para Deus. Um aspecto da ética envolve o que contribuímos para a experiência que Deus tem do mundo. Enquanto o Pensamento do Processo afirma que a experiência de Deus está sempre mudando, o Pensamento do Processo também afirma que há certos constantes na natureza divina: o amor, meta de beleza, e inteireza da experiência de Deus são imutáveis.

Freqüentemente os teólogos têm glorificado a imutabilidade e eternidade como os maiores valores religiosos. Diferentemente, a Teologia do Processo afirma que um Deus mutante, que pode ser ocasionalmente “surpreendido” pelo mundo é um Deus realmente vivente, que inicia novas possibilidades para moldar um mundo mutante.

Deus experiencia tanto a dor quanto a alegria do universo. Nossa dor realmente importa para Deus, nossas orações moldam a experiência divina. Como diz Whitehead, Deus é “o co-sofredor que entende”.

Onipresença (presente em todo lugar) sugere que onde quer que estejamos, Deus está presente. Esta é a sabedoria do Salmo 139: “Se subo ao céu, tu aí estás; se me deito no abismo, aí te encontro”. Deus está presente como a influência primária em cada momento, vida, e no processo evolutivo. A consciência de Deus é universal – experienciamos Deus em termos do ideal de Deus para o momento e da experiência que Deus tem do universo, mesmo quando não estamos cientes de Deus. As práticas espirituais têm a intenção de trazer à consciência o que está sempre presente, apesar de constantemente variável, em nossa experiência – o Deus Vivente “no qual todas as coisas vivem, movem e têm sua existência”.

A natureza da presença divina leva à questão do poder de Deus, tipicamente entendido em termos de onipotência. Existir é fazer uma diferença. A questão é: que diferença faz Deus em nossas vidas e no mundo? Freqüentemente as palavras “a vontade de Deus” são usadas para descrever o poder de Deus no mundo. De acordo com alguns teólogos, o poder de Deus é todo-determinante: seja pela ação divina ou pela permissão divina, Deus leva a cabo todas as coisas. Deus é, assim, a fonte de todo bem e de todo mal. Outros, como Rick Warren, afirmam que Deus planeja todos os detalhes de nossas vidas “sem nosso 'input' ”.

Diferentemente, o Pensamento do Processo vê o poder divino como relacional em vez de coercivo. Deus trabalha dentro da ecologia da vida para trazer à tona as melhores possibilidades. Como um(a) bom/boa “pai”/”mãe”, Deus promove a liberdade e criatividade em sua criação.

Bons pais dão espaço para o crescimento: da mesma forma, o poder de Deus abre espaço para a liberdade humana.

Deus não determina todas as coisas. Deus trabalha gentilmente no processo evolutivo para realizar criaturas mais complexas, capazes de experienciar maiores e mais intensas formas de experiência e beleza. A causa em um universo do Processo nunca é unilateral, mas multi-fatorial e relacional. Deus é um dos fatores, não o único fator, em cada momento de experiência. O poder de Deus é aquele do ideal, do companheirismo amoroso, e não de determinismo soberano. Nosso 'input' realmente importa para Deus. Ao nos aliarmos com a visão de Deus para nossas vidas, abrimos novas possibilidades para a ação divina. Ao nos afastarmos de Deus, limitamos o que Deus pode fazer em nossas vidas. O futuro é aberto, mas Deus também estará presente em cada momento futuro, buscando as possibilidades mais elevadas para cada e toda criatura.

Para resumir, a Teologia do Processo faz as seguintes afirmações a respeito de Deus:

· Deus está presente amorosamente em cada momento da vida.
· Deus busca a beleza, complexidade e inteireza em cada momento da vida.
· Deus realmente experiencia o mundo: a experiência de Deus é moldada pelo mundo.
· O poder divino é relacional, e não coercivo.
· Cada momento surge de muitos fatores, o mais significante dos quais é a presença de Deus naquele momento.

QUESTÕES PARA ESTUDO PESSOAL:

1) Como você entende o poder de Deus em sua vida e no mundo?

2) Como você entende o poder da oração? Suas orações fazem alguma diferença para Deus?

3) Como você entende as causas das doenças e das tragédias? Que Deus desempenha na saúde e na doença?

4) Como você responde à afirmação de Whitehead de que Deus é “o co-sofredor que entende”?

5) Onde você experiencia a presença de Deus em sua vida? Onde você experiencia a possibilidade divina?

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