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sábado, 10 de abril de 2010

Lembrando de um amigo

Scott foi um dos seres humanos mais nobres que já conheci, e tenho um imenso orgulho de ter sido abençoado por sua companhia e sua amizade. Com ele aprendi muitas coisas, uma delas foi o exercício constante e infindável de abrir meu coração para amar a todos, "independentemente de...".

De forma geral, não me preocupo com uma suposta vida pós-mortal, ou seja, não alimento ideias de que nos encontraremos com as pessoas que amamos depois de nossa morte, assim como não alimento esperanças de que vivamos conscientemente (d'alguma forma) após esta vida. Entretanto, acredito que a vida daqueles que se foram continua presente aqui naqueles que foram, d'alguma forma, tocados por eles. Scott tocou muitas pessoas. Ele amou intensamente aqueles que o cercaram - e provou isso em sua vida diária -, assim como foi amado intensamente por todos que o conheceram, especialmente por aqueles que, como eu, tiveram a oportunidade de dividir suas vidas com ele. Com ele aprendi a dar vida àquelas ideias nobres que costumamos apenas alimentar intelectualmente; ele me ensinou a pô-las em prática.

Se meu amigo estivesse aqui agora, faria questão de dizer o quanto o amo da forma como ele mais gostava: faria uma daquelas piadas que ninguém consegue entender, só ele, no que chamávamos entre nós de "witty fashion"...

Aquele frio dez de abril nunca sairá de minha lembrança, nem da lembrança de todos os nossos amigos. "O Riverfront nunca se esquecerá", foi o que disse Dawson. Nem o Riverfront, nem a grande comunidade dos amigos de Scott.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Carta Pela Compaixão - Charter for Compassion




O princípio da compaixão
é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, equidade e respeito.

É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, nos abstermos, de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros - mesmo os nossos inimigos - é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.

Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres ~ a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião ~ a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo ~ garantir que os jovens recebam informações exatas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas ~ incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural ~ cultivar uma empatia bem-informada pelo sofrimento de todos os seres humanos - mesmo daqueles considerados inimigos.

É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes em uma determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífca.




http://charterforcompassion.org/ - assine a Carta Pela Compaixão, e se junte a nós!




quinta-feira, 1 de abril de 2010

Batistas - uma conversa com Nilo

Caro Nilo,

Essa nossa conversa se iniciou na seguinte postagem http://cristianismoprogressista.blogspot.com/2009/05/universalismo-cristao-uma-breve.html
Por questões de espaço, e mesmo de relevância, decidi responder seu questionamento aqui, em separado.

Devo, antes de tudo, enfatizar que a visão que tenho dos batistas brasileiros (dos vários grupos que existem) é aquela de alguém que vê a partir de uma perspectiva externa, já que não tenho contato formal com comunidades batistas brasileiras. Tenho uma forte ligação (institucional mesmo) com os batistas gerais britânicos (que como afirmei antes, são unitaristas), e com o movimento progressista batista nos Estados Unidos, devido a minha ligação com a Alliance of Baptists.

O que diferencia os batistas gerais unitaristas dos batistas "gerais" brasileiros? Esta não é tão fácil assim de responder. Ou talvez seja! A diferença básica está na "lealdade" (por falta de uma expressão melhor) à tradição batista, falta essa muito presente na maioria dos assim chamados batistas hoje em dia.

Em um livro que considero interessantíssimo, The Baptist Identity, escrito por Walter Shurden, publicado em 1993 e ainda não traduzido ao português, o autor discute alguns dos princípios históricos batistas e a situação atual do movimento batista americano com relação a esses princípios. Muitas das coisas discutidas ali são válidas para o movimento batista aqui no Brasil.

Em seu livro, Shurden - diretor executivo do Centro Para Estudos Batistas da Universidade de Mercer, EUA - discute o que ele chama de quatro frágeis liberdades, que representam a base do movimento batista: 1) Liberdade Bíblica - que significa ter livre acesso às Escrituras, estar livre de restrições dogmáticas para a sua compreensão, e ter acesso à liberdade de interpretação individual das Escrituras; 2) Liberdade Espiritual - que significa não sofrer imposições doutrinárias, interferências clericais, ou intervenção do governo civil em nossa relação com Deus; 3) Liberdade Eclesiástica - ou seja, liberdade das igrejas individuais (congregações) com relação a quaisquer autoridades denominacionais; 4) Liberdade Religiosa - ou seja, a absoluta separação entre igreja e Estado.

Essas liberdades citadas por Shurden são um resumo do que significa ser batista, e se você atentar bem para esses "princípios" (percebe a linguagem? não doutrinas, mas "princípios", como nós unitaristas falamos!), verá que são os mesmos princípios defendidos pelos Batistas Gerais da Grã-Bretanha - da mesma forma como são os mesmos princípios defendidos pelos Unitaristas, pelos Universalistas, pelos Presbiterianos Não-Subscritos da Irlanda do Norte, e por muitos outros grupos protestantes pelo mundo afora. O interessante é que esses batistas que se mantêm fiéis à sua antiga tradição de liberdade é que são acusados de heresia, enquanto aqueles que, por muitas razões que não poderia discutir agora, abraçaram uma forma dogmática de definir sua fé que entra em conflito com as mais nobres tradições batistas são vistos como os "verdadeiros" batistas, os ortodoxos! É fascinante ver como os valores foram mudados e as perspectivas completamente alteradas. Isso obviamente não ocorreu apenas entre os batistas, já que ocorre entre outros grupos, mais marcadamente no meu próprio berço anglicano!

Agora faça uma comparação entre esses princípios e o que se ensina nas igrejas batistas brasileiras; faça uma real comparação. Será que os batistas brasileiros são ensinados a interpretar as escrituras de maneira individual, mesmo que essa interpretação entre em conflito com a mente da comunidade da qual são parte? São os batistas brasileiros realmente livres de imposições doutrinárias e clericais para se relacionarem com Deus, ou seja, podem entrar em conflito com seus ministros e igrejas sem serem punidos por isso? O que acontece com uma congregação que seja parte de uma associação ou denominação batista qualquer e tenha uma visão que entre em conflito com aquela defendida pela maioria? Os batistas brasileiros têm defendido suficientemente a distinção entre igreja e estado no Brasil, ou têm se aproveitado para chegar ao poder fazendo uso de instrumentos religiosos?... Não posso responder essas perguntas por você, mas tenho certeza que verá a diferença entre o que se ensina na maioria das igrejas batistas no Brasil e o que se ensina em igrejas batistas gerais, já que as últimas se mantêm fiéis a esses PRINCÍPIOS a qualquer custo. Também é importante que eu diga que esses princípios (até certo ponto) são reconhecidos e abraçados por grupos batistas no Brasil (estou agora pensando na Convenção Batista Brasileira).

Espero que possamos conversar um pouco mais sobre isso, e convido outros batistas a entrarem na discussão.

Paz e Feliz Páscoa!

Rev. Gibson da Costa