É muito fácil ignorar os cristãos liberais num mundo e num país como o nosso. O problema, talvez, comece pela própria compreensão dominante que se tem sobre religião em geral, e, mais especificamente, sobre o cristianismo.
Em minhas relações sociais, frequentemente tenho observado o que se diz sobre o cristianismo, e como a atenção se volta para tradições e grupos cristãos que tendem a assumir um perfil mais militante e mais conservador. A maioria das pessoas que me conhecem há pouco, se chocam quando descobrem que sou um ministro religioso, já que não sou o “religioso” mais convencional que conhecem.
Uma conhecida me disse há pouco que pensava que eu não tinha o “perfil” para ser chamado de “reverendo”, já que não recitava versículos bíblicos em nossas conversas, não insistia para que ela fosse à igreja, vestia jeans e calçava tênis, e ouvia rock e ia ao cinema. Depois disse que se não me conhecesse, pensaria que eu era um budista ou um ateu que meditava e que a última coisa que imaginaria era que eu fosse um cristão, e muito menos um protestante! Não preciso dizer que fiquei perplexo por seus comentários, apesar de saber que pensava aquilo por não ver em mim aquilas coisas que imaginava serem característica de cristãos.
Um outro problema de (in)compreensão é o sentido que muitas pessoas dão ao termo “liberal”. Alguns pensam que ser um “cristão liberal” signifique que você “não acredita em nada” (como se isso fosse possível!) e que não tenha nenhum princípio moral. Nenhuma dessas duas interpretações são corretas. Ser um cristão liberal é uma questão de como abordamos nossa fé e sua relação com o todo da vida, e como abordamos nossa relação com as outras pessoas e com o mundo em geral, incluindo aí nossa relação com Deus. Nós, cristãos liberais, tendemos a ver a humanidade e nossa cultura com muito mais otimismo e tolerância do que algumas outras tradições cristãs – não porque sejamos melhores que eles, mas simplesmente porque compreendemos nossa fé a partir de uma outra perspectiva.
Ao pensar que não pode haver cristãos liberais (política, social e religiosamente!), pacifistas, tolerantes, vegetarianos, gays, que ouvem rock e vão ao cinema, que leem não apenas a Bíblia, mas também os textos religiosos de outras tradições e as ideias seculares de pensadores modernos – como eu -, minha conhecida ignora uma grande parcela dos cristãos, e, talvez, um grande número de ministros religiosos das mais variadas tradições cristãs... Ela esqueceu o que ela mesma costuma dizer: NÃO SOMOS TODOS IGUAIS!