“…
se aperfeiçoem na prática da hospitalidade.” (Romanos
12:13)
Serei
duro em minha resposta a algumas provocações que tenho recebido. Em
hipótese nenhuma é minha intenção ferir qualquer um de meus
leitores ou leitoras. Mas, a honestidade, às vezes, exige um tanto de
rigidez.
Sim,
é verdade que há muita falta de compaixão por parte de algumas
igrejas e alguns fiéis cristãos para com diferentes grupos ou
indivíduos que não se encaixem em suas expectativas. Essa falta de
compaixão é, em minha compreensão teológica, pecaminosa, já que
trai o espírito da mensagem do Evangelho.
Sim,
é verdade que muitos indivíduos LGBT se sentem excluídos da
comunidade cristã por conta da falta de compaixão de alguns que se
declaram cristãos. Isso, para mim, é triste e inaceitável. Não
acredito que pessoas tenham de mudar sua personalidade para
sentirem-se respeitadas e protegidas enquanto seres humanos. Isso é
algo que elas merecem pelo simples fato de serem humanas e de, na
tradicional linguagem cristã, serem filhos e filhas de Deus.
Crer
nisso, proclamar isso e viver isso, entretanto, não significa dizer
que comunidades de fé (igrejas) não possam fazer exigências
comportamentais de seus adeptos. Elas têm esse direito. A vida em
comunidade só é possível sob acordos entre seus membros e, no caso
de comunidades de fé, esses acordos baseiam-se sobre uma tradição
teológica comum – partilhada se não por todos, pelo menos pela
maioria.
Quando
uma comunidade de fé, de qualquer tradição, acredita e ensina uma
certa compreensão da sexualidade humana e das relações maritais
que declare práticas homoafetivas como “pecaminosas”, ela não
está, com base apenas nisso, sendo “homofóbica” ou
cúmplice de “homofobia”. Está, apenas, vivendo suas próprias
regras.
Em
minha compreensão – e todos vocês sabem a partir de que posição
falo nesse conflito –, e na compreensão da lei, a vida religiosa
baseia-se, dentre tantas outras coisas, na voluntariedade. Em outras
palavras, você só faz parte duma comunidade de fé à qual você
queira se juntar. E essa – seja lá qual for – só recebe aqueles
a quem queira receber. Uma igreja não é uma loja que venda “Deus”
ou a “salvação – ou, pelo menos, não deveria ser –, é,
antes, uma comunidade de fiéis.
Assim,
mesmo eu sendo quem sou, e mesmo eu crendo no que creio no tocante ao
valor e à dignidade humanos, não posso aceitar acusações
generalizantes e falsas acerca de pessoas que não pensam como eu.
Apesar de, para mim e para minha tradição de fé, a
homossexualidade não ser um “pecado”, como o ensinam tantos
outros cristãos, dizer que seja e exigir um comportamento “moral”
que se afaste de “desejos e práticas homossexuais” não é
sinônimo de “homofobia” – é, no máximo, sinônimo de
ignorância e preconceito; mas se vamos falar sobre “ignorância”
e “preconceito”, também deveremos falar sobre esses dois
elementos na visão, declarações e comportamentos de certos
ativistas.
Não
é verdade que “todas as igrejas cristãs condenam a população
LGBT ao inferno”. Na verdade, nem todas as igrejas cristãs pregam
sobre o mito do “inferno” – algumas estão ocupadas demais
pregando as boas novas de Jesus para se preocuparem com “o diabo”.
Para nós, Deus é suficiente; não precisamos do diabo ou do inferno
para nos preocuparmos com o serviço ao próximo e com a construção
do Reino de Deus aqui e agora.
Sim,
é verdade que as igrejas e movimentos mais belicosos no tocante a
temas “delicados” como esse são as que têm maior audiência nos
meios de comunicação. São elas que aparecem nos noticiários, que
têm programas de TV, que vendem revistas nas bancas, e que elegem os
tipos de legisladores de certas “bancadas” do Congresso. Elas,
contudo, não são “o Cristianismo” – elas são uma parte
apenas (a mais poderosa no Brasil atual, mas apenas uma parte).
O
Cristianismo é multiforme e polifônico, assim, é injusto
acusar-nos todos como coparticipantes duma visão teológica
específica. Fazê-lo é não apenas reflexo de desinformação
deliberada: é uma desonestidade imoral.
Aos
que acreditam na retórica da não compaixão absoluta da Igreja
cristã para com qualquer tipo de pessoa, convido-os a procurar com
mais cuidado e atenção. Se de fato quiserem ser parte duma
comunidade de fé onde possam se sentir bem-vindos, tenho certeza que
encontrarão esse lugar. Só não se esqueçam de que da mesma forma
como querem ser livres e ser respeitados, outras pessoas que, talvez,
pensam de forma diferente da sua também o querem. É uma via de mão
dupla! É o preço de construir comunidade!
Se
precisar de ajuda em sua busca, ficarei feliz em ajudá-lo(a)!
Sinceramente,
Rev.
Gibson da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário