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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Jesus, Cristianismo e Política: um protesto


Eu confesso que cada vez mais me escandalizo com a incoerência e irrelevância do “testemunho” explicitado por aqueles que se apresentam como “verdadeiros cristãos”, “crentes bíblicos”, “católicos devotos” nas redes sociais. Essa legião de gritadores de refrões políticos – com máscaras de devoção religiosa – sequestram o vocabulário cristão a fim de legitimar seu fanatismo político reacionário, e acabam fazendo o contrário do que dizem defender: transformam seu suposto Deus, seu suposto Cristo e sua suposta fé num artefato de violência, de egoísmo, de maldade e de subserviência aos “poderes deste mundo”.

Isso fica claro, por exemplo, no caso da bajulação patética à figura do novo Presidente eleito dos Estados Unidos por parte desses tolos brasileiros. Os autoproclamados “servos de Deus” defendem a figura de Donald Trump – o grande idiota que utiliza impropérios e agressividade contra a dignidade humana como baluarte padrão de sua relação com o público – como se fora um novo messias enviado para salvá-los dos anjos do mal. Da mesma maneira, defendem o idiota nacional da mesma estirpe (i)moral, Jair Bolsonaro, como se o mesmo fosse uma espécie de retorno a uma “moralidade” que nunca existiu.

É vergonhoso! Faz-me pensar nas palavras atribuídas a Jesus, pelos autores do Evangelho de Mateus: “[...] Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu.” (Mateus 21:31b)

O que teria a mensagem atribuída a Jesus de Nazaré pelos autores dos Evangelhos a ver com as mensagens de Donald Trump ou Jair Bolsonaro? Ou melhor ainda, o que teria o Jesus daqueles textos a ver com qualquer um dos políticos do mundo?

O que Jesus tem a ver com pena de morte e posse de armas? Sim, aquele Jesus que supostamente ensinou que deveríamos amar aos nossos inimigos; o mesmo Jesus que ensinou que seu reino não era deste mundo.

Querem defender suas ideias de reação à cultura liberal? Façam-no explicitando que suas ideias saem de seus próprios medos e preconceitos, dos manuais políticos dos séculos XVIII e XIX que acabaram de descobrir, dos ideários de simpatizantes da ditadura pelos quais nutrem simpatia, dos vídeos de pseudofilósofos emigrados e dos blogs de gente que lê pouco. Não falsifiquem sua proclamada fé – ao fazê-lo, vocês, além de desqualificarem sua visão política, sabotam a mensagem política da tradição cristã.

O Jesus refugiado, que exaltou “estrangeiros” em sua prédica; o Jesus que quebrou uma tradição androcêntrica ao mencionar o mundo e as relações femininas em seus ensinamentos; o Jesus que, como judeu, preocupa-se em seus ensinamentos com o pobre, o fraco e o oprimido; o Jesus que transforma a criança no símbolo daquilo que seus seguidores devem ser; o Jesus que rejeita a revolução sanguinolenta, a violência e os poderes deste mundo. Esta é a figura “política” que se pode extrair das narrativas sobre Jesus: não a imagem de alguém que defende o capitalismo ou o socialismo; a homofobia ou o movimento LGBT; o machismo ou o feminismo. As palavras atribuídas a Jesus proclamam o amor à humanidade e a Deus: não o amor ao capital, ao ódio e às armas!

+Gibson

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