Eu
confesso que cada vez mais me escandalizo com a incoerência e
irrelevância do “testemunho” explicitado por aqueles que se
apresentam como “verdadeiros cristãos”, “crentes bíblicos”,
“católicos devotos” nas redes sociais. Essa legião de
gritadores de refrões políticos – com máscaras de devoção
religiosa – sequestram o vocabulário cristão a fim de legitimar
seu fanatismo político reacionário, e acabam fazendo o contrário
do que dizem defender: transformam seu suposto Deus, seu suposto
Cristo e sua suposta fé num artefato de violência, de egoísmo, de
maldade e de subserviência aos “poderes deste mundo”.
Isso
fica claro, por exemplo, no caso da bajulação patética à figura
do novo Presidente eleito dos Estados Unidos por parte desses tolos
brasileiros. Os autoproclamados “servos de Deus” defendem a
figura de Donald Trump – o grande idiota que utiliza impropérios e
agressividade contra a dignidade humana como baluarte padrão de sua
relação com o público – como se fora um novo messias enviado
para salvá-los dos anjos do mal. Da mesma maneira, defendem o idiota
nacional da mesma estirpe (i)moral, Jair Bolsonaro, como se o mesmo
fosse uma espécie de retorno a uma “moralidade” que nunca existiu.
É
vergonhoso! Faz-me pensar nas palavras atribuídas a Jesus, pelos
autores do Evangelho de Mateus: “[...] Pois eu garanto a vocês: os
cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês
no Reino do Céu.” (Mateus 21:31b)
O
que teria a mensagem atribuída a Jesus de Nazaré pelos autores dos
Evangelhos a ver com as mensagens de Donald Trump ou Jair Bolsonaro?
Ou melhor ainda, o que teria o Jesus daqueles textos a ver com
qualquer um dos políticos do mundo?
O
que Jesus tem a ver com pena de morte e posse de armas? Sim, aquele
Jesus que supostamente ensinou que deveríamos amar aos nossos
inimigos; o mesmo Jesus que ensinou que seu reino não era deste
mundo.
Querem
defender suas ideias de reação à cultura liberal? Façam-no
explicitando que suas ideias saem de seus próprios medos e
preconceitos, dos manuais políticos dos séculos XVIII e XIX que
acabaram de descobrir, dos ideários de simpatizantes da ditadura
pelos quais nutrem simpatia, dos vídeos de pseudofilósofos
emigrados e dos blogs de gente que lê pouco. Não falsifiquem sua
proclamada fé – ao fazê-lo, vocês, além de desqualificarem sua
visão política, sabotam a mensagem política da tradição cristã.
O
Jesus refugiado, que exaltou “estrangeiros” em sua prédica; o
Jesus que quebrou uma tradição androcêntrica ao mencionar o mundo
e as relações femininas em seus ensinamentos; o Jesus que, como
judeu, preocupa-se em seus ensinamentos com o pobre, o fraco e o
oprimido; o Jesus que transforma a criança no símbolo daquilo que
seus seguidores devem ser; o Jesus que rejeita a revolução
sanguinolenta, a violência e os poderes deste mundo. Esta é a
figura “política” que se pode extrair das narrativas sobre
Jesus: não a imagem de alguém que defende o capitalismo ou o
socialismo; a homofobia ou o movimento LGBT; o machismo ou o
feminismo. As palavras atribuídas a Jesus proclamam o amor à
humanidade e a Deus: não o amor ao capital, ao ódio e às armas!
+Gibson
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