Ao
longo de meu trabalho pastoral entre migrantes paralegais, desenvolvi
um carinho especial pelas palavras das promessas que fazemos na
Aliança Batismal. É verdade que aquelas palavras sempre
foram muito importantes para minha espiritualidade, mas a convivência
com a desumanidade da “fronteira” (um termo que uso com um
sentido metafórico especial) as reveste dum significado renovado.
Penso especialmente nas seguintes palavras:
[…]
Você buscará e servirá a
Cristo em todas as pessoas, amando o seu próximo como a si mesmo?
Sim, com a ajuda de Deus.
Você trabalhará pela
justiça e pela paz entre todas as pessoas, e respeitará a dignidade
de todo ser humano?
Sim, com a ajuda de Deus.
Essas
palavras exercem um poder convocatório sem igual. E, por serem parte
da Aliança Batismal, carregam em si um senso de obrigatoriedade mais
potente do que qualquer outra palavra sagrada em minha vida
espiritual. Elas exigem, de mim, uma reflexão profunda sobre “todas
as pessoas”, e sobre o que significa “servir”, “amar”,
“trabalhar” e “respeitar” – os verbos que rezamos naquela
Aliança.
O
que fazemos daquelas palavras quando nos deparamos com os pecados
etnocêntricos do tribalismo, do nacionalismo e do patriotismo? O que
fazemos com aquelas promessas se e/ou quando decidimos fazer com que
todos os povos se tornem discípulos de Cristo – o problemático
convite feito pelo Cristo do Evangelho de Mateus 28:19-20? Até que
ponto respeitamos “a dignidade de todo ser humano” quando
esperamos que todos sejam como nós – ou quando supomos que Deus
seja propriedade de nossa tradição religiosa?
Ou o
que fazemos daquelas palavras quando nos calamos diante da injustiça
e assistimos silenciosa e passivamente à violência perpetrada
contra outros seres humanos, como o que ocorre contra grupos étnicos
minoritários, refugiados e migrantes mundo afora? Ou quando nos
calamos e não agimos quando atacam – em nome de qualquer Deus,
homem ou nação – pessoas que abracem outras crenças religiosas,
crença religiosa nenhuma ou certa ideologia política? Ou quando
permitimos que, em nome de Deus ou da “nação”, pessoas tenham
sua dignidade humana desrespeitada por qualquer motivo?
O
que fazemos daquelas palavras quando sabemos que outras pessoas estão
com fome na rua, e pensamos que não há nada de errado em comermos
num restaurante caro, pois, afinal, isso é uma “questão de
mérito”? Ou, ainda, o que fazemos daquelas palavras quando
continuamos a votar em políticos corruptos que atentarão contra a
“dignidade” humana dos demais membros de nossa sociedade ou de
qualquer outra sociedade?
A
verdade é que aquelas promessas são o maior desafio que nos podem
ser feitos em nossa jornada espiritual. Elas são um testemunho de
que a “fé cristã” exige ação no mundo: não ação para
convencer ou converter pessoas, mas ação para curar e vivificar a
vida humana.
+Gibson
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