Nós
somos um povo pascal. E isso, apesar de poder significar muitas
coisas diferentes para diferentes pessoas, para a maioria de nós
significa que estamos comprometidos com o espírito daquilo que
cremos ter sido ensinado e exemplificado nos relatos sobre Jesus que
lemos nas Escrituras cristãs.
Como
todos vocês sabem, a maioria de nós unitaristas não compreende
aqueles relatos da mesma forma que os cristãos que abraçam uma
compreensão dita “ortodoxa”. Eu, certamente, me encontro entre
esses. Como um unitarista, não compreendo a morte de Jesus de Nazaré
como um sacrifício em favor da humanidade – essa doutrina, a
propósito, é altamente ofensiva para mim, já que (entre outras
coisas), para aceitá-la, teria de acreditar numa divindade
moralmente antropomorfizada que não é capaz de perdoar sem exigir
um pagamento por isso (um pagamento de sangue feito por uma pessoa
inocente).
Não
é isso que vejo e celebro na Páscoa.
Repetidamente,
ao longo do Novo Testamento cristão, aprendemos que ser seguidor de
Jesus é uma questão de ação no mundo. O autor do Evangelho de
Mateus, por exemplo, atribui a Jesus as seguintes palavras:
“Tudo
o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês
também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas”
(7:12).
E
ainda:
“…
‘eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com
sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua
casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e
cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar’.
Então lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te
vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te
vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te
visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês:
todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus
irmãos, foi a mim que o fizeram’.” (7:35-40)
Em
outro livro do Novo Testamento, encontramos:
“Se
alguém pensa que é religioso e não sabe controlar a língua, está
enganando a si mesmo, e sua religião não vale nada. Religião pura
e sem mancha diante de Deus, nosso pai, é esta: socorrer os órfãos
e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo”
(Tiago 1:26-27).
E
mais adiante:
“Assim
também é a fé: sem as obras, ela está completamente morta”
(Tiago 2:17).
Em
outras palavras, é nas nossas relações com outras pessoas no dia a
dia que vivemos nossa fé. É seguindo aquelas admoestações e
mandamentos de amar e servir e cuidar que demonstramos nosso
compromisso como seguidores e discípulos de Jesus. Não importa que
perspectivas teológicas abracemos sobre quem é Jesus: o que
realmente importa é se estamos realmente praticando aqueles
ensinamentos que os autores das Escrituras atribuíram a ele.
Minha
oração é que todos possamos “divinizar” nossas relações com
as pessoas com as quais compartilhamos este planeta, e possamos
encarnar em nossas ações o poder vivificante do testemunho pascoal.
Desejo
a todos uma Feliz Páscoa, compartilhando aquelas conhecidas palavras
de nossa oração de despedida da liturgia da Comunhão:
“Cristo
nasce em nós quando abrimos nossos corações à inocência e ao
amor. Cristo vive em nós quando caminhamos a senda do perdão,
reconciliação e compaixão. Cristo morre em nós quando nos
rendemos à nossa própria arrogância, egoísmo e ódio. Cristo
ressuscita em nós quando nossas almas se despertam da morte
espiritual para se unirem à comunidade de amor, para entrar no reino
divino aqui mesmo neste mundo. Saiamos em paz. Amém.”
+Gibson