Como muitos já devem ter percebido, a expressão "Cristianismo Liberal" é muito importante para nós. Nossa fé religiosa é uma fé cristã liberal - liberal numa época na qual o rígido fundamentalismo e o conservadorismo dogmático parecem dominar o Cristianismo - aqui em nossa região, em nosso país, e em todo o mundo.
A expressão "Cristianismo liberal" nos liga a um movimento crítico do Protestantismo que começou em fins do século XVIII e que incluiu pessoas como William Ellery Channing, Jabez T. Sunderland, Henry Ward Beecher, Harry Emerson Fosdick, John Arthur Thomas Robinson, Paul Tillich, Howard Thurman, e muitos outros. Afirmamos essa tradição toda vez que nos chamamos de "cristãos liberais".
Mas, afinal de contas, o que é o Cristianismo Liberal? O dicionário dá várias definições à palavra liberal: generoso; dadivoso; franco; amigo da liberdade; que tem idéias avançadas sobre a vida social; tolerante, indulgente. Essas são boas palavras para definir nosso tipo de fé.
Em sua coleção de três volumes a respeito da história da teologia liberal americana, Gary Dorian escreveu: "A teologia cristã liberal deriva da tentativa protestante de fins do século XVIII e começo do século XIX de reconceitualizar o significado do ensino tradicional cristão à luz do conhecimento moderno e de valores éticos modernos". E ainda escreveu: "A teologia liberal é definida por sua abertura à investigação intelectual moderna; seu comprometimento com a autoridade da razão e experiência individuais; sua concepção do Cristianismo como uma forma de vida ética; e seu compromisso em tornar o Cristianismo digno de confiança e socialmente relevante às pessoas modernas".
Então, deixem-me expandir essa definição com uma lista do que chamo de as oito características fundamentais do Cristianismo liberal - características que nos diferenciam dos cristãos tradicionais, ortodoxos.
Primeiro, o Cristianismo Liberal exige integridade intelectual. Respeitamos a mente humana e queremos usar nossas mentes na busca da verdade religiosa. O Bispo John Shelby Spong disse: "O coração nunca deve adorar o que a mente rejeita". Isso é teologia liberal!
Harry Emerson Fosdick, que foi um ministro batista e presbiteriano em Nova York em inícios do século XX, disse: "Todo o melhor sentido da religião pessoal pode ser meu sem a crucificação do intelecto". Isso é Cristianismo liberal!
O Cristianismo liberal exige a coragem de testarmos nossas noções religiosas por meio de estudos rigorosos; nunca vê o aprendizado secular como um inimigo da fé.
Segundo, o Cristianismo Liberal garante a liberdade de pensamento. Cristãos liberais são livres para acreditarem no que suas mentes, consciências, experiências e emoções os levam a afirmar. Cada um de nós é livre para moldar sua própria jornada de fé. O Cristianismo Liberal afirma: "Pensem sozinhos, o seu ministro pode estar errado". O Cristianismo Liberal diz aos alunos das aulas de religião: "Pensem sozinhos, seus professores podem estar errados".
Aqui, em nossa comunidade, Peter e eu, os ministros, apenas compartilhamos nossa compreensão de fé, oferecendo a cada um de vocês a oportunidade de pensar a respeito dos mesmos assuntos, de fazerem as mesmas perguntas, independentemente de vocês concordarem conosco. O Cristianismo Liberal garante o livre pensamento.
Terceiro, as igrejas cristãs liberais são comunidades de investigadores e, portanto, devem ser inovadoras. Quando os fundamentalistas primeiro desafiaram a teoria da evolução nos EUA em inícios do século XX, os ministros liberais não só defenderam a ciência da evolução, como clamaram por uma teologia evolutiva. O Cristianismo Liberal vê cada uma de nossas jornadas de fé como parte de um processo evolutivo.
Vemos nossas vidas como uma peregrinação que evolui, que se move, que muda. Não somos uma comunidade de crentes; somos uma comunidade de buscadores que estão sempre caminhando, que ainda não chegamos ao nosso destino final.
Esta manhã usarei um texto que exemplifica o Cristianismo Liberal. Em vez de usar a Bíblia, farei uma leitura do fragmento de um papiro do século II da era cristã, encontrado onde antes era o depósito de lixo da antiga cidade egípcia de Oxirincus. Esse fragmento, número 840, possui apenas esta narrativa:
"Levando os discípulos consigo, Jesus os levou ao interior do santuário e começou a andar pelo precinto do templo.
Levi, um fariseu, um sacerdote, também entrou, correu até eles e disse ao Salvador: 'Quem te deu permissão de caminhar neste santuário e deitar teus olhos sobre esses objetos sagrados, quando não realizaste o banho ritual, e teus discípulos sequer lavaram seus pés? Invadiste este lugar sagrado, que é ritualmente limpo, em um estado impuro.'
O Salvador imediatamente respondeu: 'Já que estás aqui no templo, suponho que estejas limpo'. Levi respondeu: 'Estou limpo. Banhei-me na piscina de Davi. Ritualmente me vesti com roupas brancas e limpas. Só depois disso vim aqui, e pus meus olhos sobre esses objetos sagrados.'
Em resposta, o Salvador disse a ele: 'Malditos os cegos que não vêem. Vocês se banham nessas águas estagnadas onde os cães e porcos espojam-se dia e noite. Vocês lavam e esfregam a pele. Mas meus discípulos e eu nos banhamos em água viva e vivificante'."
Tenha ou não esta narrativa qualquer validade histórica, é mais uma narrativa antiga que exibe a recusa de Jesus em ser aprisionado por costumes, hábitos e dogmas do passado. Ele ofereceu às pessoas uma nova água, uma nova forma de vida, uma que era livre, sem medo de mudança.
Cristãos liberais devem estar abertos a novas idéias, novas formas de ver as coisas, novos símbolos, novas práticas religiosas. A teologia não é um acúmulo demonstrável como a ciência, nem é uma sucessão de momentos contínuos como a arte. A teologia deve sempre desfiar-se e ser recosturada.
Seria mais fácil se esse não fosse o caso, e essa é uma das atrações do fundamentalismo - você não precisa pensar e se esforçar, você simplesmente aceita o dogma. Mas o Cristianismo Liberal exige que nós buscadores constantemente desfiemos nossa fé e a recosturemos, de forma a dar-lhe um novo sentido para um novo tempo. Cristãos liberais são chamados a pensar infinitamente e a explorar novas visões de quem somos e do que acreditamos.
Quarto, o Cristianismo Liberal honra e respeita a sabedoria de outras religiões. Nas palavras desenvolvidas pelo Centro do Cristianismo Progressista: "Reconhecemos a fidelidade de outras pessoas que têm outros nomes para o caminho que as levam a Deus, e reconhecemos que seus caminhos são verdadeiros da mesma maneira como nossos caminhos são verdadeiros para nós".
Podemos celebrar a vitalidade de nossa própria fé cristã sem precisar declarar a superioridade de nossas visões em relação às outras. Jesus se torna para nós uma janela para o amor de Deus, mas reconhecemos que para outros, Muhammad ou o Buda pode ser tal janela. O Cristianismo Liberal se vê como apenas um caminho para o divino.
Quinto, a fé e a prática religiosas envolvem mais que apenas o intelecto. Isso é um desafio porque muitos liberais, como eu, tendem a ser cerebrais em nossa forma de ver a vida. Mas o Cristianismo Liberal reconhece que o papel da fé seja alimentar o coração e o espírito juntamente com a mente.
Freqüentemente isso significa que os cristãos liberais reivindicam e redefinem antigos ritos e rituais, tanto da tradição cristã como das tradições de outras religiões. Hoje, por exemplo, reivindicaremos o ritual da comunhão, mas para a maioria de nós ele não tem nenhuma relação com o corpo e sangue de Jesus, a velha teologia da redenção. Nós batizamos crianças, não em nome do "Pai, Filho, e Espírito Santo", mas em nome do "mistério da vida, do mistério do amor, e do mistério do ser". Nós tomamos rituais cristãos tradicionais, como a unção com óleo ou os ofícios de cura, e damos um novo significado a esses rituais, redefinindo-os à luz da teologia evolutiva.
Enriquecemos nosso cristianismo com práticas espirituais budistas e islâmicas, alimentando nossos corações e espíritos cristãos.
Sexto, cristãos liberais afirmam o valor e a dignidade de cada ser humano - pessoas de todas as raças e religiões, de ambos os sexos e os transgêneros, de todas as orientações sexuais, de todas as classes, de todas as habilidades. E por afirmamos a unidade universal, devemos ser radicalmente receptivos a todas as pessoas - fazendo com que ninguém sinta que devesse ficar fora de nosso círculo.
Sétimo, para a maioria dos cristãos liberais a Bíblia é uma coleção de antigas e úteis reflexões a respeito de Deus, e o Jesus humano é um caminho para se entender o amor de Deus e o sentido da vida. Apesar de a Bíblia ser menos a Palavra de Deus e muito mais uma coleção de palavras humanas a respeito de Deus, ela continua a ser uma rica coleção de materiais que nos ajudam e inspiram em nossas próprias jornadas de fé.
E apesar de a maioria dos cristãos liberais não ver Jesus como uma figura divina enviada por Deus para pagar pelos pecados de uma humanidade caída, o Jesus humano assume um novo sentido como o modelo mais elevado da vida religiosa. Jesus é visto, pela maioria de nós, como um ser humano exemplar. Jesus é nosso mestre, um guia em nossa jornada pela vida.
Finalmente, o Cristianismo Liberal insiste que a maneira como tratamos toda a criação é mais importante do que o que acreditamos. Na maioria das chamadas igrejas tradicionais, a ênfase está na crença - crer nas palavras de um credo antigo ou crer que Jesus tenha morrido por nossos pecados.
Mas o Cristianismo Liberal diz: "Mostre o que você acredita pela maneira como vive". O que você faz é mais importante do que o que você diz. E é por isso que para cristãos liberais é tão importante cuidar das pessoas menos privilegiadas, trabalhar para criar um mundo livre de guerra e tortura, abrir nossos braços e corações para recebermos todas as pessoas, para que todos possam ter um lugar em nossa mesa e em nossos corações.
Jesus não deu um credo às pessoas. Ele ensinou como viver e se portar de novas maneiras justas e pacíficas, e ele modelou essas novas maneiras em sua própria vida. A forma como nos comportamos é mais importante que nossas crenças.
Essas são as características do Cristianismo Liberal que tentamos passar para a próxima geração, além da nossa própria.
O Cristianismo Liberal afirma a integridade intelectual, protege o livre pensamento, e constrói comunidades de buscadores inovadores.
O Cristianismo Liberal respeita e aprende de outras religiões; presta atenção ao coração e à alma, assim como à mente; e afirma o valor e dignidade de cada ser humano.
O Cristianismo Liberal respeita a Bíblia como uma coleção de antigas e úteis reflexões humanas, vê o Jesus humano como a janela de nossa comunidade para o amor de Deus, e sabe que a maneira como tratamos uns aos outros é mais importante que o que acreditamos.
Esses são meus pensamentos a respeito do tipo de religião que praticamos aqui em nossa comunidade.
(Sermão pregado na Congregação Unitarista de Pernambuco, em 10 de agosto de 2008.)
A expressão "Cristianismo liberal" nos liga a um movimento crítico do Protestantismo que começou em fins do século XVIII e que incluiu pessoas como William Ellery Channing, Jabez T. Sunderland, Henry Ward Beecher, Harry Emerson Fosdick, John Arthur Thomas Robinson, Paul Tillich, Howard Thurman, e muitos outros. Afirmamos essa tradição toda vez que nos chamamos de "cristãos liberais".
Mas, afinal de contas, o que é o Cristianismo Liberal? O dicionário dá várias definições à palavra liberal: generoso; dadivoso; franco; amigo da liberdade; que tem idéias avançadas sobre a vida social; tolerante, indulgente. Essas são boas palavras para definir nosso tipo de fé.
Em sua coleção de três volumes a respeito da história da teologia liberal americana, Gary Dorian escreveu: "A teologia cristã liberal deriva da tentativa protestante de fins do século XVIII e começo do século XIX de reconceitualizar o significado do ensino tradicional cristão à luz do conhecimento moderno e de valores éticos modernos". E ainda escreveu: "A teologia liberal é definida por sua abertura à investigação intelectual moderna; seu comprometimento com a autoridade da razão e experiência individuais; sua concepção do Cristianismo como uma forma de vida ética; e seu compromisso em tornar o Cristianismo digno de confiança e socialmente relevante às pessoas modernas".
Então, deixem-me expandir essa definição com uma lista do que chamo de as oito características fundamentais do Cristianismo liberal - características que nos diferenciam dos cristãos tradicionais, ortodoxos.
Primeiro, o Cristianismo Liberal exige integridade intelectual. Respeitamos a mente humana e queremos usar nossas mentes na busca da verdade religiosa. O Bispo John Shelby Spong disse: "O coração nunca deve adorar o que a mente rejeita". Isso é teologia liberal!
Harry Emerson Fosdick, que foi um ministro batista e presbiteriano em Nova York em inícios do século XX, disse: "Todo o melhor sentido da religião pessoal pode ser meu sem a crucificação do intelecto". Isso é Cristianismo liberal!
O Cristianismo liberal exige a coragem de testarmos nossas noções religiosas por meio de estudos rigorosos; nunca vê o aprendizado secular como um inimigo da fé.
Segundo, o Cristianismo Liberal garante a liberdade de pensamento. Cristãos liberais são livres para acreditarem no que suas mentes, consciências, experiências e emoções os levam a afirmar. Cada um de nós é livre para moldar sua própria jornada de fé. O Cristianismo Liberal afirma: "Pensem sozinhos, o seu ministro pode estar errado". O Cristianismo Liberal diz aos alunos das aulas de religião: "Pensem sozinhos, seus professores podem estar errados".
Aqui, em nossa comunidade, Peter e eu, os ministros, apenas compartilhamos nossa compreensão de fé, oferecendo a cada um de vocês a oportunidade de pensar a respeito dos mesmos assuntos, de fazerem as mesmas perguntas, independentemente de vocês concordarem conosco. O Cristianismo Liberal garante o livre pensamento.
Terceiro, as igrejas cristãs liberais são comunidades de investigadores e, portanto, devem ser inovadoras. Quando os fundamentalistas primeiro desafiaram a teoria da evolução nos EUA em inícios do século XX, os ministros liberais não só defenderam a ciência da evolução, como clamaram por uma teologia evolutiva. O Cristianismo Liberal vê cada uma de nossas jornadas de fé como parte de um processo evolutivo.
Vemos nossas vidas como uma peregrinação que evolui, que se move, que muda. Não somos uma comunidade de crentes; somos uma comunidade de buscadores que estão sempre caminhando, que ainda não chegamos ao nosso destino final.
Esta manhã usarei um texto que exemplifica o Cristianismo Liberal. Em vez de usar a Bíblia, farei uma leitura do fragmento de um papiro do século II da era cristã, encontrado onde antes era o depósito de lixo da antiga cidade egípcia de Oxirincus. Esse fragmento, número 840, possui apenas esta narrativa:
"Levando os discípulos consigo, Jesus os levou ao interior do santuário e começou a andar pelo precinto do templo.
Levi, um fariseu, um sacerdote, também entrou, correu até eles e disse ao Salvador: 'Quem te deu permissão de caminhar neste santuário e deitar teus olhos sobre esses objetos sagrados, quando não realizaste o banho ritual, e teus discípulos sequer lavaram seus pés? Invadiste este lugar sagrado, que é ritualmente limpo, em um estado impuro.'
O Salvador imediatamente respondeu: 'Já que estás aqui no templo, suponho que estejas limpo'. Levi respondeu: 'Estou limpo. Banhei-me na piscina de Davi. Ritualmente me vesti com roupas brancas e limpas. Só depois disso vim aqui, e pus meus olhos sobre esses objetos sagrados.'
Em resposta, o Salvador disse a ele: 'Malditos os cegos que não vêem. Vocês se banham nessas águas estagnadas onde os cães e porcos espojam-se dia e noite. Vocês lavam e esfregam a pele. Mas meus discípulos e eu nos banhamos em água viva e vivificante'."
Tenha ou não esta narrativa qualquer validade histórica, é mais uma narrativa antiga que exibe a recusa de Jesus em ser aprisionado por costumes, hábitos e dogmas do passado. Ele ofereceu às pessoas uma nova água, uma nova forma de vida, uma que era livre, sem medo de mudança.
Cristãos liberais devem estar abertos a novas idéias, novas formas de ver as coisas, novos símbolos, novas práticas religiosas. A teologia não é um acúmulo demonstrável como a ciência, nem é uma sucessão de momentos contínuos como a arte. A teologia deve sempre desfiar-se e ser recosturada.
Seria mais fácil se esse não fosse o caso, e essa é uma das atrações do fundamentalismo - você não precisa pensar e se esforçar, você simplesmente aceita o dogma. Mas o Cristianismo Liberal exige que nós buscadores constantemente desfiemos nossa fé e a recosturemos, de forma a dar-lhe um novo sentido para um novo tempo. Cristãos liberais são chamados a pensar infinitamente e a explorar novas visões de quem somos e do que acreditamos.
Quarto, o Cristianismo Liberal honra e respeita a sabedoria de outras religiões. Nas palavras desenvolvidas pelo Centro do Cristianismo Progressista: "Reconhecemos a fidelidade de outras pessoas que têm outros nomes para o caminho que as levam a Deus, e reconhecemos que seus caminhos são verdadeiros da mesma maneira como nossos caminhos são verdadeiros para nós".
Podemos celebrar a vitalidade de nossa própria fé cristã sem precisar declarar a superioridade de nossas visões em relação às outras. Jesus se torna para nós uma janela para o amor de Deus, mas reconhecemos que para outros, Muhammad ou o Buda pode ser tal janela. O Cristianismo Liberal se vê como apenas um caminho para o divino.
Quinto, a fé e a prática religiosas envolvem mais que apenas o intelecto. Isso é um desafio porque muitos liberais, como eu, tendem a ser cerebrais em nossa forma de ver a vida. Mas o Cristianismo Liberal reconhece que o papel da fé seja alimentar o coração e o espírito juntamente com a mente.
Freqüentemente isso significa que os cristãos liberais reivindicam e redefinem antigos ritos e rituais, tanto da tradição cristã como das tradições de outras religiões. Hoje, por exemplo, reivindicaremos o ritual da comunhão, mas para a maioria de nós ele não tem nenhuma relação com o corpo e sangue de Jesus, a velha teologia da redenção. Nós batizamos crianças, não em nome do "Pai, Filho, e Espírito Santo", mas em nome do "mistério da vida, do mistério do amor, e do mistério do ser". Nós tomamos rituais cristãos tradicionais, como a unção com óleo ou os ofícios de cura, e damos um novo significado a esses rituais, redefinindo-os à luz da teologia evolutiva.
Enriquecemos nosso cristianismo com práticas espirituais budistas e islâmicas, alimentando nossos corações e espíritos cristãos.
Sexto, cristãos liberais afirmam o valor e a dignidade de cada ser humano - pessoas de todas as raças e religiões, de ambos os sexos e os transgêneros, de todas as orientações sexuais, de todas as classes, de todas as habilidades. E por afirmamos a unidade universal, devemos ser radicalmente receptivos a todas as pessoas - fazendo com que ninguém sinta que devesse ficar fora de nosso círculo.
Sétimo, para a maioria dos cristãos liberais a Bíblia é uma coleção de antigas e úteis reflexões a respeito de Deus, e o Jesus humano é um caminho para se entender o amor de Deus e o sentido da vida. Apesar de a Bíblia ser menos a Palavra de Deus e muito mais uma coleção de palavras humanas a respeito de Deus, ela continua a ser uma rica coleção de materiais que nos ajudam e inspiram em nossas próprias jornadas de fé.
E apesar de a maioria dos cristãos liberais não ver Jesus como uma figura divina enviada por Deus para pagar pelos pecados de uma humanidade caída, o Jesus humano assume um novo sentido como o modelo mais elevado da vida religiosa. Jesus é visto, pela maioria de nós, como um ser humano exemplar. Jesus é nosso mestre, um guia em nossa jornada pela vida.
Finalmente, o Cristianismo Liberal insiste que a maneira como tratamos toda a criação é mais importante do que o que acreditamos. Na maioria das chamadas igrejas tradicionais, a ênfase está na crença - crer nas palavras de um credo antigo ou crer que Jesus tenha morrido por nossos pecados.
Mas o Cristianismo Liberal diz: "Mostre o que você acredita pela maneira como vive". O que você faz é mais importante do que o que você diz. E é por isso que para cristãos liberais é tão importante cuidar das pessoas menos privilegiadas, trabalhar para criar um mundo livre de guerra e tortura, abrir nossos braços e corações para recebermos todas as pessoas, para que todos possam ter um lugar em nossa mesa e em nossos corações.
Jesus não deu um credo às pessoas. Ele ensinou como viver e se portar de novas maneiras justas e pacíficas, e ele modelou essas novas maneiras em sua própria vida. A forma como nos comportamos é mais importante que nossas crenças.
Essas são as características do Cristianismo Liberal que tentamos passar para a próxima geração, além da nossa própria.
O Cristianismo Liberal afirma a integridade intelectual, protege o livre pensamento, e constrói comunidades de buscadores inovadores.
O Cristianismo Liberal respeita e aprende de outras religiões; presta atenção ao coração e à alma, assim como à mente; e afirma o valor e dignidade de cada ser humano.
O Cristianismo Liberal respeita a Bíblia como uma coleção de antigas e úteis reflexões humanas, vê o Jesus humano como a janela de nossa comunidade para o amor de Deus, e sabe que a maneira como tratamos uns aos outros é mais importante que o que acreditamos.
Esses são meus pensamentos a respeito do tipo de religião que praticamos aqui em nossa comunidade.
(Sermão pregado na Congregação Unitarista de Pernambuco, em 10 de agosto de 2008.)