Muitos podem pensar que seja inútil refletir acerca da música pop – uso o termo mais no sentido de música comercial do que num estilo específico –, e, assim, podem pensar que o tempo que tenho gasto escrevendo e discutindo o papel da música como instrumento de busca espiritual seja extravagância. Entretanto, como teólogo, tenho aprendido que refletir sobre o mundo que nos cerca é algo que pavimenta o caminho para descobrirmos um pouco mais acerca de nós mesmos e de nossas crenças e práticas religiosas/espirituais, e nada mais ostensivamente parte de nosso mundo do que a música que embala nossas imaginações e corpos e dá forma às ideias que habitam nossas mentes.
Alguns podem pensar que não podemos falar em música pop sem nos referirmos aos interesses comerciais que manipulam a criatividade mecânica de alguns artistas e empresas apenas interessados em lucros. Esses esperam que quando falo sobre música, utilize termos como “capitalismo”, “burgueses”, “manipulação”, “alienação” etc. Para esses, os consumidores da cultura pop – música, cinema, literatura etc – são, na verdade, seres alienados que injetam-se com a droga do mercado. Pode ser que parte disso seja verdade – mas, para mim, os seres humanos são mais racionais que isso. O que consumimos musicalmente tem uma grande relação com nossas necessidades e anseios mais profundos – necessidades e anseios esses que considero “espirituais” (não num sentido usual do termo). “Espirituais” porque se relacionam com uma dimensão mais profunda de nossa personalidade; porque interligam nossa visão do mundo objetivo aos sentimentos mais profundos que moldam nossa existência enquanto humanos.
Não acredito que seja o único a viajar no tempo enquanto ouço uma canção. Ouvimos uma canção especial e ela parece nos levar a uma outra dimensão da realidade – talvez um sentimento semelhante ao que certas pessoas têm ao utilizarem alguma droga, não sei. Às vezes, as letras parecem um conjunto de palavras vazias e sem sentido, mas, na verdade, elas podem revelar muito mais sobre quem somos hoje, ou sobre quem fomos ontem, e sobre as esperanças que temos para o futuro enquanto sociedade. Por essa razão, não sou tão rápido em descartar a cultura pop – a música em particular – tão rapidamente. Meu estudo pessoal da música pop num contexto mais amplo – fazendo uso de História, Psicologia, Antropologia, Linguística, Literatura e Teologia – tem me ensinado muito sobre nós, e não estou disposto a parar só porque alguns não levam isso à sério!
+Gibson
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