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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um pouco de clareza semântica, por favor!


Sempre me aborreço com a maneira como somos semanticamente descuidados em nossas discussões. Para dar um exemplo, pense no uso que recorrentemente fazemos hoje de expressões como “fundamentalismo”, “ideologia”, “capitalismo”, e “neoliberalismo”. Para mim, nem sempre é muito claro o que esses termos significam no discurso da maioria daqueles que os utilizam. Eles se tornaram “chavões” discursivos que significam quase qualquer coisa nos discursos políticos e acadêmicos, apesar de, na história intelectual, terem significados específicos.

Talvez minha quase-obsessão semântica seja um mal advindo de minha formação clássica e teológica. Como alguém que se ocupa do estudo histórico de ideias religiosas, tenho que manter em mente o sentido que determinados termos possuem nos textos que analiso. Assim, relações intertextuais são indispensáveis ao meu campo de análise. Não posso, por exemplo, utilizar o termo “fundamentalismo” para me referir a movimentos reformistas na Europa do século XVI, e achar que não há nenhum problema com isso! Considero que viver numa era na qual não há mais noções de objetividades existenciais, na qual não há mais verdades inquestionáveis, exige um cuidado semântico maior para que possamos manter um certo nível de inteligibilidade. Infelizmente, nem todos compreendem isso.

A plasticidade idearia que invadiu o domínio semântico é tão assustadoramente “descontrolada” que tenho quase certeza que nossos antepassados teriam um grande problema para nos entender – não apenas por usarmos uma linguagem diferente, mas porque aquelas antigas noções que lhes ofereciam um senso de segurança e unidade, e que se manifestavam em termos plenos de sentido, não significam a mesma coisa (quando significam algo!), e seu uso não segue a nenhum padrão de significado que possa ser plenamente partilhado por todos os interlocutores.

Vindo dum teólogo que se preocupa com a relação entre a fé e a linguagem metafórica, esse apego à clareza semântica pode parecer contraditório – já que, para mim, a fé (o texto) só pode ser compreendida em relação às construções subjetivas do sujeito (i.e., relações intertextuais). Mas minha consideração de subjetividades individuais só são possíveis porque conceitos, em seus contextos históricos, são essenciais para a construção exegética. Então, talvez a confusão semântica seja indispensável ao domínio literário, mas podemos dispensá-la quando nos referimos a uma tentativa de construir uma compreensão do domínio das ideias: seja na teologia, na filosofia, na história, na sociologia etc. A clareza semântica é essencial para a construção teórica e, consequentemente, para a eficiência metodológica.

+Gibson

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