“Não
explore o imigrante nem o oprima, porque vocês foram imigrantes no
Egito.” (Êxodo 22:20)
“Quando
um imigrante habitar com vocês no país, não o oprimam. O imigrante
será para vocês um concidadão: você o amará como a si mesmo,
porque vocês foram imigrantes na terra do Egito...”
(Levítico 19:33-34)
“Portanto,
amem o imigrante, porque vocês foram imigrantes no Egito.”
(Deuteronômio 10:19)
“O
imigrante nunca teve que dormir na rua, porque eu abria minhas portas
ao viajante.” (Jó 31:32)
“Sejam
solidários com os cristãos em suas necessidades e se aperfeiçoem
na prática da hospitalidade.” (Romanos 12:13)
“Não
se esqueçam da hospitalidade, pois algumas pessoas, graças a ela,
sem saber acolheram anjos.” (Hebreus 13:2)
Todos
vocês conhecem essas passagens bíblicas. Elas sempre tiveram uma
grande importância na formação de minha compreensão teológica.
Sempre tiveram, também, uma grande importância para nossa tradição,
pois apontam para uma das maiores obrigações daquele que intenta
seguir os ensinamentos atribuídos a Jesus: a hospitalidade.
No
Novo Testamento grego, a palavra usada para se referir à
hospitalidade é “filoxenos”, ou seja, amor ao
estrangeiro. Em minha compreensão, esse princípio, um verdadeiro
mandamento cristão, nunca foi tão importante quanto em nossos dias.
Os milhões de seres humanos que cruzam fronteiras em busca duma nova
vida aumentam a cada dia. E muitos desses seres humanos desenraizados
encontram uma recepção desumana de muitos de nós.
Não,
não estou me referindo a seres metafóricos que habitam as páginas
de livros sagrados ou poéticos. Me refiro às centenas, talvez
milhares, de haitianos que vendem produtos nas calçadas do Recife
para que possam sobreviver. Me refiro aos milhares de seus
compatriotas que têm cruzado as fronteiras do Acre nos dois últimos
anos. Me refiro aos milhares de bolivianos semi-escravizados em
fábricas de São Paulo. E, também, às centenas de nordestinos
explorados em trabalhos de baixa qualificação em outras partes do
país, e olhados como menos dignos de respeito. Acredito que é sobre
essas pessoas que aquelas passagens fazem referência, e sobre todas
as outras que são desrespeitadas, maltratadas, e negligenciadas por
terem vindo de outro lugar.
Por
razões muito pessoais, narrativas migratórias sempre foram muito
importantes para mim: os patriarcas e matriarcas bíblicos, Medeia em
Corinto, Jesus em Jerusalém, os brasileiros na América do Norte e
Europa, e tantas outras histórias de movimentação humana – e sua
consequente alegria e dor. Mas ontem, depois de conhecer uma pessoa
muito especial numa esquina do centro da cidade, percebi o quão
importante é por tudo aquilo no qual dizemos acreditar ao teste,
para que nossa fé se materialize em nossas ações.
Sei
o quanto vocês já colaboram com o “Projeto Santuário” de nossa
congregação. Tenho testemunhado o esforço que alguns de vocês têm
feito para ajudar famílias e indivíduos a recomeçarem suas vidas
em nosso país. Todos eles são muito gratos por isso. Mas o que
temos feito não é suficiente! Precisamos fazer muito mais.
Como
cristãos, somos chamados a estender nossas mãos, abrir nossas
portas e compartilhar nossas mesas com todo estrangeiro. Precisamos
ajudar essas irmãs e irmãos a vencerem seus obstáculos e
a construírem uma vida digna, mesmo que para isso tenhamos de desafiar
o mundo. Esse é o sentido do termo “santuário”, oferecer
proteção, trazer para sob as asas da compaixão, amor e respeito
esses nossos irmãos e irmãs.
Uma
fé que não seja um desafio a nossas próprias limitações,
preconceitos e medos, uma fé que não seja uma forma de trazer o
Divino a esse mundo caótico, não é relevante. O amor ao
estrangeiro – a hospitalidade que afirmamos professar como
princípio de fé – pode significar muitas coisas diferentes, mas o
cuidado para com o imigrante é, definitivamente, seu sentido mais
básico. Por isso, estendo a todos a convocação divina ao
filoxenos, testemunhada por nossa aliança
congregacional que reza:
“O amor é a
doutrina desta igreja,
E o serviço é
a sua oração.
Habitar juntos
em justiça e paz,
Buscar a
verdade com liberdade,
Respeitar o
valor e dignidade de todas as pessoas,
E servir a
humanidade juntos,
A fim de que
todas as almas
Possam crescer
em harmonia com o divino,
Esta é a
aliança que fazemos uns com os outros.”
+Gibson
Nenhum comentário:
Postar um comentário