Ó homem, já foi explicado o
que é bom e o que o Senhor exige de você: praticar o que é justo,
amar a misericórdia, caminhar humildemente com o seu Deus.
(Miqueias 6:8)
Religião pura e sem mancha
diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas
em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo.
(Tiago 1:27)
[…] Tratai com benevolência
os vossos pais e parentes, os órfãos, os necessitados, o vizinho
próximo, o vizinho estranho, o companheiro de lado, o viajante e os
vossos servos, porque Deus não estima arrogante e pretensioso algum.
(Alcorão 4:36)
Cara
Ana,
É
importante que você perceba que nunca escrevi que não há
“verdade”. Muito pelo contrário. Se você ler cuidadosamente o
que tenho publicado aqui mesmo, neste blogue, perceberá que apenas
enfatizo uma diferença epistemológica entre “verdade” e
“factualidade”. Nem toda “verdade” é
factualmente/objetivamente verificável: assim, por exemplo, o amor é
uma “verdade”, apesar de não ser uma “factualidade” (porque
não pode ser mensurado em si). Esse ponto é importantíssimo quando
discuto temas concernentes à eticidade. Tendo dito isso, deixe-me
responder às suas provocações.
Não.
Não acredito que todas as religiões sejam igualmente “verdadeiras”
(lembre-se da distinção que faço entre “verdade” e
“factualidade”). Há muitas semelhanças entre diferentes
tradições de fé, mas há, também, incontáveis diferenças –
que podem ser, dependendo das tradições teológicas em questão,
irreconciliáveis. Assim, para mim, há certos conceitos/doutrinas e
práticas religiosos que não posso aceitar como “verdadeiros” ou
“certos”, pois violam princípios teológicos que moldam minha
compreensão do sagrado e/ou da “realidade” factual. [Todos esses
termos podem parecer apenas um “emaranhado de palavras” para que
eu pareça “mais inteligente do que realmente” sou – suas
palavras –, mas eu as utilizo para evitar a armadilha da falsa
objetivação do que não pode ser mensurado. E o público ao qual
destino estas páginas é capaz de compreender os usos que faço.]
Baseada
apenas numa lista de links e em uma única postagem aqui, você
escreve que devo ser “um muçulmano disfarçado de cristão”.
Essa é uma acusação que, no mínimo, segue em direção oposta ao
que geralmente sou acusado. A maioria de meus denunciadores me acusam
de ser um “ateu” ou “anticristo” disfarçado de cristão! [É
bem verdade que já fui acusado de ser um “católico disfarçado de
protestante”; “judeu disfarçado de cristão”; “comunista
disfarçado de liberal”; etc, etc, etc. Mas, com sua acusação,
atinjo um nível recorde de “disfarces”!]
Para
esclarecer sua dúvida – ou seria “para desmentir sua certeza”?!
–, sou um cristão liberal, com background judaico. Com tal
perfil religioso, tenho muito em comum com alguns muçulmanos – com
nossa preocupação em viver nossa fé, e não apenas proclamá-la
com nossas bocas. Tenho muitos amigos muçulmanos. Já vivi num país
de maioria muçulmana. E, em decorrência de minha formação
cultural/acadêmica e minha experiência de vida, posso dizer que
conheço o Islã razoavelmente bem. Por isso, sei distinguir o que é
abraçado pela maioria do que é compreensão minoritária. Esse é
um tipo de conhecimento, aliás, disponível a toda pessoa de boa
vontade – só é necessário dar um passo para fora da bolha
cultural na qual, muitas vezes, as pessoas se escondem e se separam
do resto da humanidade. Posso ser fiel à minha própria fé
religiosa e à minha própria visão de mundo sem ser desonesto
quanto à fé e compreensão alheias – sem erroneamente
atribuir-lhes certas compreensões, simplesmente para engrandecer
minhas próprias.
Se
há terroristas que se apresentam como muçulmanos – e que você,
equivocadamente, vê como “representantes autorizados” do Islã
–, também há terroristas, assassinos, ladrões, corruptos e
corruptores que se apresenta(ra)m como cristãos ou judeus. E, nem
por isso, você me escreve dizendo que todos os cristãos ou judeus
são terroristas, assassinos, ladrões, corruptos, corruptores etc!
Isso não lhe diz nada sobre sua própria visão de mundo? [...ou, ao
menos, a visão de mundo que você exibiu em sua provocação?!…] A
julgar pela forma como a maioria dos muçulmanos que conheci ou
conheço se comportam e vivem suas vidas, tenho certeza que é sua
visão de mundo que está equivocada.
Paz!
+Gibson