[*Correção
da tradução: “Apenas um estranho no ônibus, tentando fazer
seu caminho de casa” → “...tentando voltar para
casa”.]
Sempre
serei grato por duas pequenas [grandes] coisas que me foram ensinadas
desde cedo: 1) que podemos pensar/acreditar de forma diferente de
outras pessoas – essa é uma liberdade concedida por Deus e pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos; 2) que ninguém é meu
inimigo simplesmente por discordar de minhas posições/crenças, e
vice-versa.
Sendo
quem sou, é difícil não olhar para o mundo ao meu redor sem me
lembrar dos chamados “conflitos religiosos” que têm marcado a
história humana. As aspas (“ ”), a propósito, indicam minha
discordância com a adjetivação daqueles tipos de conflito que tão
prontamente indicam como “religiosos”: isso porque chamá-los de
“religiosos” implica num reconhecimento, mesmo que involuntário,
ou de que a “religião” (que muitos interpretam como sendo uma
“religação” ou “retorno” ao Divino) seja um fenômeno
fundamentalmente violento, ou de que a violência possa ser
legitimamente designada como “religiosa” (ou seja, que possamos
nos relacionar com o Divino por meio da violência) – eu,
obviamente, rejeito as duas premissas.
Observando
o que tem ocorrido ao meu redor, não posso deixar de perceber o quão
difícil é ver aqueles dois princípios que me foram ensinados sendo
aplicados no mundo, e o quão difícil é manter a lealdade a eles.
Isso porque hoje, mais do que em qualquer outra época em minha
relativamente curta vida, pensar/crer diferentemente de outros parece
ser encarado como uma ameaça beligerante – seja em termos de fé
religiosa, em termos de política ou de qualquer outra coisa.
Pessoalmente,
aprecio muito a diversidade do [e no] mundo. Prefiro uma realidade
multicolor à bicoloridade que alguns impõem ao mundo. Tudo é muito
mais “belo” por haver cores, formas, sons, aromas, crenças
diferentes. A vida espiritual é muito mais rica por haver milhares
de formas diferentes de compreender a relação entre o “objetivo”
e o “misterioso”, entre a “Criação” e o “Criador”.
Mesmo o Cristianismo é muito mais belo, e muito mais vivo,
justamente por haver centenas de formas distintas de compreendê-lo e
de praticá-lo.
Quando
olho para essa diversidade e me reconheço como um dos elementos para
as diferenças de tonalidade, não posso ver outras pessoas como
minhas inimigas – por mais que discorde de suas crenças e,
intelectualmente, as critique. Como eu, no que tange à experiência
“religiosa”, elas são viajantes numa trilha de descoberta do
Divino. Elas mesmas podem não interpretar suas e minhas experiências
dessa forma, mas, ao menos em nossa experiência de busca,
compartilhamos semelhanças.
Pessoalmente,
acredito em revelação divina. Acredito que aquela Realidade que
chamo de Deus se revela ao ser humano de inúmeras formas. A maioria
dos cristãos, talvez, diria que Deus se revela por meio das
Escrituras (a Bíblia). Eu também acredito nisso. Mas, para mim,
Deus se revela também por meio de nossas relações com as outras
pessoas; por meio da comunidade de fé; por meio da natureza; por
meio da oração; por meio do trabalho; por meio da arte e do
entretenimento; por meio da ciência e do conhecimento intelectual;
enfim, por meio da história humana.
Deus
está sempre falando. Nós, talvez, é que não ouvimos. Deus fala,
algumas vezes, inclusive por meio das vozes daqueles de quem
discordamos. Por isso, não posso vê-los como meus inimigos.
+Gibson
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