As
duas primeiras décadas do século XXI correm o risco de futuramente
serem conhecidas, ao menos em algumas partes do mundo, como a “Era
da Estupidez em Massa”. Sim, porque a tecnologia sobre a qual
nosso dia a dia está atualmente assentado amplia, assustadoramente,
o barulho da ignorância coletiva acerca da humanidade –
aquilo que caracteriza-nos como seres pensantes.
Em
nossos dias, os ignorantes e os doutos encontram canais relativamente
livres e gratuitos para gritarem insanidades e se sujarem com a
imoralidade apologética – política, religiosa, cultural ou
qualquer que seja. Assim, torna-se mais fácil, para uma geração
estúpida e irascível como a nossa, a massificação do não-saber
voluntário, da apologética cartilhesca, da má vontade para com os
demais, do preconceito pelo preconceito.
Se
anteriormente se estampavam nas publicações impressas que se liam
por preço ou empréstimo, hoje se encontram nos perfis virtuais de
usuários semialfabetizados ou doutores. Se antes, para expor
preleções intelectuais, o orador submetia-se à liturgia acadêmica
ou profissional, hoje necessita apenas criar um canal em sítio de
transmissões audiovisuais.
Democrático,
é verdade. Mas também disseminador da estupidez, da ignorância e
do preconceito.
Hoje,
mais do que nunca, a violência, o preconceito, a intolerância, a
insensatez e a desonestidade se revestem de roupagens intelectuais e
se vendem facilmente como soluções finais para problemas
semi-existentes. Mais do que nunca, ouvem-se vozes carregadas de
crueldade, desonestidade e estupidez.
Mas
essas vozes não são as únicas que falam. E, definitivamente, não
devem ser as vozes às quais dar atenção.
Onde
estão as vozes proclamadoras da paz e da concórdia? Onde estão as
anunciadoras da boa vontade e da apreciação? Onde estão as vozes
reconciliadoras e confortadoras? E onde estará o silêncio
necessário para a reflexão – o freio que controla impulsos
insanos para respostas irrefletidas?
Que
vozes escolheremos ouvir nesta segunda metade da segunda década do
século XXI? Escolheremos as vozes proclamadoras do ódio, do rancor,
da discórdia? Escolheremos as falantes da linguagem ensurdecedora do
mal? Ou ousaremos nos afirmar como humanos – como entes
pensantes, racionais, culturais, espiritualizados? Mataremos o que o
século XX não conseguiu extinguir por completo ou nos ergueremos
contra a anti-humanidade?
A
estupidez coletiva do século XXI, exposta nas rotas da selva
eletrônica pelos profetas e filósofos do não-saber, é a
não-humanidade quase-materializada. E ela deve ser rejeitada com
todo o vigor de nosso espírito humano, e com toda a beleza de nossa
capacidade racional.
Não
à estupidez coletiva!
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