Amo
o simbolismo do Natal, apesar de não compreender a narrativa
natalina como um relato histórico factual. Obviamente, para mim, sua
concepção não foi virginal e não houve, literalmente, uma estrela
nova no céu anunciando o nascimento do menino Jesus. O bebê,
plenamente humano, seria posteriormente mergulhado no mito que o
deificaria como a encarnação literal de Deus; e ser cristão, para
os novos “ortodoxos” – especialmente a partir do século XX –,
seria sinônimo de acreditar naquela narrativa metafórica
neotestamentária como se fora o relato de uma factualidade
inquestionável.
As
narrativas bíblicas são um misto de memória histórica e linguagem
metafórica. E como um cristão liberal, preocupo-me muito mais com
outros aspectos da memória histórica metaforizada pela linguagem
dos autores dos Evangelhos do que aquela duma concepção
sobrenatural e nascimento anunciado por anjos e estrela. Jesus como
“mamzer”, como refugiado, como perdoador, como desafiador duma
cultura androcêntrica ao incluir o mundo feminino em sua linguagem,
como praticante de suas palavras: esse Jesus plenamente humano
personifica o símbolo da Divindade e, assim, pode ser visto e
sentido como “Deus conosco”. Mas essa personificação é uma
metáfora – uma verdade que se encontra apenas além da
factualidade.
É a
humanidade de Jesus, mais do que a divindade do Cristo, o que
continua a me alimentar espiritualmente na tradição cristã. O
Nazareno, posso amar plenamente: afinal, ele é humano como eu. E,
enquanto humano, personificou a presença divina para os seus
seguidores. O Cristo etéreo dos cristãos helenistas – construído
para conseguir o respeito de intelectuais gregos – não me
interessa tanto. Prefiro o rabino galileu. Ele é mais desafiador. É
o seu nascimento que celebro no Natal: o homem que me ensina a ser
humano e, assim, a transformar o aqui e agora no “basileia tou
theou” [o reino/domínio de Deus] dos Evangelhos.
Sim.
Vem Jesus; vem Cristo: em minhas ações, em minhas palavras, na
forma como vivo minha vida e em como me relaciono com as outras
pessoas e com o resto da Criação. Vem na forma como trato os
diferentes de mim e os mais fracos. Vem para que eu também saiba
compartilhar o meu pão com os famintos. Vem em meu rosto e mãos
para receber o forasteiro. É minha oração de Advento. Amém.
+Gibson
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