O jejum que eu quero é
este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir
a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem
abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua
própria gente. (Isaías 58:6-7)
Não
nos considero pacifistas, mas “shalomistas”. E isso porque a paz
não se limita apenas à renúncia da guerra e da violência, mas,
antes, compreende a promoção e a associação àquilo que fomenta
um mundo construído sobre aquilo que nossa tradição de fé chama
de “shalom” divina: o domínio de honra ao valor e dignidade da
humanidade e de toda a Criação.
Esse
“shalom” implica comida para os famintos, água para os sedentos,
lar para os desabrigados, vestimenta para o desnudo, companhia para
os solitários, alívio para os que sofrem, ajuda para os mais
fracos, perdão para os que erraram, justiça para os desprotegidos.
Implica ação consciente contra aquilo que se opõe ao valor e
dignidade do ser humano e da Criação. Implica desafiar os Impérios
deste mundo, o ódio, a violência, a guerra, as armas, a corrupção.
Exige uma mudança em nós mesmos.
Nossa
objeção consciente à guerra, à violência, às armas e à
colaboração com a guerra, com a violência e com as armas é uma
forma de nos abstermos da participação nos Impérios deste mundo, e
de nos juntarmos ao “domínio de Deus”. Nossa tradição
religiosa nos ensina que quando matamos ou destruímos outros seres
humanos, estamos matando e destruindo um reflexo de Deus. E nossa
escolha do caminho de “shalom” se baseia nisso.
Essa
é uma escolha impopular neste mundo. No mundo dos jogos violentos,
no mundo dos filmes de “ação”, no mundo das armas, no mundo
onde ser homem é se divertir machucando outros homens, no mundo onde
odiar outras pessoas por conta de suas visões políticas ou
religiosas é a norma, renunciar o caminho da violência para se
relacionar com Deus e com outros seres humanos é estupidez ou sinal de
fraqueza. E por isso, talvez, escolher o “shalom” seja o caminho
menos popular, mesmo entre muitas pessoas religiosas. Mas este é o
único caminho que nos salvará da conformidade com os Impérios do
mundo.
Pretender
ser um “shalomista” é difícil porque é radical. Às vezes, é
deveras solitário, porque é impopular. E, mais do que
frequentemente, é um desafio porque, aparentemente, não é natural
– isto é, exige esforço, exige humildade, exige reconhecimento de
minhas próprias incoerências. Mas é possível porque tantas outras
pessoas o fizeram – Jesus o fez, e tantas e tantos de seus
seguidores o fizeram.
Assim,
conscientemente escolhamos continuar a seguir este caminho de
“shalom”, o “shalom de Deus”. Com certeza, continuaremos a
tropeçar inúmeras vezes, mas com a ajuda de outras e outros
“shalomistas”, poderemos nos reerguer e voltar ao caminho.
+Gibson
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