(Esta é uma resposta à Sandra, que me escreveu perguntando se Charles Darwin era realmente unitarista.)
Sandra,
Nem sempre é fácil responder a este tipo de questão, já que muitos Não-Conformistas ingleses – isto é, os membros das igrejas livres, como os unitaristas – mantinham ligações com a Igreja oficial para que pudessem ter acesso a certos “benefícios”, como a educação superior (o acesso às Universidades era uma realidade apenas aos anglicanos). O pai de Darwin – Robert Waring Darwin – era uma dessas pessoas, que provavelmente em decorrência de seu prestígio social, optou por batizar seus dois meninos (Charles e Erasmus), dentre seus seis filhos, como membros da Igreja da Inglaterra, apesar de sua herança estar enraizada no Unitarismo. Não há nenhum registro de Robert haver participado com sua família na igreja unitarista ou na paróquia anglicana local.
Apesar de haver sido batizado como membro da Igreja oficial (Paróquia de St. Chad), até a morte de sua mãe (Susannah), Charles e seus irmãos frequentaram a igreja unitarista local (a Capela Unitarista da High Street – hoje, chamada de Igreja Unitarista de Shrewsbury), tendo sido educado pelo Rev. George Case, ministro da mesma. (É importante enfatizar que Susannah era neta de Josiah Wedgwood, uma importante figura no Unitarismo britânico e um famoso abolicionista.) Após a morte de Susannah, Charles, então com oito anos de idade, foi para uma escola paroquial anglicana, e aí se inicia sua ligação com a Igreja da Inglaterra.
Registros mostram que Charles mantinha contato com muitos unitaristas, tendo, inclusive, sido assinante de publicações unitaristas americanas, durante os turbulentos anos que se seguiram à publicação de “Origem das Espécies”.
A situação de Darwin não é muito diferente daquela de muitos outros que viveram uma duplicidade eclesiástica. Eu mesmo sou um exemplo disso, um anglicano-unitarista.
A situação de Darwin não é muito diferente daquela de muitos outros que viveram uma duplicidade eclesiástica. Eu mesmo sou um exemplo disso, um anglicano-unitarista.
Para saber mais:
DESMOND, Adrian; MOORE, James. A Causa Sagrada de Darwin: raça, escravidão e a busca pelas origens da humanidade. Rio de Janeiro: Record, 2009.
KEYNES, Randal. Creation: The True Story of Charles Darwin. Nova York, EUA: Penguin Group, 2001. (em inglês)
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