Hoje recebi uma mensagem que me irritou, por diferentes razões. A mensagem denunciava o pastor evangélico Silas Malafaia como “um agente do ódio contra os cidadãos gays e contra a democracia no Brasil”, especialmente em decorrência de seu ativismo contrário à PL 122/06 (a conhecida “Lei anti-homofobia”).
Como resposta, pedi que meu interlocutor me apresentasse provas de tal ódio “contra os cidadãos gays e contra a democracia” – além das citações e trechos de gravações em áudio e vídeo fora de contexto que ele incluiu em sua mensagem –, e sua contra-resposta foi a de que eu também era “parte do time” do Silas Malafaia.
Para que as coisas fiquem bem claras – se resta alguma dúvida –, devo esclarecer que me encontro num universo teológico, religioso, e social muitíssimo diferente e oposto ao do citado pastor: sou um protestante liberal – e não um evangélico –, e sou gay. Por protestante liberal, entenda-se que creio numa interpretação da tradição cristã que em muito diverge daquela acreditada e defendida pelo pastor Malafaia. Como consequência, minha visão das relações humanas – o que inclui aquelas referentes a orientações emociono-sexuais – também são diferentes das dele, ou das que ele acredita serem aceitas por Deus e pela tradição cristã. Por gay, entenda-se que sempre me considerei emocional e sexualmente atraído por outros homens, e não por mulheres – o que, em hipótese nenhuma, significa que minha vida não seja regida por uma ética sexual baseada em minha compreensão do Evangelho; significa, apenas, que outro homem é o objeto de meu afeto.
Como um fiel cristão liberal e gay, obviamente me sinto muito desconfortável quando ouço outros cristãos, que não partilham de minhas perspectivas teológicas, condenarem o que chamam de “práticas homossexuais”. Tenho a impressão que imaginem que ser “gay” seja uma questão de mecânica sexual apenas, e não envolva afeto e amor para com outra pessoa, e a si mesmo – mas, seja como for, essa é uma outra discussão. Como um unitarista, valorizo, prezo, e trabalho pela liberdade de todas as pessoas – para que possam expressar suas ideias, suas crenças, suas convicções, mesmo que me oponha a elas. Tem sido uma tradição secular de minha corrente teológica não-conformista dizer que “morreria, se necessário, para defender o direito de meu inimigo dizer o que ele pensa” – mesmo se o que ele pensa seja uma afronta às minhas ideias. Mas, não, espero que para defender o bom senso eu não precise morrer, mas apenas dizer o que acredito ser certo.
O pastor Silas Malafaia, enquanto ministro religioso, em minha visão, não é um homofóbico, é apenas um cristão fiel às suas convicções e um pastor aparentemente responsável para com suas ovelhas. Sua noção do que sejam as Boas Novas e sua práxis pastoral podem ser extremamente diferentes das minhas, mas elas são uma materialização clara de suas convicções. O que ele prega, enquanto pastor, não é o ódio aos indivíduos gays, mas, sim, suas convicções do que seja o tipo de vida esperado daquele que deseja ser parte de sua família de fé. Sim, isso inclui – para ele – uma condenação das “práticas homossexuais”, assim como inclui uma condenação das práticas heterossexuais que ele entende como imorais, mas isso não é o mesmo que incitação ao ódio!
Se Silas Malafaia merece ser condenado por defender seus pontos de vista – que até agora não se mostraram como incitação à violência ou ódio contra um grupo de pessoas –, então eu mereço ser também condenado por defender pontos de vista teológicos diferentes dos dele. O que ele parece ser bem vocífero contra é o “ativismo gay” que reina em algumas esferas do cenário público brasileiro – especialmente visível no caso da PL 122/06 (contra a qual tenho me posto publicamente já algum tempo) – e que levam a certos conflitos que têm caracterizado as relações sociais em nossa época. Eu, obviamente, apesar de poder discordar de algumas de suas interpretações, apoio seu direito de poder dizer o que pensa e defender publicamente o que acredita, desde que sob o manto da Constituição Federal (Artigo 5º, IV, VII).
Em minhão visão do que acontece hoje no Brasil, Silas Malafaia é uma vítima da campanha política (pseudo)pró-direitos humanos – se essa fosse uma campanha em prol dos direitos humanos, então defenderiam seu direito a dizer o que pensa. É engraçado como costumamos demonizar a todos aqueles que pensam diferentemente de nós, e como isso tem acontecido comigo (um ministro que também é gay) por me opor ao que a maioria dos ativistas gays pensam, consigo entender o que se passa no caso Malafaia. As acusações feitas contra ele são um absurdo, assim como também é um absurdo a tal PL 122/06!!!
+Gibson
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