Grande
parte do que um ministro Unitarista faz em seu trabalho é
envolver-se com o ensino religioso em nossa comunidade. Em nosso
caso, especialmente, esse parece estar no centro de tudo o que nos
esforçamos a fazer: em primeiro lugar, por estarmos num país onde
somos poucos e onde não há muitos materiais em português para que
possamos educar nossa comunidade em nossa tradição (e, por isso
mesmo, infelizmente o Unitarismo continua a ser este círculo fechado
ao qual poucos têm acesso); e, em segundo lugar, e ainda como
consequência do primeiro, temos uma comunidade idosa, e nos
preocupamos com o futuro de nossa tradição cristã liberal em nosso
país se não investirmos na educação religiosa de nossos membros
mais jovens. Isso, talvez, explique a verdadeira obsessão que esta
comunidade tem com educação religiosa.
Líderes
de outras comunidades de fé, e mesmo de outras igrejas Unitaristas
em outras partes do mundo, não compreendem algumas das escolhas que
vocês, como membros desta congregação, decidem fazer. Em um
encontro recente que tivemos com alguns outros ministros aqui mesmo
em Recife, ouvi um questionamento que merece uma resposta pessoal
minha a vocês. Um dos participantes disse não compreender por que
aqueles que servem esta congregação como Ministros da Palavra e
Sacramento abrem mão de receber um salário e são obrigados, por
isso, a ter um emprego lá fora – enquanto que se a congregação
investisse em seus próprios ministros, estaria investindo em si
mesma, já que teriam nossa atenção em tempo integral. Ele disse
que não compreendia como uma comunidade que tem membros espalhados
por vários Estados pode não cuidar de seus ministros. Não preciso
dizer que aquele comentário levou todos os participantes a se
envolverem na atividade mais tradicional duma comunidade Unitarista:
um debate – um debate que durou cerca de duas horas após os
comentários iniciais, e que tem continuado ainda no universo
virtual!
Gostaria
de dizer àqueles entre vocês que não sabem disso que a decisão de
tornar o Ministério desta congregação um Ministério
não-estipendiário foi tomada pelos seus próprios Ministros da
Palavra e Sacramento: os Ministros Auxiliares e eu – que, de acordo
com o Estatuto desta comunidade, recebem salário para trabalhar
aqui. Tomamos essa decisão quando aceitamos o chamado para nos
engajarmos no ministério entre vocês. Todos nós já tínhamos sido
Ministros de outras congregações e, assim, conhecíamos os desafios
financeiros de comunidades como essa. Quando ainda estava sendo
entrevistado para este chamado, tinha certeza de que a educação
religiosa seria o melhor investimento que poderíamos fazer, além
daquelas outras ações de natureza social na qual esta comunidade
investe.
Alguns de
nossos amigos não entendem como uma comunidade se desfaz de seus
poucos bens para levantar fundos e ajudar a construir um hospital do
outro lado do mundo. Não entendem por que pessoas que se
aposentaram, e poderiam estar aproveitando os frutos de seu trabalho,
decidem trabalhar em outras comunidades – que surgiram a partir dos
esforços desta – na África do Sul, no Quênia, na Índia e na
Guiana, sendo financiados pelos suas próprias economias. Não
entendem por que nossos jovens são estimulados a doarem parte de seu
tempo livre em serviço a outras pessoas no Sertão de nosso Estado.
E não sei dizer se nós, os ministros desta comunidade,
compreendemos isso plenamente, mas posso garantir que somos
inspirados pela dedicação e amor de vocês à causa que abraçam.
Enquanto comunidade que toma essas decisões, vocês dão vida, em
suas próprias ações, às palavras que rezam na aliança feita por
todos aqueles que se tornam membros desta congregação:
“O amor
é a doutrina desta igreja,
E o
serviço é a sua oração.
Habitar
juntos em justiça e paz,
Buscar a
verdade com liberdade,
Respeitar
o valor e dignidade de todas as pessoas,
E servir
a humanidade juntos,
A fim de
que todas as almas
Possam
crescer em harmonia com o divino,
Esta é a
aliança que fazemos uns com os outros.”
Quanto a
mim, posso garantir-lhes que é sua dedicação que me inspira a
continuar servindo-os, enquanto vocês desejarem isso.
A maneira
como os quatro ministros desta congregação – Tadeu, Peter, Alícia
e eu - têm conseguido servi-los, enquanto mantemos uma vida
profissional envolve muita oração e negociação. Cada um de nós
tem um ou mais empregos, e dividimos nossas responsabilidades de
acordo com nossos horários; e esses horários são alterados de
acordo com a necessidade que nossa comunidade tem. Por isso, nem
sempre, vocês podem ter a presença específica de um de nós numa
atividade na qual gostariam que estivéssemos. Cito como exemplo o
caso de um de nossos grupos que me chamou na última semana para
estar presente em uma atividade na qual não pude estar, por estar
trabalhando naquele horário; não estive lá, mas um outro ministro
esteve em meu lugar. Esse aparente sacrifício – de todos os lados,
tanto dos ministros quanto da congregação em si – tem uma razão
muito especial de ser: o que vocês gastariam com salários, pode ser
investido nos programas essenciais desta comunidade, e como bem
sabem, mesmo assim, ainda é difícil! Precisamos de um novo prédio,
preferencialmente de mais fácil acesso a todos aqueles que queiram
estar entre nós, e onde possam chegar mesmo que tenham acesso apenas
ao transporte público. Essa meta, entretanto, jamais será cumprida
se esta congregação gastar dinheiro pagando salários para seus
ministros – e essa é uma conclusão a qual todos os Ministros da
Palavra e Sacramento desta congregação chegaram juntos, não é uma
conclusão minha apenas.
Essa
dificuldade de equilibrar necessidades financeiras pessoais com as
necessidades da comunidade a qual servimos é que motiva algumas
decisões polêmicas que pessoalmente tomei neste ano. Quando deixei
a Presidência da Associação Unitarista, o fiz para que pudesse
cumprir meu chamado mais importante, que é o de pastorear esta
Congregação, e, ao mesmo tempo, de ser capaz de trabalhar para me
sustentar. Eu passava muito tempo, quando não estava cuidando de
minha própria vida, ocupado em reuniões da Associação, e tendo
apenas poucas horas por semana para estar com vocês. Quando fui
chamado como seu Ministro, prometi que cuidaria de vocês, que me
comprometeria com suas necessidades, e esta foi a razão pela qual me
afastei da Presidência da Associação. Continuo a servir também na
Associação, mas apenas duma forma que não interfira em meu serviço
entre vocês.
Tenho me
esforçado em todos os projetos educativos de nossa comunidade, além
de trabalhar num ministério de capelania a parte. E, para que se
tranquilizem, quero que saibam que tenho sido capaz de lidar com
minhas próprias necessidades financeiras, sem necessitar ser pago
por vocês.
Como hoje
vocês votarão o orçamento da Congregação para o próximo ano,
saibam, desde agora, que nós, os Ministros desta Congregação, e
eu, como seu Ministro Geral, lhes pedimos que confiem em nossa decisão
conjunta e continuem a permitir que trabalhemos aqui como Ministros
não-estipendiários. Peço que façam a melhor escolha para esta
comunidade, levando em consideração as necessidades que ela tem, e
que os poucos fundos sejam destinados aos programas de educação
religiosa e missional no qual temos, como comunidade de fé, nos
engajado nos últimos cinco anos. Cremos que possamos iniciar entre
os membros um programa de arrecadações para a construção de nosso
novo prédio, em alguns anos, mas que não devamos comprometer os
fundos da Congregação com isso agora. O espírito de voluntariado
tem sido a tradição desta igreja, e oramos para que ele continue a
guiar suas decisões orçamentárias. É a nossa oração como
Ministros desta Congregação; é a minha oração e pedido como seu Ministro
Geral!
+Gibson
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