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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sobre o Orçamento de 2013: uma mensagem aos membros da CUP


Grande parte do que um ministro Unitarista faz em seu trabalho é envolver-se com o ensino religioso em nossa comunidade. Em nosso caso, especialmente, esse parece estar no centro de tudo o que nos esforçamos a fazer: em primeiro lugar, por estarmos num país onde somos poucos e onde não há muitos materiais em português para que possamos educar nossa comunidade em nossa tradição (e, por isso mesmo, infelizmente o Unitarismo continua a ser este círculo fechado ao qual poucos têm acesso); e, em segundo lugar, e ainda como consequência do primeiro, temos uma comunidade idosa, e nos preocupamos com o futuro de nossa tradição cristã liberal em nosso país se não investirmos na educação religiosa de nossos membros mais jovens. Isso, talvez, explique a verdadeira obsessão que esta comunidade tem com educação religiosa.

Líderes de outras comunidades de fé, e mesmo de outras igrejas Unitaristas em outras partes do mundo, não compreendem algumas das escolhas que vocês, como membros desta congregação, decidem fazer. Em um encontro recente que tivemos com alguns outros ministros aqui mesmo em Recife, ouvi um questionamento que merece uma resposta pessoal minha a vocês. Um dos participantes disse não compreender por que aqueles que servem esta congregação como Ministros da Palavra e Sacramento abrem mão de receber um salário e são obrigados, por isso, a ter um emprego lá fora – enquanto que se a congregação investisse em seus próprios ministros, estaria investindo em si mesma, já que teriam nossa atenção em tempo integral. Ele disse que não compreendia como uma comunidade que tem membros espalhados por vários Estados pode não cuidar de seus ministros. Não preciso dizer que aquele comentário levou todos os participantes a se envolverem na atividade mais tradicional duma comunidade Unitarista: um debate – um debate que durou cerca de duas horas após os comentários iniciais, e que tem continuado ainda no universo virtual!

Gostaria de dizer àqueles entre vocês que não sabem disso que a decisão de tornar o Ministério desta congregação um Ministério não-estipendiário foi tomada pelos seus próprios Ministros da Palavra e Sacramento: os Ministros Auxiliares e eu – que, de acordo com o Estatuto desta comunidade, recebem salário para trabalhar aqui. Tomamos essa decisão quando aceitamos o chamado para nos engajarmos no ministério entre vocês. Todos nós já tínhamos sido Ministros de outras congregações e, assim, conhecíamos os desafios financeiros de comunidades como essa. Quando ainda estava sendo entrevistado para este chamado, tinha certeza de que a educação religiosa seria o melhor investimento que poderíamos fazer, além daquelas outras ações de natureza social na qual esta comunidade investe.

Alguns de nossos amigos não entendem como uma comunidade se desfaz de seus poucos bens para levantar fundos e ajudar a construir um hospital do outro lado do mundo. Não entendem por que pessoas que se aposentaram, e poderiam estar aproveitando os frutos de seu trabalho, decidem trabalhar em outras comunidades – que surgiram a partir dos esforços desta – na África do Sul, no Quênia, na Índia e na Guiana, sendo financiados pelos suas próprias economias. Não entendem por que nossos jovens são estimulados a doarem parte de seu tempo livre em serviço a outras pessoas no Sertão de nosso Estado. E não sei dizer se nós, os ministros desta comunidade, compreendemos isso plenamente, mas posso garantir que somos inspirados pela dedicação e amor de vocês à causa que abraçam. Enquanto comunidade que toma essas decisões, vocês dão vida, em suas próprias ações, às palavras que rezam na aliança feita por todos aqueles que se tornam membros desta congregação:

O amor é a doutrina desta igreja,
E o serviço é a sua oração.
Habitar juntos em justiça e paz,
Buscar a verdade com liberdade,
Respeitar o valor e dignidade de todas as pessoas,
E servir a humanidade juntos,
A fim de que todas as almas
Possam crescer em harmonia com o divino,
Esta é a aliança que fazemos uns com os outros.

Quanto a mim, posso garantir-lhes que é sua dedicação que me inspira a continuar servindo-os, enquanto vocês desejarem isso.

A maneira como os quatro ministros desta congregação – Tadeu, Peter, Alícia e eu - têm conseguido servi-los, enquanto mantemos uma vida profissional envolve muita oração e negociação. Cada um de nós tem um ou mais empregos, e dividimos nossas responsabilidades de acordo com nossos horários; e esses horários são alterados de acordo com a necessidade que nossa comunidade tem. Por isso, nem sempre, vocês podem ter a presença específica de um de nós numa atividade na qual gostariam que estivéssemos. Cito como exemplo o caso de um de nossos grupos que me chamou na última semana para estar presente em uma atividade na qual não pude estar, por estar trabalhando naquele horário; não estive lá, mas um outro ministro esteve em meu lugar. Esse aparente sacrifício – de todos os lados, tanto dos ministros quanto da congregação em si – tem uma razão muito especial de ser: o que vocês gastariam com salários, pode ser investido nos programas essenciais desta comunidade, e como bem sabem, mesmo assim, ainda é difícil! Precisamos de um novo prédio, preferencialmente de mais fácil acesso a todos aqueles que queiram estar entre nós, e onde possam chegar mesmo que tenham acesso apenas ao transporte público. Essa meta, entretanto, jamais será cumprida se esta congregação gastar dinheiro pagando salários para seus ministros – e essa é uma conclusão a qual todos os Ministros da Palavra e Sacramento desta congregação chegaram juntos, não é uma conclusão minha apenas.

Essa dificuldade de equilibrar necessidades financeiras pessoais com as necessidades da comunidade a qual servimos é que motiva algumas decisões polêmicas que pessoalmente tomei neste ano. Quando deixei a Presidência da Associação Unitarista, o fiz para que pudesse cumprir meu chamado mais importante, que é o de pastorear esta Congregação, e, ao mesmo tempo, de ser capaz de trabalhar para me sustentar. Eu passava muito tempo, quando não estava cuidando de minha própria vida, ocupado em reuniões da Associação, e tendo apenas poucas horas por semana para estar com vocês. Quando fui chamado como seu Ministro, prometi que cuidaria de vocês, que me comprometeria com suas necessidades, e esta foi a razão pela qual me afastei da Presidência da Associação. Continuo a servir também na Associação, mas apenas duma forma que não interfira em meu serviço entre vocês.

Tenho me esforçado em todos os projetos educativos de nossa comunidade, além de trabalhar num ministério de capelania a parte. E, para que se tranquilizem, quero que saibam que tenho sido capaz de lidar com minhas próprias necessidades financeiras, sem necessitar ser pago por vocês.

Como hoje vocês votarão o orçamento da Congregação para o próximo ano, saibam, desde agora, que nós, os Ministros desta Congregação, e eu, como seu Ministro Geral, lhes pedimos que confiem em nossa decisão conjunta e continuem a permitir que trabalhemos aqui como Ministros não-estipendiários. Peço que façam a melhor escolha para esta comunidade, levando em consideração as necessidades que ela tem, e que os poucos fundos sejam destinados aos programas de educação religiosa e missional no qual temos, como comunidade de fé, nos engajado nos últimos cinco anos. Cremos que possamos iniciar entre os membros um programa de arrecadações para a construção de nosso novo prédio, em alguns anos, mas que não devamos comprometer os fundos da Congregação com isso agora. O espírito de voluntariado tem sido a tradição desta igreja, e oramos para que ele continue a guiar suas decisões orçamentárias. É a nossa oração como Ministros desta Congregação; é a minha oração e pedido como seu Ministro Geral!

+Gibson

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