Os
noticiários anunciaram o que parecia bombástico. O líder da Igreja
Católica Apostólica Romana, segundo as manchetes, endorsava as
teorias da evolução e do Big Bang. Parecia que, dessa vez, o Papa
tinha realmente se tornado “pop”!
Acompanhando
todo o rebuliço causado pelas manchetes ao redor do mundo, tinha-se
a impressão que a Igreja Romana, de uma hora para outra, abandonava
a fé e rendia-se à ciência. Deus dava lugar – ao menos nas
reações de fiéis e daqueles nem tão ligados assim à fé católica
– aos experimentos de laboratório: era como se lêssemos uma nova
versão de “Anjos e Demônios”, de Dan Brown.
Bem,
nem tanto.
Na
verdade, o discurso do Papa Francisco na sessão plenária da
Pontifícia Academia de Ciências, em 27 de outubro, no Vaticano, foi
um pronunciamento em linha com aquilo que a própria Igreja Romana
tem ensinado sobre a Criação. E, para ser exato, está longe de ser
um endorso daquilo que a maioria dos cientistas ensina sobre as duas
teorias (a Evolução e o Big Bang). Nada que justifique o sentimento
de escândalo sobre o qual alguns amigos católicos comentaram comigo
esses últimos dias.
Vale
a pena ler alguns trechos do pronunciamento do Papa, que se encontra
aqui,
em francês, ou aqui,
em italiano, para observar aquilo que as manchetes deixaram de fora
quando retrataram que o Papa agora é “pop” (tradução e ênfases
são minhas):
“[...]
Quando lemos, no Gênesis, o relato da criação, corremos o
risco de imaginar que Deus fosse um mago, com uma varinha mágica
capaz de fazer tudo. Mas não é assim. […] Ele criou os
seres e permitiu-lhes que se
desenvolvessem de acordo com as leis internas que deu a
cada um […] O início do mundo não é obra do caos, que
deve a um outro a sua origem, mas deriva-se diretamente de
um Princípio supremo que cria por amor. O Big Bang, que
hoje é visto como a origem do mundo, não contradiz a
intervenção criadora divina, mas a exige. A evolução
na natureza não contradiz a noção da Criação, porque a
evolução pressupõe a criação dos seres que evoluem.
[…]”
O
resto do pronunciamento é ainda mais interessante. Não por trazer
qualquer coisa nova, em termos de doutrina, mas por fazer uso duma
linguagem que, aparentemente, não é muito comum à percepção da
maioria daqueles que não compreendem a visão que o Catolicismo
Romano tem de algumas posições científicas. Seu pronunciamento,
por exemplo, fala sobre a liberdade humana – liberdade que tem uma
ligação com aquelas “leis internas” que permitiriam aos seres
seu desenvolvimento, segundo o Papa – e a maneira como a utilizamos
para destruir a Criação, nos colocando no lugar do Criador.
Assim,
faltou a todas aquelas notícias, e a todo o rebuliço nas redes
sociais, tratar sobre o ponto principal do pronunciamento papal, a
responsabilidade humana para com a Criação – ou natureza, se
preferir. Tenho certeza que, com isso, qualquer um pode concordar!
+Gibson
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