[Recebi
por meio da caixa de contato uma mensagem de Dayla, uma brasileira residente nos EUA, que
compartilhou comigo sua história de abandono da Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias – tradição frequentemente
chamada de “mormonismo” – e o desafio para encontrar uma nova
comunidade de fé. Aqui, tento oferecer uma resposta a algumas de
suas colocações.]
Cara
Dayla,
Sua
experiência se repete nas vidas de inúmeras pessoas, não apenas
daquelas saídas da tradição dos santos dos últimos dias, como
também de outras tradições cristãs advindas do restauracionismo.
Seu desconforto em outras comunidades cristãs – principalmente por
lhe tratarem como uma “estranha” – são comuns às experiências
de outras pessoas com as quais converso sobre o temo, e são
plenamente compreensíveis.
Como
compreendo a tradição SUD como sendo mais que apenas uma fé (é
também uma cultura própria), para mim é perfeitamente normal que
você se sinta desconfortável com a forma como outros cristãos
compreendem sua fé, e a maneira como a vivem no mundo exterior à
igreja. Especialmente porque você ainda acredita em pontos
importantíssimos de sua herança de fé – no Livro de Mórmon, nas
profecias atribuídas a Joseph Smith etc –, mesmo que discorde da
forma como a Igreja na qual foi educada funcione e discorde de muitas
de suas doutrinas.
Suponho
que, já que me escreveu, saiba de meu trabalho com o grupo de apoio
a “ex-mórmons” aqui. Assim, realmente posso imaginar pelo que
você têm passado durante esse tempo. Algo que conta a seu favor é
morar onde mora hoje, já que se ainda estivesse em Utah
provavelmente sentiria uma dificuldade maior para lidar com seus
amigos e conhecidos.
Meu
primeiro conselho é simples: não tenha medo, você não está
sozinha. Você encontrará – se ainda não o fez – muitas
pessoas que atravessaram a dificuldade de romper laços sociais tão
fortes em busca de novos rumos em sua vida eclesiástica. Com
confiança, você conseguirá sobrepujar esses sentimentos sobre os
quais fala. Tenho certeza disso, porque vejo isso se repetir com
frequência. Você não está sozinha!
Você
enumerou as três opções que encontrou: 1) lidar com suas dúvidas
e retornar à Igreja SUD; 2) trair algumas de suas convicções e
tentar ser aceita em outra igreja cristã; ou 3) continuar a sentir o
que sente estando longe duma comunidade cristã. Essas realmente
podem ser opções para você, mas não são as únicas. Você
esqueceu que também poderia tentar encontrar outra comunidade na
própria tradição restauracionista do movimento dos santos dos
últimos dias! Não, não me refiro a encontrar outra ala ou estaca
na Igreja SUD; me refiro a tentar encontrar outra denominação na
tradição “mórmon”! A Comunidade
de Cristo pode ser, talvez, uma opção para você.
Tendo
morado em Utah por tanto tempo, você deve ter ao menos ouvido falar
na Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias –
a denominação, em 2001, mudou seu nome para “Comunidade de
Cristo”. Muitas das convicções liberais que você abraçou ao
longo do tempo são parte do que a Comunidade ensina em sua tradição.
Ela é, na verdade, a única denominação do movimento dos santos
dos últimos dias – não ligada à Salt Lake City – que além de
se manter ligada à tradição “mórmon”, professa uma
compreensão teológica muito próxima de outras igrejas protestantes
liberais ou moderadas. A denominação, inclusive, mantém relações ecumênicas
com outras igrejas cristãs membros do National Council of Churches,
que você citou. Assim, nela, você encontra um pouco das duas
perspectivas.
A
Comunidade, que tem uma congregação onde você vive agora, apesar
de haver mudado muito nas últimas décadas, ainda está enraizada na
tradição restauracionista do movimento dos santos dos últimos
dias; assim, o Livro de Mórmon ainda é visto, entre eles, como
escritura; Joseph Smith é visto como profeta. Então, ao menos nesse
aspecto, você não se sentiria uma “estranha”, encontraria
elementos de sua identidade religiosa originária. Isso também pode,
entretanto, trazer outros estranhamentos, já que você estaria muito
próxima de recordações de sua antiga igreja, ao mesmo tempo em que
experienciaria coisas novas. Mas, ainda penso que, em seu caso, é
uma opção possível.
Se
quiser, posso pedir que a pastora da congregação que existe aí em
sua cidade entre em contato com você. Somos amigos e tenho certeza
que ela ficaria muito feliz em tirar suas dúvidas e ajudá-la no que
for possível, sem exercer nenhum tipo de pressão sobre você. Para
tal, me envie um e-mail, e acertaremos como fazer isso.
Bem,
Dayla, fique em paz. Agora que você chegou num lugar novo, poderá
fazer novos amigos e se sentir mais livre para trilhar seu próprio
caminho. Você não está sozinha, é só dar tempo para conhecer
outras pessoas em seu novo lar. Mesmo que fisicamente longe, estou
aqui para ajudá-la a encontrar outras pessoas por aí. Você estará
em meus pensamentos e orações!
Grande
abraço!
+Gibson
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