Qualquer
interessado que se dê ao trabalho de pesquisar cuidadosamente o tema
saberá que não há uma definição globalmente aceita do que seja
terrorismo. Isso faz com que, como escrito por Brian Jenkins
ainda em 1974, o termo seja usado promiscuamente, aplicado a todo
tipo de violência que, estritamente falando, não seria terrorismo.
Todas as mais frequentes definições de terrorismo, entretanto,
concordam que o mesmo seja um instrumento utilizado por certos atores
para atingir certos objetivos, espalhando medo e ansiedade por meio
de atos violentos; e esses atos violentos seriam parte do
instrumento, e não o objetivo per se (JENKINS, 1974; HOFFMAN, 1998;
GANOR, 2005; NEUMANN, SMITH, 2008).
Se
nos ancorássemos à antiga perspectiva de Jenkins, aceita até 2001,
abraçaríamos aquela sua conhecida ideia de que terroristas
queririam muita atenção e não muitas mortes. Hoje, apesar de haver
mudado sua perspectiva acerca do número de mortes desejado por
terroristas, o autor – e todos os demais especialistas em
terrorismo do mundo – continua a defender sua crença de que a
publicidade do ato seja uma característica central de qualquer ação
terrorista. E a importância da publicidade reside no fato de esta
servir de meio para alastrar o medo e a ansiedade generalizada.
Pare
e pense, por um instante, no caso francês. Foi uma tragédia humana
– e, para mim, tragédia em absolutamente todos os sentidos (no que
tange às vítimas, à sociedade espectadora e aos próprios
criminosos). Uma tragédia que nenhum de nós – supondo que você
pense como eu – gostaria de ver repetir-se em lugar nenhum do
globo.
Pare
e pense, agora, na cobertura dada pela mídia global à “caçada”
policial a esses criminosos. Diferentes jornais, revistas, redes de
televisão e rádio, do mundo inteiro, têm feito seu trabalho e
divulgado as notícias relativas ao caso. Mas a cobertura – que,
sim, deve acontecer, especialmente num caso em que profissionais da
imprensa foram vitimados –, principalmente quando feita de forma
sensacionalista, não deixa de contribuir para o objetivo final de
qualquer ação terrorista: conseguir publicidade suficiente para
criar um temor e ansiedade generalizados. A notícia, assim, tão
essencial à liberdade e à democracia, transforma-se numa espada de
dois gumes: informa-nos ao mesmo tempo em que nos torna mais uma peça
no tabuleiro do jogo do terror (cujo objetivo é vencer-nos pelo
medo).
E a
imposição de medo intentada por terroristas tem feito mais danos
às liberdades civis, naquilo que chamam de Ocidente, do que tem
causado mortes diretas. A maior morte causada pelo terrorismo nas
sociedades ocidentais têm sido o assassínio das antigas ilusões de
liberdade e igualdade sob a lei, como uma forma de assassínio de nosso
senso moderno de humanidade. Pergunte isso a qualquer muçulmano
na Alemanha, França, Grã-Bretanha ou Estados Unidos, só para citar
alguns casos. Essas pessoas, inocentes dos crimes cometidos pelos
supostos jihadistas que vimos nos noticiários nos três últimos
dias, são as que antecipadamente já pagam o preço, tendo agredidas
suas dignidades e liberdades. Esta é uma cena que tem se repetido
desde, pelo menos, 2001. Soa, ironicamente, como uma grande vitória
dos terroristas.
Hoje
mesmo, mais 7 pessoas morreram em outro atentado em Islamabad, no
Paquistão. Onze haviam morrido ontem, em outra região do país. Uma
bomba explodiu dentro duma mesquita no Iraque – algumas dezenas de
mortos. Você viu isso ser relatado em algum noticiário de onde você
está? Por que não? Por que isso não afeta nossa sensibilidade?
Isso não é uma afronta ao nosso senso de liberdade e dignidade? Não é uma afronta à nossa humanidade?...
Só alguns pensamentos para terminar minha sexta-feira!
+Gibson
Referências:
GANOR,
B. The Counter-Terrorism Puzzle:
a Guide for Decision Makers. New Brunswick: Transaction, 2005.
p.1-24.
HOFFMAN,
Bruce.
Inside Terrorism.
Nova York: Columbia University Press, 1998. p.13-44.
JENKINS,
Brian. International Terrorism:
a new kind of warfare. Santa Monica: RAND, 1974.
NEUMANN.
Peter R.; SMITH, Michael Lawrence Rowan. The Strategy of
Terrorism: how it works, and
why it fails. Nova York: Routledge, 2008. p.1-11.
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