Cara
Rebeca,
Não
tenho nenhuma obrigação em defender minha vida pessoal aqui, mas,
talvez seja importante fazer algumas observações sobre seu
comentário.
Você
comete um grande equívoco quando compra a opinião de outras pessoas de que
o que eu faço aqui seja dar aos meus leitores “licença para
pecar”. Em primeiro lugar, porque não sou senhor das ações de
ninguém. E, em segundo lugar, porque tenho uma enorme preocupação
moral/ética – é só você ler cuidadosamente o que publico aqui.
Questionar
posições morais, historizando suas origens intelectuais, não é o
mesmo que não ter “nenhum princípio moral” ou viver de forma
descompromissada com princípios éticos – sejam esses baseados no
que for. O questionamento que faço – seja em minha vida pessoal,
em minha vida eclesiástica, em minha vida acadêmica ou em espaços
mais “públicos”, como este – é, antes, um exercício de minha
fé na liberdade de consciência que, em termos de minha fé cristã,
equivale à “liberdade do cristão”.
Minha
compreensão da liberdade cristã se assenta em minha herança
teológica; exatamente da mesma forma como a visão de muitos que
discordam de mim. Esses que discordam de minha visão, contudo, não
podem condenar-me com base em minha vida pessoal – primeiro, porque
as pessoas que você cita não me conhecem; segundo, porque elas, de
fato, não têm autoridade para condenar-me.
Eles,
e você, podem imaginar que eu leve uma vida “sórdida” “de
pecado” (expressões que você utilizou) simplesmente porque não
concordam com meus questionamentos acerca de posições morais ditas
tradicionais, mas meus questionamentos intelectuais dizem muito pouco
a respeito de minha própria vida.
Considerando
o contexto da maioria dos que tão prontamente me condenam
publicamente, por conta do que discordam em minhas opiniões, imagino
que – como um cristão liberal – seja muito mais “conservador”
na forma como vivo minha vida do que a maioria dos autoproclamados defensores da "moral conservadora". Questiono a
“moral sexual” da Igreja, mas eu mesmo tenho um rígido código
de comportamento sexual para minha própria vida. Critico a origem da
“moralidade de fronteira” que os evangélicos brasileiros
herdaram dos missionários americanos – com a condenação da
bebida, do cigarro etc –, mas eu mesmo não faço uso dessas
coisas. Como escrevi acima, questionar não é despir-me de minhas
próprias regras morais – a diferença é que estou ciente das
origens dessas regras e não as imponho a outras pessoas; elas são
minhas regras para minha vida pessoal (não são “as regras de
Deus” que devo obedecer inquestionavelmente).
Você
se engana quando diz que eu seja um defensor do aborto. Por exemplo,
não como carne porque sou contrário à ideia de matar um animal
para comê-lo, se posso me alimentar de outra coisa – compreendo o
consumo desnecessário de carne como um envolvimento num ato de
violência não-defensivo. Acredito que a vida seja um dom divino e
que, na maioria das circunstâncias, não devemos interferir para
encerrá-la. Se tenho esse cuidado com outros seres vivos, como
poderia apoiar algo como o aborto?…
Você
nunca pode ter lido nenhum texto meu que defendesse o aborto, e
aqueles que convivem comigo nunca me ouviram defender o aborto em
minha fala. O que você já leu meu a respeito foi um questionamento
da origem de nossas ideias sobre o aborto; ademais, pode já ter lido
minha defesa política do direito da mulher decidir o que faz com seu
corpo – e isso enraíza-se tanto em minha herança teológica
quanto política liberais. Questionar a origem de ideias e a natureza
das leis não é o mesmo que fazer apologia a algo. Nossas visões
sobre o aborto são construções históricas. Mesmo a tradição
cristã herda isso, mais objetivamente, de outras fontes, que não a
Bíblia. Dizer isso, entretanto, não é dizer que eu seja a favor do
aborto.
Seus
argumentos, a propósito, falham gravemente quando tenta condenar o
que pensa que defendo. Que moralidade, afinal, há em condenar o
aborto e ser favorável à pena de morte? A lógica de que “o bebê
é inocente” e um “assassino é culpado de morte, por isso pode
pagar com sua própria vida” é horrenda para mim, teológica,
política e humanamente. E isso, sim, é incoerente, e não o que
digo – considerando que seu julgamento a meu respeito se baseia em
premissas errôneas a meu respeito.
Bem,
seja como for, fico feliz que você tenha me escrito a respeito da
resposta que dei anteriormente. Se tiver mais provocações, estou
aqui!
Grande
abraço! E Paz!
+Gibson
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