O Pai Nosso é uma oração cristã universal. Ela é usada em ofícios de adoração pública no mundo inteiro e é usada nas devoções pessoais de milhões de pessoas. A autoria do Pai Nosso é atribuída a Jesus. Entretanto, parece haver um consenso entre muitos estudiosos de que Jesus não seja a origem desta oração. Alguns consideram a oração como uma modificação do Kadish, uma oração regularmente usada em sinagogas judaicas. Outros afirmam que a forma mais antiga da oração foi composta por uma comunidade de galileus conhecida como o povo Q, entre os anos 40 e 65 da Era Comum. Sua versão do Pai Nosso era algo assim:
“Abba/Pai, Teu nome seja reverenciado, que venha a tua basiléia/reino. Dá-nos o pão que precisamos para hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aqueles que nos devem. E, por favor, não nos submeta a um teste após outro.”
Uma outra versão se encontra no Didaquê, uma coleção de ensinos cristãos de cerca do ano 100 da Era Comum. As duas versões mais familiares estão nos Evangelhos, uma em Mateus 6:9-13 e a outra em Lucas 11:2-4. a versão do Pai Nosso de Mateus é provavelmente a mais usada pelos cristãos, tanto publicamente como individualmente.
A oração começa se dirigindo ao “Pai Nosso que estás no céu”, o que indica ser uma oração de uma comunidade de fé e normalmente usada coletivamente. Quando usada individualmente, o “Pai Nosso” afirma que a pessoa está envolvida com uma comunidade de fé compartilhada. “Santificado seja o teu nome”, que está presente em muitas orações que judeus galileus rezavam regularmente, é uma afirmação de que o nome de Deus deva ser reverenciado como sagrado.
O núcleo da oração é uma série de petições a Deus para fazer o que Jesus proclamou. As primeiras palavras que Jesus falou quando iniciou seu ministério público na Galiléia foram: “O tempo já se cumpriu e o reino de Deus está próximo; arrependam-se e acreditem na boa notícia” (Marcos 1:14). A primeira petição da oração é: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”. O povo da Palestina sabia a respeito de reis e reinos de sua própria experiência. Em 63 antes de nossa era o país tinha sido conquistado por legiões do império/reino romano cujo imperador/rei era César. Se houvesse qualquer dúvida no tocante a seu status, ele era chamado de “o Filho de Deus” e sua imagem estava nas moedas do império. No tempo de Jesus, a Palestina era regida por um rei cliente, leal a César, chamado Herodes Antipas. O povo da Palestina vivia em um reino que tinha sido imposto a eles e era mantido com violência.
A frase “reino de Deus” não se encontra na Bíblia Hebraica. Mas pode-se encontrar a essência de seu significado lá para se entender como Jesus a usava. Quando as tribos de Israel foram libertas da escravidão no Egito e entraram na “terra prometida”, Yahweh iniciou uma aliança com seu povo de que Yahweh seria seu Deus e eles seriam seu povo, obedecendo seu desejo de justiça e compaixão. Na linguagem de então, Deus seria seu rei e eles seriam seus súditos. Por mil anos as tribos resistiram ao governo de reis como aqueles que dominavam os povos vizinhos, por eles acreditarem que isso violaria a aliança que tinham feito com seu Deus. Entretanto, no século XI antes da Era Comum, para que se unisse a confederação de tribos na resistência à invasão dos filisteus, um rei foi escolhido e ungido por Samuel. Saul foi o primeiro rei de Israel, iniciando uma sucessão de reis que duraram até o tempo de Jesus. Com o passar dos séculos, os reis consistentemente falharam em honrar a aliança com Deus de estabelecer uma ordem social justa. Como resposta a esse fracasso, os profetas, começando por Amós, condenaram os reis e ofereceram uma visão de um rei ideal, um ungido, que viria de Deus em algum dia no futuro para estabelecer o reino de Deus de justiça e paz. Como Jesus declarou que o reino de Deus tinha já se iniciado, no contexto do reino de César e Herodes, isso tinha conotações políticas óbvias. Evocava uma visão de uma ordem política onde Deus governava - “seja feita a tua vontade” - tua vontade de justiça, não a vontade de César e Herodes.
A próxima petição do Pai Nosso é “Dá-nos hoje o pão nosso cotidiano”. O reinado romano trouxera prosperidade à Palestina. A terra, entretanto, que era a base de uma economia agrícola, era propriedade de uma pequena elite urbana, talvez dez porcento da população. Cerca de dois terços de sua renda vinham do aluguel e taxação da terra. Noventa porcento da população era de camponeses que trabalhavam em pequenos loteamentos familiares, usavam terras alugadas das elites ou eram jornaleiros (os trabalhadores que tinham um acordo diário de trabalho). Eles recebiam cerca de um terço do lucro de sua produção agrícola. “Dá-nos hoje o pão nosso cotidiano”. Aqueles que viviam ao nível da subsistência e sofriam exploração econômica pediam a Deus a justiça econômica.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, como nós perdoamos nossos devedores”. Os camponeses não apenas tinham dificuldades para produzir o suficiente para suas próprias necessidades, eles frequentemente caíam em dívidas quando não podiam pagar o aluguel da terra ou as taxas cobradas. Quando eles não podiam pagar sua dívida, podiam perder sua terra. Além disso, dívidas não pagas podiam resultar em prisão ou em servidão. Esta petição ressoa com as regras do ano sabático no Código de Santidade encontrado em Levítico 25. no sétimo ano a terra “descansa” e se recupera de sua exploração e os débitos são perdoados. O propósito da cancela de débitos era ajudar a prover comida para os camponeses sem terra e oferecer uma oportunidade de recomeço.
“E não nos tentes, mas livra-nos do maligno”. Orar a Deus pedindo que não nos tente pode soar estranho aos ouvidos modernos (apesar de a tradução mais corrente no português brasileiro dizer: “não nos deixes cair em tentação”), mas as pessoas no tempo de Jesus pensavam que Deus fosse de alguma forma responsável pelo bem e pelo mal. Há o relato familiar de Jesus seno “conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mateus 4:1-11). Não se pode saber se esta petição é geral ou específica. Mas no contexto histórico do Pai Nosso, ao fim das petições, pareceria ser específico. Se o reino de Deus está “entre vós” e a vontade de Deus está sendo feita, os ventos são de mudança. O reino de César está sendo destruído e substituído pelo reino de Deus. Quando César, Herodes e seus colegas descobrissem isso, haveriam uma reação violenta e mortal. Ao confrontar esta força, alguém poderia ser tentado a ou aceitar o status quo da dominação política e da exploração econômica ou se juntar àqueles que estavam respondendo com violência. Se esta interpretação for aceita, estas duas tentações devem ser evitadas. O “maligno” na petição é provavelmente César, já que a oração é concluída com a declaração a Deus “pois teu é o reino e o poder e a glória para sempre. Amém”.
Reis e reinos são palavras arcaicas em nosso mundo. Se rezamos o Pai Nosso e entendemos seu significado subversivo como descrito acima, ele ainda é relevante para nosso mundo? O Professor Dr. Walter Wink parafraseou o Reino de Deus como o “Domínio da Ordem Livre de Deus”. Ele escreve:
“Onde está o reino de Deus? Onde quer que a dominação seja vencida, as pessoas libertas, a alma alimentada, a realidade de Deus é conhecida. Quando é o reino de Deus? Toda vez que as pessoas viram as costas aos ídolos do poder e da riqueza e da fama em favor do domínio de Deus em uma sociedade de iguais. O que é o reino de Deus? É a transformação do Sistema de Domínio em um ambiente não-violento, humano, ecologicamente sustentável, habitável, moldado para permitir que as pessoas cresçam e cresçam bem.” (Walter Wink, When The Powers Fall, página 10).
Dado o empenho humano por segurança, status e realização, o Domínio da Ordem Livre de justiça e compaixão proclamado, ensinado e vivido por Jesus existe como uma visão em tensão com todas as ordens políticas, econômicas e sociais de toda sociedade.
Quando rezamos o Pai Nosso, conjuntamente ou como indivíduos, faz bem lembrar que Jesus viveu as afirmações e petições da oração e foi crucificado pela Ordem de Domínio de seu tempo.
Desculpe-me por está mandando essa mensagem, mais não poderia deixar de dizer que alguém com os seus pensamentos Teológico e moral, é de quem nunca conheceu a graça irresistível, mais vou orar por vc , parce-me que vc é frustrado com alguma denominação ou coisa parecida ,mais se vc é um eleito de DEUS, um dia vc vai se encontrar com o Salvador Jesus, pois salvação só há em Jesus, que Deus tenha misericórdia de vc,
ResponderExcluirCaro Jorge,
ResponderExcluirEu não tenho que dar uma explicação do por quê de minhas opiniões teológicas, assim como não espero que você o faça. Eu não sou frustrado com nenhuma denominação religiosa. Eu sou um cristão unitarista, que se sente muito feliz em minha própria tradição teológica, assim como penso que você deva se sentir muito feliz (?) com sua própria tradição teológica, seja ela qual for.
Como um unitarista eu acredito que todos sejam "eleitos" de Deus, já que, como dizem as escrituras, Deus não faz acepção de pessoas. Deus não está restrito às concepções teológico-doutrinárias limitadas de nenhum de nós. Deus, seja lá como expliquemos essa Realidade, não é egoísta como nós somos. Nós humanos é que costumamos dizer que Deus não aceita esta ou aquela pessoa, que para que elas sejam amadas elas devem se tornar como somos... Eu não acredito nisso. Minha tradição religiosa - o Unitarismo - não ensina isso; eu não ensino isso a meus paroquianos. Então como vê, eu não ensino o amor incondicional de Deus pela humanidade por estar frustrado com minha religião, é exatamente o contrário: é por ser muito feliz com minha teologia que desejo continuar a falar o que falo.
Seja como for, eu agradeço por suas orações, e peço que realmente faça orações por mim e por todos. Eu também estarei orando por sua felicidade. Estarei orando para que possa ver que não precisamos pensar da mesma maneira para sermos amados e aceitos por Deus.
Um grande abraço,
+Gibson